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Morre, aos 99 anos, Charlie Munger, o número 2 de Warren Buffet

Sócio do megainvestidor, ele estava por trás do sucesso da Berkshire Hathaway e era um ferrenho crítico dos excessos corporativos

Charlie Munger - Reprodução/Twitter

Charles Munger, o alter ego, companheiro e número dois de Warren Buffett durante quase 60 anos, enquanto eles transformavam a Berkshire Hathaway de um fabricante têxtil falido em um império, morreu aos 99 anos.

Munger faleceu na terça-feira (29) em um hospital da Califórnia, informou a empresa em comunicado. Ele residia há muito tempo em Los Angeles.

"A Berkshire Hathaway não poderia ter chegado ao seu status atual sem a inspiração, a sabedoria e a participação de Charlie", disse Buffett no comunicado.

Advogado de formação, Munger ajudou Buffett, que era sete anos mais novo, a criar uma filosofia de investimento em empresas a longo prazo. Sob a sua gestão, a Berkshire obteve um ganho médio anual de 20% entre 1965 e 2022 – aproximadamente o dobro do ritmo do índice S&P 500.

Munger era vice-presidente da Berkshire e um de seus maiores acionistas, com ações avaliadas em cerca de US$ 2,2 bilhões. Seu patrimônio líquido total era de cerca de US$ 2,6 bilhões, conforme a Forbes.

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Nas reuniões anuais da empresa em Omaha, no estado de Nebraska, onde ele e Buffett haviam crescido, Munger era conhecido por seu papel de homem honesto e por repreender os excessos corporativos. À medida que a fama e a riqueza de Buffett cresciam - dependendo do preço das ações da Berkshire, ele era ocasionalmente o homem mais rico do mundo - o valor de Munger como uma verificação da realidade também aumentava.

- É fantástico ter um sócio que diga: 'Você não está pensando direito' - disse Buffett sobre Munger, sentado ao seu lado, na reunião de 2002 da Berkshire, acrescentando que muitos CEOs se cercam de "um bando de bajuladores" que não estão dispostos a desafiar suas conclusões e preconceitos.

Por sua vez, Munger disse que Buffett se beneficiou do fato de ter "um interlocutor que sabia alguma coisa. E acho que tenho sido muito útil nesse sentido".

Além do valor
Buffett atribuiu a Munger a ampliação de sua abordagem de investimento para além da insistência do mentor Benjamin Graham em comprar ações por uma fração do valor de seus ativos subjacentes. Com a ajuda de Munger, ele começou a montar o conglomerado de seguros, ferrovias, manufatura e bens de consumo que registrou quase US$ 29 bilhões de lucro operacional nos primeiros nove meses deste ano.

- Charlie sempre enfatizou: 'Vamos comprar empresas realmente maravilhosas' - disse Buffett ao Omaha World-Herald em 1999.

Isso significava empresas com marcas fortes e poder de precificação. Munger incentivou Buffett a adquirir a confeitaria californiana See's Candies, em 1972. O sucesso desse negócio - Buffett passou a ver a See's como "o protótipo de um negócio dos sonhos" - inspirou o investimento de US$ 1 bilhão da Berkshire em ações da Coca-Cola 15 anos depois.

O amargurado Munger freava o entusiasmo de Buffett com tanta frequência que Buffett se referia a ele, em tom de brincadeira, como "o abominável ninguém".

Na reunião de 2002 da Berkshire, Buffett ofereceu uma resposta de três minutos à pergunta sobre a possibilidade de a empresa comprar uma empresa de TV a cabo. Munger disse que duvidava que houvesse uma disponível por um preço aceitável.

"A que preço você se sentiria confortável?" perguntou Buffett.

De Los Angeles, Munger falava frequentemente por telefone com Buffett em Omaha. Mesmo quando não conseguiam se comunicar, Buffett afirmava que sabia o que Munger pensaria, tanto que quando este não compareceu a uma reunião especial de acionistas da Berkshire em 2010, Buffett levou um recorte de papelão de seu parceiro ao palco e imitou Munger dizendo: "Eu não poderia concordar mais".

Munger era um crítico declarado do mau comportamento corporativo, classificando como "dementes" e "imorais" os pacotes de remuneração concedidos a alguns executivos-chefes. Ele chamou o Bitcoin de "veneno nocivo", definiu a criptomoeda em geral como "em parte fraude e em parte ilusão" e alertou que grande parte do setor bancário havia se tornado "um jogo de azar".

"Adoro sua capacidade de ir direto ao ponto e não me importar com a forma como ele diz as coisas", disse Cole Smead, CEO da Smead Capital Management, um investidor de longa data da Berkshire. "Na sociedade de hoje, isso é algo realmente único."