Exposição no Convento São Francisco, em Olinda, traz representações contemporâneas do presépio
A tradição de representar visualmente o nascimento de Jesus completa 800 anos em 2023
Diz o catolicismo que o primeiro presépio foi montado por São Francisco de Assis, em 1223, durante uma viagem a Greccio, na Itália. A tradição natalina de representar visualmente o nascimento de Jesus completa, portanto, 800 anos em 2023. Para celebrar o jubileu, o Convento São Francisco de Olinda inaugura nesta terça-feira (5), às 18h, a exposição “Esperançar: Presépios na pintura contemporânea”.
Em cartaz até 31 de janeiro, a mostra coletiva reúne peças de 28 artistas, amadores e profissionais, que fazem parte do Atelier Ploeg. São obras inéditas, produzidas recentemente, especialmente para a ocasião, e utilizando técnicas diversas. A maioria é de pintura em óleo sobre tela e acrílico sobre tela, mas também há três trabalhos com colagem e um trabalho também feito a partir de entalhe em madeira.
“O convite [para a exposição] foi feito pela comunidade franciscana, por meio do Frei César Lindemberg [guardião do convento] aos alunos do curso de pintura. A turma aceitou e começamos, há cerca de dois meses, a pensar de que maneira poderíamos compreender e representar o presépio hoje em dia”, conta Roberto Ploeg, pintor e teólogo holandês radicado no Brasil desde 1979.
Desde que se espalhou pelo mundo, a arte do presépio assumiu diferentes formas e expressões, de acordo com o contexto histórico e cultural no qual estivesse inserido. Na mostra de Olinda, cada artista participante - incluindo o próprio Ploeg - faz sua leitura pessoal da cena do nascimento de Cristo.
“Algumas pinturas ficaram próximas à comemoração dos 800 anos do presépio e à figura de São Francisco, com ele presente na tela, ou tendo a imagem do Convento no cenário”, aponta. Outras obras buscam representar a repercussão violenta dos conflitos entre Israel e o Hamas, que já levou à morte de milhares de pessoas.
“O acontece hoje nos remete à narrativa bíblica. O poder colonizador fez Maria e José se colocarem a caminho de Belém. Maria dá à luz sob a permanente ameaça da matança dos primogênitos por Herodes. É o que vemos hoje em dia, com mais de 6 mil crianças mortas nessa guerra. Diante de tudo isso, para onde ir? A Bíblia fala da fuga para o Egito e, no sul de Gaza, talvez, a única possibilidade de sobreviver seja essa também. Você nota como é atual a história que os evangelhos nos contam?”, questiona.
A cena do nascimento de Cristo foi transposta para um contexto brasileiro, marcado pela exclusão social, em diversas obras presentes na exposição. Pessoas em situação de rua, indígenas, nordestinos e trabalhadores ocupam os lugares de Maria, José e os Reis Magos nessas representações.
“Natal é celebração de vida nova. O título da exposição trouxe o neologismo de Paulo Freire, que é ‘esperançar’, e vários quadros expressam isso: o momento do nascimento, que é também a possibilidade de paz entre os povos. É o sonho da gente poder conviver como irmãos nesta terra”, diz. Parte da renda arrecadada com a mostra será destinada para a manutenção do Convento São Francisco de Olinda, que é o primeiro convento franciscano do Brasil, fundado em 1585.
Serviço:
Exposição “Esperançar: presépios na pintura contemporânea”
Abertura nesta terça-feira (5), às 18h; visitação de amanhã até 31 de janeiro, de segunda-feira a sábado, das 8h às 11h30 e das 14h às 16h30
No Convento São Francisco de Olinda (Rua de São Francisco, 280, Carmo, Olinda)
Entrada: R$ 5
Informações: (81) 3429-0517