'A cabeça dele é muito fértil', diz Lula após Prates anunciar Petrobras Arábia
Lula diz desconhecer a intenção de ter uma subsidiária da Petrobras no Oriente Médio
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse neste domingo desconhecer a intenção do presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, de abrir uma subsidiária no da companhia no Oriente Médio, a Petrobras Arábia. Em entrevista coletiva em Dubai, Lula afirmou que a cabeça de Prates “é muito fértil”. E que não sabe dizer qual seria o interesse da estatal petrolífera em ter uma filial no Golfo Arábico.
“Primeiro, você deve fazer essa pergunta para o Jean Paul Prates. Você deve fazer a pergunta para ele. Porque eu não fui informado de que a gente vai criar uma Petrobras aqui. Como a cabeça dele é muito fértil, e ele pensa numa velocidade de Fórmula 1 e eu funciono numa velocidade de Volkswagen, eu preciso aprender o que é isso que ele vai fazer”, afirmou, ao ser questionado pelo Valor na coletiva. “Se a Petrobras tem algum investimento para fazer aqui, eu não sei no quê. [...] Eu vou conversar com ele [Prates]. Você [repórter] me deu uma bela informação.”
“A Petrobras, enquanto empresa, vai ter que fazer o que precisar fazer para ela poder se transformar em uma grande empresa e ajudar o Brasil a crescer. Mas, ao mesmo ttempo, a Petrobras vai se transforma numa empresa não de petróleo apenas, mas numa empresa que vai cuidar da energia como um todo”, afirmou Lula, ao deixar o hotel para embarcar rumo a Berlim, última etapa de sua viagem que teve também passagens pela Arábia Saudita e o Catar.
Horas antes, Prates havia dito ao Valor que estuda a possibilidade de inaugurar uma subsidiária da estatal petrolífera brasileira no Oriente Médio. Pelos seus planos, a Petrobras Arábia e terá sede "em local a ser escolhido de acordo com análises e oportunidades".
"Vamos analisar a viabilidade e conveniência de estabelecer uma subsidiária integral no Golfo Arábico: Petrobras Arábia. Sede, objeto e cronograma de implantação serão definidos mediante os procedimentos e instâncias aplicáveis", disse Prates. "Já dissemos que estamos preparando a Petrobras China, do mesmo jeito que temos a Petrobras America."
Lula ponderou que a Petrobras não deixará de prospectar petróleo, mas que se transformará em uma empresa de energia como um todo, não apenas combustíveis fósseis.
Disputa com Silveira
O anúncio pegou não somente Lula de surpresa, como outros integrantes do governo. O ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, com quem Prates já vem se desentendendo há meses, também não estava ciente da intenção de Prates, segundo apurou o Valor.
A interlocutores, Silveira teria afirmado que não vê lógica nessa iniciativa da Petrobras, por fugir da diretriz do governo de fazer investimentos que sobretudo gerem empregos no Brasil.
Segundo esses interlocutores do ministro, a fala de Lula sinaliza que o governo deve vetar a ideia de Prates de criar a Petrobras Arábia.
Em privado, Silveira também celebrou o fato de o presidente ter desautorizado Prates, enquanto endossou o anúncio do ministro de que o país irá aderir à Opep+, grupo de países que atuam como observadores na Opep (Organização dos Países Exportadores de Petróleo).
Na coletiva, Lula voltou a defender o ingresso do Brasil na Opep+, afirmando que o país tentará “convencer” os países da Opep a usar parte dos petrodólares para investir em energias mais limpas.
“Eu acho que é participando desses fóruns que a gente vai convencer as pessoas que uma parte dos recursos ganhos com petróleo deve ser investida para a gente ir anulando o petróleo, criando alternativas. É isso que nós vamos fazer”, disse. “Então, é muito importante. Não tem nenhuma contradição, não tem nada. O Brasil não será membro efetivo da Opep nunca porque nós não queremos. Agora, o que nós queremos é influir.”