Indicações a vices da Caixa seguem travadas um mês após troca no comando do banco
Dificuldade de consenso entre partidos que negociam vagas com o governo tem emperrado as nomeações
Passado um mês desde que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva decidiu trocar o comando da Caixa Econômica Federal para atender ao presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), as indicações para as 12 vice-presidências estão travadas.
A demissão de Rita Serrano e a indicação de Carlos Vieira para a vaga é parte de uma negociação política para lotear os cargos com os partidos que compõem o Centrão. A lentidão tem o potencial de provocar novos contratempos com o Congresso.
Segundo interlocutores próximos às discussões, ficou acertado que Carlos Vieira teria uma cota de duas vice-presidências, Rede de Varejo e Riscos. Além disso, pelo acordo, seria mantida Inês Magalhães, vice-presidente de Habitação, apoiada pelo PT e pelo ministro das Cidades, Jader Filho, do MDB. Na vaga destinada à Rede de Varejo, o nome herdado da gestão de Rita Serrano já foi dispensado, e no momento há um interino no posto.
Lira ficaria com a maior cota para contemplar correligionários e aliados, especialmente o Republicanos. Ele também pode atender PSD, PDT e União Brasil para costurar a composição política. O nome preferido do PDT, por exemplo, segundo interlocutores do partido, é o do ex-deputado Wolney Queiroz, hoje secretário-executivo do Ministério da Previdência.
A demora nas indicações estaria ligada a dificuldades para encontrar nomes que, ao mesmo tempo, atendam às exigências do estatuto e tenham apoio político, além da equação complexa de agradar a uma gama ampla de partidos. Há uma orientação para que a nova chefia da Caixa dê preferência a funcionários de carreira do banco, mas para cargos da alta governança do banco há necessidade de endosso político.
Diante da exposição das vagas e da pressão do Centrão pela saída de Rita Serrano, pessoas envolvidas nas negociações afirmam ainda que há necessidade de encontrar nomes que tenham traquejo para lidar com o Executivo e os parlamentares, mas mantendo o banco longe de escândalos, como os que já vieram à tona no passado após investigações da Polícia Federal e do Ministério Público Federal.
O estatuto do banco impõe amarras como conhecimento e experiência no setor financeiro. Pelas regras internas, é obrigatória a indicação de funcionários de carreira até os cargos de direção. Já a presidência e vice-presidências podem ser ocupadas por executivos de fora.
Desde que tomou posse no início de novembro, o novo presidente da Caixa abriu seleção apenas para as vagas de diretor jurídico e para corregedor.
A demora, segundo um técnico do banco, traz insegurança. O clima no banco é de apreensão, segundo este interlocutor; Carlos Vieira falou diretamente com os funcionários somente uma vez, após assumir a função.
Pacote pró-centrão
Além da cúpula, a troca de comando da Caixa abre espaço para mudanças em cerca de 100 cargos, incluindo diretorias e superintendências em todo o país.
A chegada de um nome com respaldo do Centrão à presidência da Caixa faz parte de um pacote que incluiu também as entradas de PP e Republicanos no primeiro escalão do governo. Os deputados André Fufuca (PP-MA) e Silvio Costa Filho (Republicanos-PE) assumiram, respectivamente, os ministérios do Esporte e de Portos Aeroportos com a missão também de pacificar a relação de suas bancadas com a gestão petista. Há ainda na pauta deste ano do Congresso projetos que o governo considera prioritários pela capacidade de arrecadação, como as mudanças em benefícios fiscais oriundos do ICMS, com previsão de R$ 35 bilhões a mais nos cofres da União.