Exposição "Esperançar: Presépios na pintura contemporânea" abre suas portas em Olinda
A mostra reúne trabalhos de 28 artistas, representando a histórica cena do nascimento de Jesus Cristo, e ficará em cartaz no Convento São Francisco de Olinda até 31 de janeiro de 2024
Uma das mais antigas tradições natalinas, a montagem de presépios completa 800 anos neste 2023. Segundo o catolicismo, data de 1223 a primeira representação visual do nascimento de Cristo, pelas mãos de São Francisco de Assis, durante uma viagem sua a Greccio, na Itália.
Ao longo de oito séculos, diversas foram (e continuam sendo) as formas de contar o mistério da Encarnação de Jesus na Terra. Diferentes contextos históricos, geográficos, sociais, culturais e religiosos influem na maneira como cada povo ou artista/indivíduo reproduz esse momento tão representativo para a História da humanidade.
Um recorte atualizado de obras que retratam os presépios natalinos está em cartaz no Convento São Francisco de Olinda. A exposição “Esperançar: Presépios na pintura contemporânea” apresenta peças de 28 artistas que integram o Atelier Ploeg, e ficará aberta à visitação até 31 de janeiro de 2024.
Olhares sobre o nascimento de Cristo
A mostra é composta por obras inéditas, criadas durante dois meses, especialmente para a exposição, que conta com a curadoria do pintor e teólogo holandês Roberto Ploeg, a convite da comunidade franciscana.
"Por causa desse jubileu, de séculos, o frei César [Lindemberg] convidou a nossa turma de alunos do curso de pintura do Atelier Ploeg para representar cada artista, do seu próprio jeito, com sua própria interpretação do evento natalino, em artes visuais", conta Ploeg.
Há pinturas em óleo ou acrílico sobre tela, trabalhos em colagem e um feito em entalhe de madeira. Cada obra traz a leitura particular do artista sobre a cena do nascimento de Cristo. "Muito interessante de perceber a caligrafia, o estilo de cada um desses artistas".
Cada uma das 28 obras tem uma leitura própria do nascimento de Cristo. Muitas delas trazem o evento para o tempo/espaço de hoje. Algumas evidenciam traços de crítica social, referências à desigualdade e à pobreza na qual Jesus nasceu.
A artista plástica Tereza Perman, em sua obra "Resta uma esperança", retratou Maria, José e Jesus como uma família de indígenas. "Eu comecei buscando referências dos presépios tradicionais, mas eu queria fazer algo com nosso povo originário. Nós somos miscigenados, mas eu acho que a representação de um presépio brasileiro tinha que ser do povo indígena. Então, eu fui atrás de referências desse povo", conta Tereza.
Olinda, pioneira no Brasil
O Convento São Francisco de Olinda foi o primeiro templo da ordem a montar um presépio no Brasil. "Em 4 de outubro [Dia de São Francisco de Assis] de 1585, os frades chegam nesse convento, e no Natal de 1585, o Frei Gaspar [de Santo Agostinho] cria o primeiro presépio do Brasil. Então, é de Olinda que se espalha toda essa devoção do presépio", conta o frei Cézar Lindemberg, guardião do convento olindense, que fez o convite a Ploeg e seus alunos para montar a exposição.
"Eu não quis castrar os artistas, mas coloquei uma possibilidade de que todos os presépios tivessem uma alusão a como Jesus viria à nossa realidade, hoje. Outrora, ele veio no meio dos mais empobrecidos, os pastores, os camponeses. E hoje, nós temos as mais diversas realidades em que os artistas usaram sua criatividade, de Jesus que vem numa realidade no meio da guerra, no meio dos empobrecidos, no meio das pessoas em situação de rua, então essa seria realmente a realidade que Jesus viria aqui", diz o frei.
"A teologia franciscana vai dizer que Deus envia o seu filho por amor, e nada mais do que, nos dias atuais, precisamos de amor, de paz, de esperança. Então, é preciso esperançar. Eu acho que é o verbo desse tempo, o verbo de esperança para tantas pessoas que necessitam de Deus", finaliza.