Ciência

7 cientistas brasileiras têm bolsas de R$ 50 mil para investir em suas pesquisas; conheça vencedoras

Programa "Para Mulheres na Ciência" é realizado pelo Grupo L'Oréal no Brasil, Academia Brasileira de Ciências (ABC) e Unesco

Poluição com plástico - Olivier Morin/AFP

Sete cientistas brasileiras receberão uma bolsa-auxílio de R$ 50 mil para desenvolver seus projetos em instituições nacionais de pesquisa durante o próximo ano. O valor faz parte da premiação da 18ª edição do programa “Para Mulheres na Ciência”, iniciativa organizada pelo Grupo L’Oréal no Brasil, pela Academia Brasileira de Ciências (ABC) e pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) para fomentar a participação feminina na ciência e promover a igualdade de gênero.

Os projetos foram selecionados nas áreas de Ciências da Vida, Ciências Físicas, Ciências Químicas e Ciências Matemáticas. Os temas vão desde os impactos nocivos de uma alimentação rica em gorduras e açúcares na infância até a transmissão de vírus entre países como Brasil e Angola. As categorias são julgadas por membros da ABC.

O prêmio será entregue nesta segunda-feira (4), em cerimônia fechada realizada no Centro de Pesquisa e Inovação do Grupo L'Oréal no Brasil, na Ilha do Fundão, no Rio de Janeiro. O programa laureia anualmente mais de 250 jovens cientistas pelo mundo em 110 países por meio das iniciativas regionais e nacionais. A edição internacional concede ainda bolsas de 100 mil euros (cerca de 532 mil reais) para 5 pesquisadores.
 

—Hoje, mais do que nunca, é fundamental garantir ferramentas necessárias e ambientes seguros para todas as mulheres cientistas, além de engajar jovens a enxergarem um futuro possível na ciência. Cada vez mais, sabemos que a ciência tem um papel-chave na solução dos grandes desafios do mundo — diz Cristina Garcia, diretora de Pesquisa Avançada e Comunicação Científica da L’Oréal Pesquisa e Inovação América Latina.

Conheça as vencedoras:

Categoria Ciências da Vida

Flávia Figueira Aburjail

Pesquisadora e professora da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Flávia investiga a presença de bactérias com resistência a antibióticos em diferentes regiões do Brasil, não apenas entre humanos, mas também em animais de produção e no meio ambiente.

O tema é urgente: a resistência antimicrobiana (RAM) – quando microrganismos deixam de ser suscetíveis aos medicamentos – é uma das 10 principais ameaças de saúde pública ao redor do planeta, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS).

O fenômeno é preocupante já que, quando os remédios não conseguem combater os agentes causadores de doenças, o risco de um desfecho mais grave, como um óbito, aumenta.

Jaqueline Góes de Jesus
Jaqueline é professora da Universidade de São Paulo (USP) e ganhou notoriedade recentemente após ter liderado o primeiro sequenciamento genético do coronavírus no Brasil, somente 48 horas após a identificação do primeiro caso da Covid-19 no país, em 2020.

Ela foi reconhecida no prêmio justamente por seu projeto sobre a possibilidade de patógenos serem transportados de um país para outro, como em aviões por pacientes que não sabem estarem infectados.

O tema é de extrema pertinência especialmente após episódios recentes como a disseminação global da Covid-19, a emergência sanitária pela Mpox e a expansão de doenças como dengue e gripe aviária a locais que não viviam surtos das moléstias. Em seu projeto, a pesquisadora vai focar na rota entre Angola e Brasil.

Raquel de Almeida Ferrando Neves
Pesquisadora na Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UFRJ), Raquel estuda o impacto da poluição por plásticos em organismos de ambientes aquáticos, como mexilhões, ouriços e peixes. De acordo com um trabalho publicado recentemente na revista científica Nature Geoscience, até 540 mil toneladas de plástico acabam nos oceanos a cada ano.

O objetivo principal do projeto da pesquisadora é avaliar como essa poluição afeta os serviços ambientais fornecidos pelos sistemas aquáticos e, consequentemente, impactam negativamente a população humana.

Jade de Oliveira
Professora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Jade pesquisa como a alimentação rica em gorduras e açúcares durante a infância gera consequências que vão muito além do ganho de peso, como os impactos no cérebro e no risco para o desenvolvimento de depressão.

Para isso, a cientista pretende estudar as relações entre a alimentação, a microbiota intestinal, também conhecida como microbioma ou flora – população de trilhões de microrganismos benéficos para o organismo que vive no órgão –, e o sistema nervoso. Essas associações têm ganhado cada vez mais atenção, com muitos pesquisadores classificando a microbiota como o “segundo cérebro”.

Categoria Ciências Químicas

Tayana Tsubone
Tayana é professora da Universidade Federal de Uberlândia (UFU) e foi premiada por seu projeto sobre o desenvolvimento de novos remédios para terapias fotodinâmicas, em busca de alternativas para o uso de antibióticos no tratamento de infecções bacterianas.

O objetivo é conseguir compostos com melhores resultados e menos efeitos colaterais, no contexto em que o uso indevido de antibióticos tem sido um dos grandes fatores por trás do crescimento de bactérias resistentes, a RAM.

Categoria Ciências Físicas

Verônica Teixeira
Cientista do Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM), Verônica foi selecionada por um projeto que ajuda a "enxergar" a radiação. Sua pesquisa envolve o aperfeiçoamento da qualidade de cintiladores, materiais que convertem os raios X em luz visível, para avançar no desenvolvimento de novos protocolos terapêuticos.

O objetivo principal é combinar os cintiladores melhorados a fármacos e chegar a novos tratamentos que envolvem luz e localizados de doenças, como para o câncer. O CNPEM é uma das referências no assunto por ser um dos únicos três locais do mundo com um acelerador de partículas de última geração, o Sirius.

Categoria Ciências Matemáticas

Carla Lintzmayer
Professora da Universidade Federal do ABC (UFABC-SP), Carla foi escolhida pelo seu projeto sobre NP-difíceis de Otimização Combinatória. O estudo ajuda a entender quais são os limites do poder computacional e desenvolver técnicas para lidar com problemas intratáveis em aplicações práticas, ou seja, alcançar algoritmos eficientes para questões muito específicas.

De forma prática, são estratégias que podem, por exemplo, ajudar a empacotar itens em caminhões respeitando algumas restrições de entrega e minimizando o número de veículos necessários.