Após apoiar indicação de Zanin, bancada evangélica faz campanha contra Dino no STF
Com 26 senadores, ala religiosa tenta mobilizar votos contrários ao ministro da Justiça
Indicado pelo presidente Lula (PT) ao Supremo Tribunal Federal (STF), o ministro da Justiça Flávio Dino não deve contar com o apoio da bancada evangélica em sua aprovação pelo Senado. A ala religiosa visa dificultar sua chegada à Corte e, nos bastidores, articula uma mobilização para que os parlamentares votem contra sua indicação.
Esta dificuldade não ocorreu em junho deste ano, quando Lula indicou o ministro Cristiano Zanin. Na ocasião, a bancada teve uma série de reuniões com o então advogado, e seus líderes deram aval ao seu nome. Apesar da relação pessoal com Lula, Zanin foi descrito como um homem conservador e católico, digno da confiança entre os evangélicos.
O cenário com Dino, contudo, não é o mesmo. Atualmente com 26 dos 81 senadores, a ala tem sete senadores entre os 27 que compõem a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), onde ocorrerá a sabatina no próximo dia 13. São eles Esperidião Amim, Magno Malta, Flávio Bolsonaro, Otto Alencar, Renan Calheiros, Eduardo Braga e Davi Alcolumbre. Os dois primeiros já sinalizaram voto contrário a Dino e a expectativa é de que questionem Dino duramente neste rito.
Entre os senadores da ala, no entanto, quatro estão na base de apoio do presidente e, por isso, devem votar a favor do ministro da Justiça. Dois deles, Renan Calheiros e Otto Alencar, fazem parte da CCJ e já indicaram ao Globo seu parecer favorável.
Os demais 22 são dados como votos contra o aliado do petista. Para a indicação ser aprovada, é necessário maioria simples, ou seja, 41 votos entre os 81 senadores. A expectativa é de que o ex-governador do Maranhão passe com um placar apertado.
Tido como "comunista" e "radical" pelas lideranças, deputados ouvidos pela reportagem afirmam que não há possibilidade dos evangélicos se reuniram com Dino, apesar de terem sido procurados por seus articuladores.
"Com Dino, o diálogo é impossível. Vamos fazer campanha contra ele. O senador Carlos Viana fará esse trabalho" disse Sóstenes Cavalcante, ex-presidente da ala, em entrevista.
Como parte desta tarefa, a Frente Parlamentar do Senado já fez uma série de reuniões ao longo da tarde desta terça-feira. Além dos evangélicos, a iniciativa consiste em convencer outros senadores de direita a seguirem o mesmo posicionamento. Com grande influência política, o pastor Silas Malafaia, da Assembleia de Deus, garante que este será o maior movimento de resistência contra um indicado ao STF.
"Não apoiaremos comunistas e vamos jogar pesadíssimo. Mesmo que Dino seja aprovado, vamos bater e muito até dia 13. Coitado do deputado ou senador evangélico que faça graça para ele, não vai conseguir se eleger nem sindico de prédio" diz o líder religioso que afirma que a indicação de Dino é "diametralmente oposta" ao de Zanin.
Indicado a Procuradoria-Geral da República também nesta segunda-feira, Paulo Gonet não enfrentará a mesma resistência. Segundo os parlamentares, o procurador eleitoral tem uma postura "moderada" e, por isso, terá seu nome aprovado.