Israel bombardeia Gaza pelo segundo dia após fim da trégua
Cerca de 240 pessoas foram mortas e 650 ficaram feridas desde que a trégua expirou
Israel lançou neste sábado (2) novos bombardeios mortais contra a Faixa de Gaza, no segundo dia de ataques após o fim de uma semana de trégua com o Hamas e apesar da pressão internacional para prorrogar o acordo.
Após os bombardeios, várias colunas de fumaça subiam de Gaza, onde o Ministério da Saúde, governado pelo movimento islamista palestino Hamas, disse que 240 pessoas foram mortas e 650 ficaram feridas desde que a trégua expirou na sexta-feira (1º).
Os dois lados acusaram-se mutuamente pelo fim da trégua na sexta-feira, e Israel acusou o Hamas, organização considerada terrorista por Estados Unidos, União Europeia e Israel, de tentar atacá-lo com foguetes durante a trégua e de não apresentar uma lista de reféns a serem libertados.
"Agora estamos atacando alvos militares do Hamas em toda a Faixa de Gaza", disse Jonathan Conricus, porta-voz das Forças de Defesa de Israel, neste sábado, alegando que o Exército atacou mais de 400 "alvos terroristas" no território palestino desde o fim de o acordo.
O braço armado do Hamas recebeu "a ordem para retomar o combate" e "defender a Faixa de Gaza", disse uma fonte próxima ao grupo que pediu para não ser identificada porque não estava autorizada a falar com jornalistas. Autoridades internacionais e grupos humanitários condenaram a volta dos combates.
O secretário-geral da ONU, António Guterres, disse que lamenta "profundamente" o reinício das hostilidades, em mensagem na rede social X.
Conflagração regional
Os temores por um conflito regional aumentaram depois que o Ministério sírio da Defesa denunciou bombardeios israelenses perto de Damasco.
O Observatório Sírio para os Direitos Humanos(OSDH) afirmou que dois combatentes próximos ao movimente libanês Hezbollah morreram nestes ataques. O Exército israelense não fez comentários.
Antes disso, o Hezbollah, aliado do Hamas, informou a morte de dois de seu membros em bombardeios israelenses no sul do Líbano, onde também morreu um civil.
A guerra começou em 7 de outubro, quando milicianos islamistas invadiram o sul de Israel, matando 1.200 pessoas, a maioria civis, e sequestrando cerca de 240, segundo as autoridades israelenses.
Em resposta, Israel prometeu aniquilar o Hamas e iniciou uma campanha de ataques aéreos e terrestres em Gaza que, segundo o governo do Hamas, deixou mais de 15.000 mortos, a maioria civis.
Desde o início da guerra, 110 reféns foram liberados, 105 graças à trégua. Porém, o Exército israelense afirmou neste sábado que cinco das pessoas sequestradas pelo Hamas morreram e que o grupo mantém "136 reféns, incluindo 17 mulheres e crianças".
O chefe da diplomacia americana, Antony Blinken, declarou que seu país continuará "intensamente focado" em libertar os reféns mantidos em Gaza.
"Filme de terror"
Guterres alertou para uma "catástrofe humanitária" em Gaza onde, segundo a ONU, 1,7 milhão de pessoas foram deslocadas e carecem de alimentos, água e outros bens devido ao cerco de Israel ao estreito território.
O Crescente Vermelho Palestino anunciou na sexta-feira que Israel "informou todas as ONGs e agências" que enviaram ajuda para a passagem de fronteira de Rafah com o Egito que "a entrada de caminhões de ajuda foi suspensa até nova ordem".
"O serviço de saúde está de joelhos", disse Rob Holden, da Organização Mundial da Saúde (OMS), a jornalistas em Gaza. "É como um filme de terror", acrescentou.
Em um leito do hospital Nasser, de Khan Yunis, Amal Abu Dagga chorava, com seu véu coberto de sangue.
"Nem ao menos sei o que aconteceu com meus filhos", declarou.
Na sexta-feira, o Exército israelense publicou em árabe um "mapa de zonas a serem evacuadas". Também começou a enviar mensagens aos celulares dos habitantes de Gaza advertindo para "um ataque militar em sua zona de residência com o objetivo de eliminar a organização terrorista Hamas".