MODA

Grifes brasileiras conquistam celebridades lá fora e puxam exportação da moda brasileira

Beyoncé e Jennifer Lopez são algumas das que já mostraram trabalho de estilista de Minas Gerais

Alta-costura da Fendi brilha com joias e Sara Chraibi ilumina coleção com pedrarias - Alain JOCARD / AFP

As grifes nacionais estão ampliando a presença fora do país, inclusive caindo no gosto de celebridades internacionais. Em setembro, os fãs de Beyoncé foram surpreendidos com um figurino da cantora no Canadá.

As vendas do setor de moda ao exterior superaram US$ 1 bilhão no ano passado. 

O design com franjas de cristais foi confeccionado sob medida para o show pela estilista mineira Patricia Bonaldi. Neste ano, ela já vestiu as cantoras Jennifer Lopez e Camila Cabello, que, aliás, desfilou um figurino da brasileira no tapete vermelho do Grammy em fevereiro.

Outra marca nacional conhecida lá fora é a veterana Farm. Por trás de toda essa visibilidade, dados mostram que a moda brasileira está exportando mais, ampliando a atuação no exterior.

Em 2022, o setor têxtil e de confecções brasileiro exportou US$ 1,14 bilhão (R$ 5,6 bilhões), acima do esperado, puxado sobretudo pelo represamento da demanda por causa da pandemia. Mas, neste ano, as vendas externas devem se manter no patamar de US$ 1 bilhão.

Dona da marca PatBo, Patricia já tinha uma loja no badalado Soho, em Nova York, mas subiu mais um degrau na big apple em setembro, quando inaugurou um showroom na Quinta Avenida, coração de Manhattan.

No início de dezembro, ela abre outro em Miami, num investimento de US$ 1,5 milhão (R$ 7,4 milhões). O clima litorâneo do reduto de endinheirados é uma aposta da marca, que vai dos biquínis aos vestidos de festa, para ampliar os negócios nos EUA. Nos planos, diz a estilista, estão explorar o mercado asiático e construir uma marca global.

No Brasil, a PatBo está em grandes shoppings de 12 capitais e emprega 400 trabalhadores, entre designers, costureiras e bordadeiras. Diante da dificuldade de encontrar mão de obra qualificada, o jeito foi ensinar a costurar e bordar num projeto de capacitação que a marca desenvolve em Uberlândia (MG) há 15 anos, conta a empresária:

"O mercado da moda é muito desafiador. É preciso inovar constantemente, sem perder identidade. A moda brasileira passa por um momento de amadurecimento."

Mércia Moura, dona da grife Marie Mercie, conta que, ao participar da "Coterie Nova York", em setembro, suas peças foram escolhidas pela curadoria do evento para a vitrine principal. O espaço foi disputado por araras de vários países, mas a dela se destacou.

Especializada em camisaria com tecido natural, como algodão e linho, a grife tem peças que chamam a atenção pelo richelieu, uma técnica de bordado recortado, e as rendas. Mércia conta que a fábrica nasceu há 38 anos como alternativa para ampliar renda.

Formada em desenho industrial, ela se dedicava à família e às galinhas da fazenda do marido, que também é produtor de cana-de-açúcar no interior de Pernambuco. Incentivada pela avó costureira e a mãe, ela começou com uma oficina de costura e bordado que montou com mulheres de cortadores de cana na confecção de uma tia.

"Hoje ensinamos até os homens a bordar, quando eles terminam as tarefas na fazenda" contou a empresária, que diz empregar 500 trabalhadores em sua marca.

Há 30 anos, recorda, ela participou da primeira feira de moda fora do Brasil, na Alemanha, levando 12 modelos de camisas brancas. De lá para cá, foram vários eventos do gênero, e a fábrica passou a produzir vestidos, saias e calças. Hoje, exporta para França, Inglaterra, México e EUA.

Outra grife nacional que desponta no exterior é a carioca The Paradise, de Thomaz Azulay e Patrick Doering. O carro-chefe da marca são as estampas coloridas e exclusivas, além de tecidos naturais, como algodão, seda e linho. Outro chamariz é o tamanho da peça, que pode ser customizado sob encomenda.

Chance de crescer
Doering diz que, diante dos efeitos da pandemia no mercado doméstico, viu uma oportunidade de disputar o mercado europeu e investiu num showroom em Milão: "Foi uma forma de expandir nossos negócios, e deu muito certo."

Diretora de Negócios da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e Confecções (Abit), Ana Paula Repessa destaca o impacto positivo que as vendas da indústria da moda podem ter no Brasil. Há 22,5 mil confecções no país, que produzem 8,1 milhões de peças por ano e empregam ao todo 1,34 milhão de trabalhadores. Ela destaca a diversificação crescente no setor:

"A moda brasileira tem muito potencial. As marcas estão procurando confeccionar roupas mais inclusivas, com menos transparência e decotes, para atingir outros públicos."

O estilista Walter Rodrigues lembra que, há duas décadas, o Brasil experimentou uma projeção internacional semelhante, com nomes como o de Alexandre Hercochvitch e Fause Haten em alta lá fora, além da presença magnética de Gisele Bündchen nas passarelas. Mas as marcas não conseguiram manter o movimento. Hoje, diagnostica Rodrigues, a situação é diferente porque muitas grifes nacionais estão estruturadas em grandes grupos, como é o caso da Farm no Grupo Soma. O estilista conta que teve de fechar a marca com seu nome com a entrada de grandes grifes internacionais no Brasil. Hoje, presta consultorias sobre tendências e vê vocações brasileiras em alta: "O trabalho manual passou a ser muito valorizado diante das produções em grande escala por máquinas."

'Custo Brasil'
Para o diretor da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção, Fernando Pimentel, o desempenho do setor poderia ser melhor lá fora. Mesmo com um câmbio favorável, os custos no país tiram a competitividade do setor. Ele acredita que a Reforma Tributária, que ainda depende do aval final da Câmara, pode melhorar o ambiente econômico para a indústria:

"Foram feitas muitas exceções na reforma, ainda não sabemos qual será a alíquota-padrão (do futuro imposto sobre valor agregado, o IVA) diante disso. Mas, de modo geral, a reforma ajuda."