EDUCAÇÃO

Pisa 2022: Estudo mostra que alunos mais ansiosos aprendem menos matemática

De acordo com o programa, estudantes que acreditam não conseguir evoluir na disciplina também apresentaram notas mais baixas

Divulgação

A matemática não costuma ser a melhor amiga dos estudantes, mas de acordo com o Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa) 2022, ela não só é inimiga de muitos, como provoca ansiedade em alunos do mundo todo.

De acordo com a pesquisa, que analisa a qualidade de ensino em 81 países, os estudantes com melhor desempenho em matemática apresentam, em média, níveis mais baixos de ansiedade em relação à disciplina.

Segundo os dados levantados pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento (OCDE), responsável pelo programa, os efeitos desta ansiedade em relação à matemática foram constatados pela primeira vez na edição realizada em 2012. As conclusões se repetiram no Pisa 2022. Em todos os sistemas educacionais examinados nesta edição, foi notada uma associação entre o medo da matemática e resultados negativos na prova.

Resultados variam
Para medir a ansiedade dos alunos em relação à matemática, o Pisa 2022 perguntou aos jovens se concordavam ou discordavam, em diferentes níveis de intensidade, com seis afirmações, que abordaram características do dia a dia dos estudantes com a disciplina, em relação às aulas, deveres de casa, provas e aprovação ao final do ano escolar.

As perguntas foram:

"Muitas vezes me preocupo se as aulas serão difíceis para mim";

"Tenho medo de tirar notas baixas em matemática";

"Fico muito tenso quando preciso fazer lição de casa de matemática";

"Fico muito nervoso resolvendo problemas de matemática";

"Sinto-me impotente ao resolver um problema de matemática";

"Sinto-me ansioso ao pensar que posso ser reprovado em matemática".

Independentemente das características e condições socioeconômicas dos alunos e das escolas, a matemática se comprovou uma fonte de ansiedade. Quanto maiores os níveis médios de ansiedade, pior a nota do país na disciplina. As diferenças internacionais no índice são responsáveis por cerca de 25% da variação de desempenho em matemática em todos os participantes do Pisa 2022.

De acordo com as informações fornecidas pela pesquisa, a maioria dos países com os níveis mais altos de ansiedade — acima de 0,5 — estão na América Latina. Todos têm condições socioeconômicas menos favoráveis e registraram desempenhos abaixo da média na OCDE em matemática. Dentre eles, estão o Brasil, Argentina, Colômbia, El Salvador, Turquia e Camboja.

Por outro lado, os níveis mais baixos de ansiedade tendem a ocorrer em países cuja pontuação média em matemática está acima da OCDE, além de apresentarem, em sua maioria, melhores condições socioeconômicas. Dentre eles, estão países com economias desenvolvidas, como Dinamarca, Holanda, Estônia e Reino Unido.

 

No entanto, os países do Leste Asiático que conquistaram as melhores notas do programa na disciplina também apresentam índices elevados de ansiedade. Os alunos de Hong Kong, Japão, Macau e Taipei são bem mais ansiosos que a média. Apenas Coreia e Singapura registraram níveis inferiores ou similares à média global.

O que causa essa ansiedade?
A pesquisa abordou a ansiedade como uma característica multidimensional, que pode ter sua fonte em diversos fatores. O sentimento pode surgir a partir de componentes cognitivos, questões socioeconômicas, como também pode estar ligada à maneira como os sistemas educacionais abordam a disciplina ao redor do mundo. Segundo o programa, observar a ansiedade como algo multifacetado pode auxiliar os países e profissionais a compreender o fenômeno e pensar em soluções mais eficazes.

O Pisa 2022 afirma que mais pesquisas são necessárias para compreender como esses fatores individuais e outras dimensões culturais interagem e podem afetar diferentemente o desempenho dos alunos em matemática no programa.

Como acalmar os alunos?
De acordo com o programa, a pesquisa sugere que, além de um melhor treinamento em matemática, sejam aplicadas atitudes positivas em relação à disciplina e sua aprendizagem. Tal comportamento pode ajudar os estudantes a reduzir seus níveis de ansiedade e, por consequência, melhorar as notas.

O Pisa 2022 sugere a implementação de uma mentalidade construtiva nas escolas, que conduz a crença de que as habilidades e a inteligência de uma pessoa podem ser desenvolvidas ao longo do tempo. Tal filosofia, de acordo com a OCDE, poderia provocar uma mudança de mentalidade nos jovens, para que enxerguem a habilidade matemática como uma característica que pode ser adquirida.

Como é a mentalidade dos alunos hoje?
O Pisa 2022 perguntou aos alunos se eles concordavam ou discordavam com a afirmação: “Sua inteligência é algo em você que você não pode mudar muito”. Os resultados mostram que os alunos que relataram ter uma mentalidade construtiva — que discordaram da frase— têm menos ansiedade matemática do que os alunos com mentalidade fixa — que concordaram —, em média, em 42 dos 73 economias participantes. Além disso, jovens que relataram ter uma mentalidade construtiva obtiveram melhores resultados em matemática do que os alunos com mentalidade fixa em 57 países avaliados.

Ao final da avaliação, os alunos que estavam mais ansiosos com a matemática obtiveram melhores resultados matemática caso relatassem ter uma mentalidade construtiva (461 pontos), ao invés de uma mentalidade fixa (443 pontos).

Da mesma forma, os alunos que estavam menos ansiosos em relação à matemática tiveram melhores resultados ao apresentarem uma mentalidade construtiva (523 pontos), ao contrário dos que demonstraram uma mentalidade fixa (500 pontos).