Conheça o tacacá, prato de origem indígena típico do Norte do Brasil
A editoria Sabores apresenta informações sobre a origem e curiosidades em torno da iguaria
Muito presente na gastronomia do Norte do Brasil - comum no Acre, Amazonas, Amapá e Rondônia - foi no estado do Pará que o tacacá conquistou destaque nacional, graças ao trabalho das tacacazeiras, reconhecidas como Patrimônio Cultural Imaterial dos paraenses.
A editoria Sabores apresenta a origem e as curiosidades em torno desse prato que voltou a ganhar notoriedade graças ao sucesso da canção “Voando pro Pará”, da cantora Joelma, que enaltece a receita, cantada pelo cantor Christian Chávez, do grupo mexicano RBD, durante o recente show do grupo RBD no Rio de Janeiro, para a surpresa dos fãs.
“É uma tradição. Os paraenses e belenenses vão sempre às 17h para as ruas para tomar tacacá - e cada um tem a sua tacacazeira preferida. As pessoas acham diferente que tomar esse caldo quente em uma cidade como Belém, que apresenta altas temperaturas. A gente sua, mas é um suor de prazer pela curtição do prato”, explica a empresária e pesquisadora gastronômica da Amazônia, Maria de Lourdes de Azevedo Barbosa, proprietária da Mercearia Pará, loja e restaurante de produtos paraenses, que fica no bairro de Casa Amarela, Zona Norte do Recife.
O autêntico tacacá
O prato é feito com tucupi e goma, ambos extraídos da mandioca, camarão seco e jambu (nome científico da erva Spilanthes oleracea), também conhecida como agrião-do-pará, agrião-do-brasil, agrião-bravo, agrião-do-norte, erva-maluca, jabuaçu ou jaburana.
“Para a montagem, colocamos primeiro um pouco de tucupi, depois a goma - que é feita com o polvilho, a farinha de mandioca - depois colocamos mais um pouco de tucupi, em seguida, um pouco de jambu, essa erva que dá uma tremidazinha na boca por ter uma propriedade chamada espilantol, que é ativada nas mucosas. Depois, um pouco mais de tucupi (ele vai esquentando todas as camadas de ingredientes). Por último, colocamos os camarões secos e depois mais tucupi até encher a cuia”, ensina Lourdes Barbosa.
O tacacá é sempre servido bem quente em uma cuia que tem como suporte uma cestinha de palha ou uma pequena tigela para ser tomado com mais segurança. Geralmente, o prato leva temperos como sal, chicória, alho e pimenta de cheiro (ou pimenta cumari, que é mais consumida no Pará.
O tacacá na literatura
O dicionário Aulete (s.d.) conceitua o tacacá como “espécie de caldo grosso e picante de tapioca, temperado com tucupi, camarão e pimenta”. Já o Aurélio (s.d.) descreve o prato como “mingau quase líquido de goma de mandioca temperado com tucupi, jambu, camarão e pimenta”. Fernandes, Luft e Guimarães (1997) explicam o tacacá como uma “espécie de mingau de tapioca e camarões, temperado com tucupi”.
Houaiss (s.d.), por sua vez, diz que é um “caldo feito com mandioca, camarões e tucupi, temperado com alho, sal e pimenta, a que se adiciona jambu, erva com propriedade de provocar sensação de formigamento na boca”.
A origem indígena do prato
A criação do tacacá é atribuída às raízes culinárias indígenas. Indícios apontam que o prato é uma variação do mani poi, uma sopa que era consumida pelos povos originários do Brasil muito antes da chegada dos europeus na região.
“No início, os indígenas usavam peixe, camarão e até saúva na receita. O formato que temos hoje não sofreu tantas alterações e segue utilizando as cabaças ou cuias, que são desenhadas ou pintadas”, detalha a pesquisadora Lourdes Barbosa.
O primeiro registro escrito de que se tem notícia sobre o tacacá, remonta ao século XVI, de autoria do padre capuchinho Abbeville em sua descrição das práticas alimentares indígenas (Câmara Cascudo, 2004). A palavra tacacá deriva do nheengatu ou língua geral, o tupi veicular da Amazônia.
Depoimento datado de junho de 1859 do médico e pesquisador alemão Robert Avé-Lallemant (1812-1884) descreve o que provavelmente seja a iguaria. O pesquisador conheceu a vila de Serpa (atual Itacoatiara) e outras localidades da Amazônia, descritas no livro “No Rio Amazonas (1859)”, de sua autoria, traduzida em São Paulo em 1980.
No lago de Serpa, Avé-Lallemant experimentou o tacacá e menciona em seus relatos o termo “cacacá”, como “a bebida nacional dos Mura”, descrita como mingau quase líquido de goma de tapioca temperado com tucupi, jambu, camarão e pimenta. O pesquisador relatou que bebeu “com a maior naturalidade” e achou a iguaria “bem saborosa e nutritiva”.
No dia 12 de agosto de 1859, o viajante alemão deixou Serpa, sua “última parada no Amazonas”, que o inspirou a produzir um trabalho descritivo sobre a paisagem física e humana da região amazônica.
Receita:
Tacacá
(Por Lourdes Barbosa)
Ingredientes:
Goma de tapioca (uma concha)
Tucupi temperado (500ml)
5 camarões secos
Jambu pré-cozido (80g)
Pimenta cumari do Pará a gosto
Modo de preparo:
Para a montagem, em uma cuia, coloque um pouco de tucupi bem quente, depois adicione a goma. Em seguida, inclua mais uma camada de tucupi e depois um pouco de jambu. Depois, um pouco mais de tucupi para ele ir esquentando todas as camadas de ingredientes. Por último, inclua os camarões secos e termine de encher a cuia com tucupi.