Guerra no Oriente Médio

Exército de Israel expande ofensiva no sul de Gaza e ordena retirada de moradores de Khan Younis

Reforço da presença militar nessa área do enclave, que é controlado pelo Hamas, marca o primeiro avanço terrestre em direção ao Rio Gaza, criando uma linha divisória entre norte e sul

Tanque militar israelense passa perto da fronteira com a Faixa de Gaza em 3 de dezembro de 2023 - Menahem Kahana/ AFP

As Forças Armadas de Israel estão expandindo sua ofensiva para o sul da Faixa de Gaza depois do fim de um cessar-fogo de uma semana, afirmando que muitos líderes do grupo fundamentalista islâmico Hamas estão escondidos na região.

O reforço da presença militar israelense nessa área do enclave, que é controlado pelo Hamas, marca o primeiro avanço terrestre em direção ao Rio Gaza, criando uma linha divisória entre norte e sul, e ocorre apesar da crescente pressão internacional para proteger a população civil e retomar a trégua com o Hamas.

O Exército israelense ordenou neste domingo que mais áreas dentro e ao redor de Khan Younis, a segunda maior cidade do enclave, localizada no sul, fossem esvaziadas.

A localidade, assim como Rafah, na fronteira com o Egito, foram alvo de fortes bombardeios durante a madrugada e pela manhã deste domingo, além de partes do norte em que ofensiva israelense ainda não entrou completamente e vê como pontos focais importantes, como Jabalya, Zeitoun e Shejaiyeh.

Em Khan Younis estão abrigadas centenas de milhares de pessoas que fugiram no norte no início do conflito, após ordem de retirada de Israel. James Elder, do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unesco), afirmou à rede britânica BBC que os bombardeios têm sido "implacáveis" com "grandes bombas consistentemente" caindo em diferentes partes do sul.

Elder também relatou que há um "grau de pânico" nunca antes visto no Hospital Médico de Nasser, que descreveu como "zona de guerra".

— [Várias crianças chegam com] ferimentos na cabeça, queimaduras terríveis, estilhaços de bombas de explosões que ocorreram, estimo, na última meia hora — afirmou, acrescetando: — Esse não é uma lugar para crianças se recuperarem, não é um lugar para crianças.

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Mohammed Ghalayini, um especialista em poluição palestino-britânico que chegou a Gaza pouco antes do conflito, em 7 de outubro, disse à BBC que a situação na cidade "supera a catástrofe".

— As pessoas estão, há 50 dias ou mais, resistindo ao brutal ataque israelense com pouquíssimos recursos de comida, água, energia e serviços sanitários e de lixo — disse Ghalayini, que foi a Gaza para uma visita de três meses à sua mãe.

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Do Vaticano, o Papa Francisco instou os dois lados a implementarem um novo cessar-fogo o mais rapidamente possível.

"É triste que a trégua tenha sido rompida, isso significa morte, destruição e miséria", lamentou, em um texto lido em italiano por um de seus assistentes após a tradicional oração do Angelus.

'Crise de deslocamento'
O alto-comissário da ONU para Refugiados, Filippo Grandi, descreveu a situação dos civis em Gaza como uma "crise de deslocamento".

— Os palestinos estão sendo empurrados cada vez mais para um canto estreito do já é um território muito pequeno — disse Grandi na Conferência do Clima de Dubai, a COP28, referindo-se aos cerca de 365 km² do enclave.

O mesmo alerta foi feito pelo alto-comissário da ONU para os Direitos Humanos, Volker Turk, que advertiu que, devido às ordens de retirada emitidas por Israel, "centenas de milhares de pessoas" estavam "confinadas em áreas cada vez menores", afirmando que não há "lugar seguro em Gaza".

O Escritório da ONU para Coordenação de Questões Humanitárias estimou neste domingo que cerca de 1,8 milhão dos 2,2 milhões de habitantes de Gaza estão deslocados internamente, o que corresponde a uma fração de quatro em cada cinco palestinos tendo fugido de suas casas.

A ONU, entretanto, faz a ressalva de que "obter uma contagem precisa é desafiador", já que é difícil rastrear aqueles que fugiram e os que retornaram a seus lares durante o cessar-fogo temporário. Negociada pelo Catar com a ajuda dos EUA e do Egito, a trégua entrou em vigor em 24 de novembro, depois de mais de um mês de guerra, e expirou na sexta-feira, quando o Exército israelense retomou os bombardeios na Faixa de Gaza.

Desde então, as Forças Armadas afirmam ter lançado mais de 400 ataques. Já o Ministério de Saúde do Hamas diz que os ataques dos últimos três dias deixaram quase 200 mortos, elevando para 15.523 o total de mortos, incluindo cerca de 6 mil menores, desde o início do conflito.

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Israel disse que neste domingo que, desde o começo da guerra, lançou cerca de 10 mil ataques aéreos em Gaza e que cerca de 800 túneis foram descobertos, com aproximadamente 500 tendo sido destruídos.

Tanto o Hamas quanto o grupo armado Jihad Islâmica afirmaram neste domingo que lançaram foguetes contra cidades israelenses, incluindo Tel Aviv — a maioria desses projéteis é interceptada pelo poderoso sistema de defesa antiaérea israelense.

Pressão sobre o Hamas
A guerra começou em 7 de outubro, quando terroristas do Hamas invadiram o sul de Israel, deixando 1,2 mil mortos, a maioria civis, e sequestrando cerca de 240, segundo as autoridades israelenses. Em resposta, Israel prometeu aniquilar o Hamas e iniciou uma campanha de ataques aéreos e terrestres.

O ministro da Defesa de Israel, Yoav Gallant, declarou no sábado que as novas ações são necessárias para pressionar o Hamas a libertar os estimados 137 a 149 reféns ainda nas mãos do Hamas. Durante a trégua, cerca de cem foram libertados em troca de 240 presos palestinos.

No sábado, o número dois do gabinete político do Hamas, Saleh al-Arouri, declarou que a libertação do reféns depende da "libertação de todos nossos prisioneiros, após um cessar-fogo total".

Sem questionar o direito de seu aliado à "autodefesa", os Estados Unidos criticaram duramente no sábado as mortes de civis na guerra.

— Muitos palestinos inocentes morreram — disse a vice-presidente, Kamala Harris, na COP28 em Dubai. (Com informações da AFP)