MUSICA

'Convite' de Paul McCartney: presidente do Clube do Choro conta detalhes do show surpresa

Apresentação em Brasília reuniu 300 pessoas; começo 'oficial' da turnê no Brasil é nesta quinta, no Mané Garrincha

Paul McCartney escolheu o Clube do Choro por sua tradição e importância para a cena musical da cidade - MPL Communications

Presidente do Clube do Choro, local escolhido pelo cantor Paul McCartney para o show surpresa em Brasília, Henrique Lima Santos Filho, o Reco do Bandolim, afirma que existe “um clube antes e um depois de Paul”. Em entrevista ao GLOBO um dia depois da apresentação que surpreendeu os fãs, Reco detalha que a produção sigilosa durou dez dias e foi feita 100% pelo time de Paul. Ainda segundo o bandolinista, foi o ex-Beatle que se convidou para o show no local e decidiu manter o palco sem cenografia.

Quando vocês começaram a negociar o show com o Paul McCartney?

Há cerca de 10 dias a produção do Paul fez contato com a gente, dizendo que ele tomou conhecimento da nossa escola e do clube, dos trabalhos que a gente faz aqui e das programações. Ele, por uma decisão pessoal, quis se apresentar aqui.

Então o convite foi dele?

Sim, partiu dele. Ele veio para se apresentar em Brasília no Estádio Mané Garrincha, mas quis fazer uma apresentação surpresa aqui. A produção dele entrou em contato com a gente e na mesma hora aceitamos essa oportunidade maravilhosa, claro.

Como a organização foi feita?

A gestão de tudo ficou por conta deles. Eles ocuparam o espaço do Clube do Choro uns três dias antes do show. É uma equipe monumental… o Paul é um artista que não tem limites em todos os pontos, inclusive na produção. A equipe que chegou aqui era imensa. De repente, vimos na frente do Clube quatro carretas enormes da equipe de som descarregando aquilo tudo. Eles tomaram conta. Eu, mesmo sendo presidente do Clube, fiquei quietinho na minha e deixei eles trabalharem.

O show não teve nenhuma cenografia. Foi escolha dele?

Sim. Ninguém tocou no assunto de painel, nada. Mantiveram o local como é, e eu entendi isso como uma maneira delicada dele de reconhecer o Clube. Ele cantou com o nome do local atrás exposto e ter isso circulando em vídeos não tem preço.

O valor dos ingressos, de R$ 200, foi simbólico se comparado aos outros shows dele. O Clube precisou custear algo?

Não. Todas as equipes, inclusive de segurança e alimentação, eram deles. Também não recebemos nada. Perguntaram se nós queríamos receber o show e respondemos que sim na hora. Eles assumiram toda a gestão e estratégia. Apenas desfrutamos da presença maravilhosa.

Ele impôs alguma condição para fazer o show?

Sigilo absoluto até o dia da apresentação e que 100% da gestão fosse feita pela equipe dele. O sigilo, inclusive, foi bom para evitar confusão e manter a surpresa.

O que a apresentação de Paul McCartney no Clube do Choro significa para você?

Eu me senti muito recompensado por todo o trabalho que estamos fazendo nesses 45 anos. Estamos vivendo um momento novo e especial após uma pandemia que afetou bastante o espaço. O show do Paul é um marco, existe um Clube do Choro antes do Paul McCartney e um depois do Paul McCartney. Esse palco virou sagrado.

O senhor chegou a conversar com o Paul?

Não. Ele está com 81 anos, tem uma turnê em todo o país e é uma pessoa muito requisitada. Conversando com os produtores, percebi que as pessoas o protegem muito, então nem sugeri isso.

Espera que o Clube do Choro receba outros artistas internacionais após o show?

Sim, estou seguro que muitos artistas de fora vão querer se apresentar no Clube do Choro depois do Paul. Hoje de manhã, recebi ligações de conhecidos da Noruega, Dinamarca e Holanda, de Portugal. Vários artistas ligaram para mim, todo mundo ficou encantado.

O senhor é fã dos Beatles?

Sim, com certeza. Foi o primeiro show do Paul a que assisti, nunca imaginei que teria essa oportunidade.

E o que achou?

Quando eu estava assistindo ao show, me lembrei dos anos 60, quando eu era criança, e os Beatles faziam o maior sucesso. Ao mesmo tempo, a sensação que tive foi de recompensa por poder ter o Paul ali, naquele palco.

Pretende homenagear o Paul de alguma forma?

Nós preparamos um arranjo para fazer uma homenagem ao Paul, mas devido ao tempo apertado, não conseguimos apresentar para ele. Pegamos a música mais famosa do Pixinguinha, “Carinhoso”, e juntamos o arranjo ao de “Yesterday”, um sucesso do Paul. Queremos apresentar e esperamos que chegue às mãos dele. Também queremos pendurar um quadro com a foto dele no palco do Clube do Choro no salão.

Como o Clube do Choro surgiu?

O Clube foi inaugurado em 1977 por um grupo de músicos, e por muitos anos funcionou em uma outra sede, que na verdade era um barracão de madeirite. Em 2004, o arquiteto Oscar Niemeyer nos presenteou com o projeto de uma nova sede, que é essa atual. O Governo do Distrito Federal cedeu para nós o espaço, inaugurado em 2012. Desde então, o Clube do Choro fica no mesmo espaço da Escola de Choro Raphael Rabello, a primeira escola de choro do país, formando o Espaço Cultural do Choro.