Bebê nascido do óvulo de uma mulher e gerado no corpo de outra tem o DNA das duas mães? Entenda
Esse será o caso de um futuro bebê da cantora Ludmilla e da bailarina Brunna Gonçalves, que vão fazer uma gestação compartilhada por meio da fertilização in vitro
As normas éticas para a utilização de técnicas de reprodução assistida no Brasil permitem que casais homoafetivos tenham filhos biológicos, caso queiram. Quando duas mulheres desejam ser mães e optam pela fertilização in vitro (FiV), o procedimento é chamado de gestação compartilhada. Diante disso surge um questionamento: o bebê terá o DNA das duas mães?
Em entrevista ao “Fantástico”, a cantora Ludmilla e a bailarina Brunna Gonçalves anunciaram que pretendem engravidar. Elas vão se utilizar da FiV, por meio da técnica de gestação compartilhada. Segundo a assessoria de imprensa da cantora, a princípio, será Brunna quem vai gestar o bebê.
De acordo com a resolução do Conselho Federal de Medicina (CFM) sobre as normas éticas para a utilização de técnicas de reprodução assistida, a gestação compartilhada é a “situação em que o embrião obtido a partir da fecundação do(s) oócito(s) de uma mulher é transferido para o útero de sua parceira”. Ou seja, o óvulo de uma das mulheres é fecundado com o espermatozoide de um doador e colocado no útero da outra para dar continuidade na gravidez. É chamada de gestação compartilhada justamente porque ambas participam ativamente do processo.
No entanto, a criança que será gerada carregará apenas o material genético (DNA) da mãe que cedeu o óvulo e do doador do espermatozoide, explica o médico geneticista Salmo Raskin, doutor em Genética pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), diretor do Centro de Aconselhamento e Laboratório Genetika, em Curitiba, e presidente do Departamento de Genética da Sociedade Brasileira de Pediatria.
— Em termos de material genético, terá apenas o da mãe que cedeu o óvulo. No entanto, será filho biológico das duas — afirma Raskin. — Para muitas pessoas, genético e biológico são sinônimos, mas não são.
De acordo com o especialista, apesar de a mãe que vai gestar não passar seu material genético para a criança, o ambiente uterino dela pode determinar alguns traços da criança. É a chamada epigenética, estudo que descreve acontecimentos moleculares que ocorrem no DNA de uma pessoa, mas que não afetam a sequência de DNA.
O DNA é composto por vários genes que são ativados ou desativados de acordo com o ambiente. Isso ocorre não apenas durante a gestação, mas também em todas as etapas da vida. A frase “você é o que você come” é um bom exemplo. Uma alimentação saudável e balanceada proporciona a uma criança um bom desenvolvimento físico e mental, além de ajudar na aprendizagem. Uma má alimentação — ou até mesmo a desnutrição — na infância, por outro lado, impactam negativamente nesses aspectos.
Portanto, num caso de gestação compartilhada, a mãe que vai gestar, apesar de não influenciar diretamente no DNA de seu filho, pode contribuir ativamente para a saúde e outros fatores do corpo dele. Por isso, o papel de ambas as mães é importante neste tipo de fertilização in vitro.