Escolha do novo presidente do PSDB consolida retomada de força de Aécio Neves dentro do partido
Escolha consensual de Perillo à sucessão de Eduardo Leite no comando tucano amplia espaço do deputado mineiro
O ex-governador Marconi Perillo (GO) foi escolhido presidente do PSDB, em convenção realizada ontem, numa eleição que consolidou o retorno do deputado federal Aécio Neves (MG) ao papel de protagonista entre os caciques tucanos.
Principal articulador da candidatura de Perillo, com quem tem uma relação de duas décadas — ambos foram contemporâneos como governadores, e seguem alinhados desde então — , Aécio também emplacou aliados em postos-chave da nova Executiva nacional da sigla e se movimenta para assumir ele próprio o Instituto Teotônio Vilela, fundação partidária voltada à formação política de quadros da sigla. Já o novo comandante da legenda, que substitui o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, terá como primeira missão pacificar o partido.
Principal estrela tucana após as eleições presidenciais de 2014, a última em que o PSDB foi competitivo, Aécio viveu uma derrocada paralela à do partido, que viu suas bancadas no Congresso encolherem desde 2018. À época, ele havia se afastado do comando da sigla após ser acusado na Lava-Jato por suposto recebimento de propina da JBS. O caso foi arquivado neste ano pela Justiça Federal com a absolvição de Aécio, que passou a aspirar novos voos. Nesta quinta-feira, após a convenção, ele defendeu que o PSDB tenha candidato ao Palácio do Planalto em 2026 para “conduzir uma alternativa” ao presidente Lula (PT) e ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), e sugeriu que pode disputar o governo de Minas.
— Recebo estímulos todo o tempo, mas não coloco o carro na frente dos bois. Sou mineiro. Vamos dar tempo ao tempo — afirmou.
Perillo foi eleito de forma consensual, após o ex-senador José Aníbal (SP) retirar sua candidatura. Aníbal entrou no páreo na véspera da convenção, após uma conversa com Eduardo Leite, de quem havia se aproximado desde as prévias tucanas de 2021 contra João Doria, seu desafeto. Leite inicialmente quis lançar o ex-senador Tasso Jereissati, que bateu de frente com Aécio durante a crise, como seu sucessor no comando tucano. Sem encontrar apoio a seu plano, concordou em apoiar Perillo, o favorito de Aécio.
No total, dos 214 delegados, 208 votaram na chapa de consenso ao diretório nacional, formada por representantes dos estados conforme seu peso interno. Em acordo, o diretório escolheu Perillo à presidência e outro aliado de Aécio, o deputado federal Paulo Abi-Ackel, para a secretaria-geral. A prefeita de Pelotas, Paula Mascarenhas, aliada de Leite, ficou com a 1ª vice-presidência.
O comando do Instituto Teotônio Vilela, posto cobiçado devido à capilaridade nacional no partido, é alvo de uma disputa entre Aécio e o ex-governador de São Paulo Rodrigo Garcia. A indicação de Garcia foi pactuada pela maioria da bancada do PSDB na Câmara em um aceno ao diretório de São Paulo, berço histórico dos tucanos e hoje fragmentado em várias alas. Diante da pressão de aliados de Aécio, Perillo constituiu um colegiado de quase 30 nomes para tomar a decisão.
Correligionários de Garcia tentam unir o tucanato paulista e os três governadores do partido — Leite, Eduardo Riedel (MS) e Raquel Lyra (PE) — em torno de sua indicação. Aécio, além do diretório de Minas, vem atraindo apoio de outros caciques, como o ex-governador e hoje deputado federal Beto Richa (PR).
— Defendo o nome do Aécio (para a fundação). Rodrigo é capacitado, e também é excelente, mas Aécio é uma referência, tem longa história no partido. É um nome que pesa mais — avaliou.
Assim como Richa e Aécio, que foram fustigados pela Lava-Jato e obtiveram decisões judiciais favoráveis nos últimos anos, Perillo submergiu em 2018, quando perdeu a eleição ao Senado dias após ser alvo da Operação Cash Delivery, que apurava suposto pagamento de propinas da Odebrecht. No ano passado, o Supremo Tribunal Federal (STF) anulou a operação por entender que ela deveria ter tramitado na Justiça Eleitoral. Perillo tentou novamente o Senado, mas não se elegeu. Para interlocutores, a falta de um cargo pesou agora a favor do ex-governador de Goiás, visto como um “tucano raiz” que se dedicará à reconstrução do partido.
Crises internas
Perillo assume um partido em crise e reduzido. No Congresso, são apenas 14 deputados federais e dois senadores — após as eleições de 2014, eram 54 e 11, respectivamente. Em São Paulo, houve uma debandada de prefeitos após os tucanos perderem o governo estadual para Tarcísio de Freitas (Republicanos).
Eduardo Leite deixou de herança para Marconi Perillo a tarefa de resolver divergências no diretório paulista do PSDB. Na véspera de sair do cargo, o governador do Rio Grande do Sul nomeou um aliado para comandar provisoriamente o partido em São Paulo, o que desagradou o grupo de Garcia.