Secretário de Segurança do Rio compara ação de 'justiceiros' da Zona Sul às milícias
Em redes sociais, há convocação de grupos de lutadores de jiu-jitsu nas redes sociais para atacar suspeitos de cometerem crimes
O secretário de Segurança do Rio, Victor Santos, comentou sobre convocação de grupos de lutadores de jiu-jitsu nas redes sociais para atacar suspeitos de cometerem crimes na região da Zona Sul. O secretário, que assumiu a pasta há pouco mais de uma semana, afirmou que os grupos de "justiceiros" que prometeram atuar contra a ação de assaltantes em Copacabana também são criminosos. Em entrevista ao Estúdio I, da GloboNews, ele comparou os grupos a milícias e grupos de extermínio:
" É um grupo que se acha acima do bem e do mal que se acha no direito de fazer justiça com as próprias mãos. Praticam crimes com o objetivo de evitar crimes. Na verdade, são todos eles criminosos. O justiceiro é criminoso", afirmou Santos.
Na noite desta terça-feira, começaram a circular mensagens, em redes sociais, sobre a ação dessas pessoas. Isso acontece depois de o empresário Marcelo Rubim Benchimol ter sido agredido em Copacabana, na noite do último sábado, ao tentar ajudar uma mulher que estava sendo assaltada. A Polícia Civil do Rio investiga a atuação desses grupos.
Vitor Santos disse que irá se reunir com os secretários de Polícia Civil e Militar para definir novas diretrizes, mas disse que o efetivo policial em Copacabana não será aumentado.
— Não temos essa previsão. A tecnologia é que vai funcionar para que a gente possa fazer o melhor uso do recurso humano que já existe — disse.
O secretário afirmou ainda que a tecnologia, tanto nas câmeras de segurança ou com vídeos gravados pela população, é fundamental:
"Por isso a gente fica tocando nessa tecla. A maioria das câmeras que a gente assistiu são de câmeras de segurança ou de pessoas que estão filmando e fazendo sua gravação. Isso dá uma celeridade muito maior", avaliou.
Segundo o secretário, o monitoramento da ação dos grupos que atuam na região é "ativo e reativo":
"A polícia militar pode fazer uma abordagem de proximidade. Isso também é prevenção", disse Victor Santos.
Sobre abordagens em ônibus vindos de outras regiões da cidade, o secretário descartou a medida como já foi feita em 2015.
"A praia é um lazer democrático. Achar que temos que fazer uma ação de repressão, sem nenhuma técnica, nenhum dado, pode parecer preconceituoso. Segurança Pública é para todos", disse.
Sobre o uso de câmeras corporais pela Polícia Militar, Santos disse em entrevista à CBN que a meta é instalar o equipamento, inclusive, nos batalhões especiais.
"A tecnologia tem que andar junto com a política de segurança pública. Sem tecnologia, a gente não consegue andar muito rápido.
Diligências para identificar grupos
Sobre os grupos, a Polícia Civil informou que "diligências estão em andamento para identificar os envolvidos e esclarecer os fatos". Já a Polícia Militar afirmou que equipes da corporação atuam nas ruas da Zona Sul e prenderão em flagrante qualquer envolvido em crimes e será realizada uma reunião com moradores, nesta quarta-feira, para desarticular "possíveis ações que fujam da legalidade".
As mensagens que circulam nas redes afirmam que uma das ações dos grupos ocorreu em Botafogo. Dezenas de pessoas teriam se concentrado em frente a um shopping. Em vídeos compartilhados, é possível ver o grupo, com todos vestidos de preto, andando num canteiro divisor de pistas. Os integrantes tapam os rostos para não serem identificados.
Há relatos, ainda, de ações semelhantes em Copacabana. A PM informou que policiais do 19º BPM (Copacabana) viram, nesta terça-feira, um grupo seguindo para o bairro que, de acordo com dados de inteligência, atacaria suspeitos de cometerem crimes na região. Com a aproximação das equipes, as pessoas se dispersaram.
A Polícia Militar afirmou, ainda, que "vem aplicando esforços para reduzir os índices criminais, incluindo o furto a estabelecimentos comerciais e pessoas". A corporação destacou que Copacabana recebe policiamento do batalhão da área, das Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs), do Bairro Presente e de agentes do programa Segurança Presente. De acordo com a corporação, a região também recebe apoio no policiamento da Operação Verão com unidades do Comando de Operações Especiais (COE) e do Comando de Policiamento Especializado (CPE).
A PM informou ainda que o comando do 19º BPM também trabalha com a Polícia Civil com o objetivo de identificar os envolvidos em tais ações. Somente no bairro de Copacabana, nos últimos dez dias, o batalhão encaminhou quase 150 pessoas para a delegacia da região e 58 foram conduzidas para abrigos municipais.
Quatro pessoas foram presas e seis menores, apreendidos. Onze facas foram encontradas com suspeitos.
Agressão em Copacabana
Benchimol havia saído de cada no início da noite do último sábado para ir à academia. Enquanto caminhava pela calçada na Avenida Nossa Senhora de Copacabana viu uma mulher sendo abordada por um grupo de criminosos e decidiu ajudá-la.
— Pensei: “Ou eu fujo ou eu ajudo ela”. Optei por ajudar. E aí começou a pancadaria, até me desvencilhei, mas depois, por último, veio um rapaz e me deu um soco por trás. Eu estava de óculos, e os óculos enterraram no meu olho, e desmaiei. Só fui acordar na UPA, graças a dois bons policiais que me ajudaram — contou ele.
A agressão contra Benchimol foi flagrada por câmeras. As imagens mostram a vítima sendo agredida com um soco e caindo desacordada. É possível ver quando a mulher é cercada na calçada por um grupo de suspeitos e o homem intervém. Além do soco, ele levou chute e empurrões.
Ação em 2015
Em setembro de 2015, uma equipe do Globo flagrou uma ação de um grupo que se reuniu na Avenida Nossa Senhora de Copacabana. Pelo menos dez pessoas, que seriam moradores da região, cercaram um ônibus que estava voltando da praia e quebraram a socos os vidros do coletivo. O objetivo era agredir jovens que estavam no veículo. Na ocasião, houve tumulto e correria. Policiais foram acionados para o local, dispersam a confusão e evitaram um linchamento. A cena ocorreu num domingo após um sábado em que foram registrados arrastões em ruas da Zona Sul.
O ônibus cercado era da linha 474 (Jacaré-Jardim de Alah), que estava lotado. Algumas pessoas que estavam no coletivo saltaram por uma janela quebrada. Na época, a Polícia Civil abriu uma investigação sobre o grupo cercou o veículo, mas ninguém foi preso.