Dezembro Vermelho: mês de combate ao HIV e à Aids celebra, mais que tudo, a dignidade das pessoas
De acordo com a Unaids, existem cerca de 39 milhões de pessoas vivendo com HIV no mundo; no Brasil, são 990 mil
O Dia Mundial de Luta contra o HIV e à Aids, comemorado nesta sexta-feira (1°), faz parte do Dezembro Vermelho, mês dedicado à prevenção nacional contra o vírus e Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs). Em celebração à data, diversas instituições organizam atividades para valorizar as pessoas que vivem com o vírus, que passam por diversos estigmas e preconceitos na sociedade.
De acordo com a Unaids, existem cerca de 39 milhões de pessoas vivendo com HIV no mundo - no Brasil, são 990 mil. Em Pernambuco, segundo o Boletim Epidemiológico de 2022, 30.701 pessoas vivem com o vírus. Uma dessas pessoas é Nance Ferreira, de 43 anos, coordenadora geral do Grupo de Trabalho em Prevenção Posithivo (GTP+), organização não governamental atuante há 23 anos na Região Metropolitana do Recife (RMR), promove ações para o enfrentamento dos estigmas e preconceitos relacionados à doença.
À Folha de Pernambuco, Nance conta que descobriu que possuía o HIV em dezembro de 2002 e que, durante o tratamento, período muito difícil de sua vida, conheceu o GTP+ e as pessoas que faziam parte da instituição. Ainda assim, a luta contra o preconceito acerca da doença é, desde a descoberta, um dos maiores desafios de sua vida.
“Quando eu me descobri como uma pessoa que vivia com o HIV, foi devastador. Eu não sabia nada sobre a temática e o meu companheiro na época estava muito doente. Fiquei sem chão e sem perspectiva nenhuma. Foi um momento em que fiquei sem trabalho, e minha filha mais velha ainda tinha apenas dois anos. Foi um baque muito grande, e ouvi muitos comentários maldosos sobre mim. Alguns amigos se aproximaram, mas muitos se afastaram de mim. Graças a Deus, tive o apoio da minha família”, revelou.
Na época, Nance fazia parte de um grupo de terapia na Policlínica Lessa de Andrade, localizada no bairro da Madalena, Zona Oeste do Recife, onde realizava tratamento. Foi lá que descobriu o GTP+, através de uma apresenção da "Turma da Prevenção", grupo de teatro da organização.
"Estava muito fragilizada, então precisava desse acolhimento, de pessoas olhando por mim. Na época, era feito o Horas Positivas, quando nos sentávamos para desabafar e falar sobre a vivência com o HIV e aquilo foi muito importante para mim. Algumas pessoas viviam com o vírus há 15 ou 20 anos e vê-las me fortaleceu muito. Elas tinham a doença, mas seguiam suas vidas, sociais e políticas, de maneira normal”, completou.
Luta que parte das pessoas
Nessa trajetória de 21 anos como pessoa que vive com o HIV, Nance relembra ainda algumas pessoas especiais nos momentos felizes e tristes de sua vida. Uma delas é Josefa Conceição, uma das fundadoras do GTP+, falecida há três anos, aos 53, de problema neurológico. Em vida, ela serviu como uma espécie de mentora para Nance, desde o primeiro momento de acolhimento, até ela se tornar coordenadora da organzação.
"Josefa foi uma das pessoas mais especiais que conheci no GTP+. Ela me acolheu quando mais precisava e, hoje, consigo perceber que ela estava me preparando para o meu trabalho como coordenadora do GTP+. Por mais que ela não tenha visto isso acontecendo, ela, de alguma forma, estava regando as flores para que elas florescessem e pudessem ser colhidas mais tarde, por assim dizer", explicou.
No Brasil, o Dezembro Vermelho é uma campanha instituída pela Lei nº 13.504/2017, com o objetivo de chamar a atenção para a prevenção, assistência e proteção das pessoas que vivem o HIV. A mobilização também faz alusão aos cuidados que dizem respeito à Aids e outras ISTs. Para Nance, o aspecto mais importante da ação está na valorização e dignidade das pessoas, que lutam por um futuro melhor.
“O Dezembro Vermelho foi criado com o intuito de buscar políticas públicas melhores para pessoas com HIV. É um momento de luta, para se pensar no que temos, queremos e precisamos. O Dezembro Vermelho foi uma das primeiras campanhas com laço, utilizando um da cor vermelha. Hoje temos diversas campanhas do tipo e, mesmo sendo o primeiro, o Dezembro Vermelho não é tão trazido na mídia em geral. Muitas pessoas ainda têm medo de usar o laço para não serem confundidas com pessoas que vivem com o HIV, por conta dos estigmas relacionados ao vírus e à Aids. Então queremos mostrar todas as nossas vivências, estigmas, dificuldades para fazer exames, medicações e luta por avanços na política de Aids", começou.
“Meu sentimento é de muita gratidão. Quero fazer, através do meu trabalho, o mesmo que fizeram comigo, com um acolhimento, trazer para perto, fazer o bem para as pessoas. Do mesmo jeito que acreditaram em mim, no que eu poderia ser além da sorologia, então o que eu quero é deixar a semente, assim como fizeram comigo”, finalizou.
Atividades especiais do GTP+
Com o objetivo de alertar a população sobre a prevenção às ISTs e ao HIV, os personagens Lampião e Maria Bonita em tempos de Aids vão abordar e orientar as pessoas sobre os diversos de métodos de prevenção que podem ser tomados. O evento acontece no Hospital de Referência Oswaldo Cruz, no bairro de Santo Amaro, área central do Recide, nesta sexta (1°), às 10h, no Departamento de Infecto Parasitárias (DIP).
No mesmo dia, também está sendo organizado um Lambidaço no Marco Zero, no Bairro do Recife, área central da capital, às 14h. No evento, serão colados pôsteres educativos sobre a temárica. A programação também conta com um ato na Praça da Independência, também no Centro, às 16h.
No sábado (2), Lampião e Maria Bonita marcam presença no Pátio de São Pedro, no evento do Mercado Afro e no domingo (3), no Sambão do Preto Velho, Alto da Sé, em Olinda, a partir das 15h.
Confira, abaixo, a programação das atividades:
Sexta (1°)
Hospital Oswaldo Cruz – Setor DIP adulto - Recife - 10h
Lambidaço no Marco Zero - 14h
Ato na Praça do Diário de Pernambuco - 16h
Sábado (2)
Pátio de São Pedro – Recife - 14h
Evento Mercado Afro - 15h
Domingo (3)
Sambão do Preto Velho – Alto da Sé – Olinda - 15h