Países do Mercosul alertam para ''ações unilaterais'' e pedem diálogo a Venezuela e Guiana
Comunicado, também assinado por Chile, Colômbia, Equador e Peru, afirma que 'América Latina deve ser um território de paz'
Ao final da cúpula presidencial do Mercosul e países associados, realizada no Rio de Janeiro, lideranças de Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai, membros do bloco, além de Chile, Colômbia, Equador e Peru, emitiram um comunicado no qual expressaram a "profunda preocupação com a elevação das tensões” entre a Venezuela e a Guiana, e alertaram sobre "ações unilaterais que devem ser evitadas”.
O texto chamou atenção por ser mais curto do que o esperado, e por não ter sido assinado pela Bolívia, oficializada como novo membro do Mercosul.
"A América Latina deve ser um território de paz e, no presente caso, trabalhar com todas as ferramentas de sua longa tradição de diálogo", diz o texto. "Nesse contexto, [os países signatários] alertam sobre ações unilaterais que devem ser evitadas, pois adicionam tensão, e instam ambas as partes ao diálogo e à busca de uma solução pacífica da controvérsia, a fim de evitar ações e iniciativas unilaterais que possam agravá-la."
A minuta foi proposta pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva durante a abertura do encontro.
— Uma coisa que não queremos na América do Sul é guerra — disse Lula sobre a disputa. — Estamos acompanhando com crescente preocupação o desdobramento relacionado à questão do Essequibo. O Mercosul não pode ficar alheio à situação. Por isso queria submeter à consideração de vocês a minuta de declaração dos Estados Partes do Mercosul sobre essa controvérsia acordada pelos nossos chanceleres.
Havia a expectativa de que os representantes do bloco e os países convidados se manifestassem sobre o tema ao longo do dia, mas nenhum comentário foi feito. Questionado ao final do evento, Lula também se recusou a falar sobre a disputa pela região do Essequibo.
À imprensa, o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, disse que o assessor-chefe para assuntos internacionais da Presidência da República, Celso Amorim, se reuniu com o presidente venezuelano, Nicolás Maduro, há 10 dias. Vieira, no entanto, não deu detalhes sobre o encontro.
— Há duas semanas, o presidente Lula enviou o Amorim a Caracas para falar com o Maduro e transmitir a preocupação do Brasil [sobre a questão do Essequibo], dizer pra ele que as coisas não se resolvem no braço. Essa mensagem foi reafirmada na reunião de chanceleres e ministros da Defesa que aconteceu recentemente em Brasília — disse ao Globo uma fonte diplomática que pediu anonimato.
Segundo a mesma fonte, Lula e o chanceler Mauro Vieira conversaram com o presidente da Guiana por telefone na terça-feira. Ainda não houve um contato desse tipo com Maduro. Perguntado sobre a possibilidade de um confronto armado entre Venezuela e Guiana, o diplomata respondeu que “o Brasil trabalha com todas as possibilidades”. Ele, porém, se recusou a responder sobre uma intervenção militar brasileira na região.