Encontro

Maduro visitará Putin em dezembro, em meio a tensões com a Guiana

Presidente venezuelano e líder russo se encontrarão em Moscou, segundo fontes diplomáticas dos dois países

O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro - Sérgio Lima/AFP

O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, embarcará, nos próximos dias, para Moscou, onde tem um encontro marcado com o presidente da Rússia, Vladimir Putin. O encontro dos líderes não-alinhados ao Ocidente — que, somados, estão a mais de 30 anos no poder — ocorre em meio à crise provocada pelo referendo quanto à soberania da região do Essequibo, que Caracas declarou como parte de seu território unilateralmente.

A viagem de Maduro estava marcada desde antes da realização do referendo. Durante a semana, o Kremlin confirmou que o encontro com Putin aconteceria ainda em dezembro, mas não informaram a data exata do encontro.

— É muito cedo para anunciar uma data. Concordamos que Maduro pode visitar Moscou em dezembro há um tempo, e, até este momento, parece que vamos chegar a uma confirmação nos próximos dias — disse o conselheiro presidencial de Putin, Yury Ushakov, a repórteres na terça-feira.

O embaixador venezuelano na Rússia, Jesus Rafael Salazar Velasquez, confirmou à agência de notícias russa TASS que a visita de Maduro a Moscou seria antecipada em dezembro, mas também não informou uma data exata.

Ainda não se sabe se a anexação do Essequibo ou as denúncias do presidente venezuelano sobre o risco de interferência americana na região será tratado no encontro. Nenhuma autoridade, russa ou venezuelana, confirmou o que estará em pauta.

Embora seja um dos principais aliados do regime venezuelano desde os tempos de Hugo Chávez, o governo russo não expressou nenhuma posição marcante de apoio a Caracas até o momento. Nesta sexta-feira, o Ministério das Relações Exteriores da Rússia pediu que Venezuela e Guiana chegassem a uma saída pacífica para resolver a disputa sobre o território.

— Consideramos uma prioridade reduzir a tensão e construir relações de confiança entre Venezuela e Guiana — disse a porta-voz da chancelaria russa, Maria Zakharova. — Chamamos as partes a se afastarem de quaisquer ações que possam desequilibrar a situação e causar danos mútuos.

A manifestação de Moscou aconteceu um dia após os Estados Unidos anunciarem exercícios militares conjuntos com a Guiana, um gesto classificado por Maduro como uma "provocação". De acordo com um comunicado divulgado na quinta-feira, aviões da Força Aérea americana sobrevoarão o país sul-americano, mas não há confirmação de se a rota passa pelo Essequibo.

Apesar disso, a Embaixada dos EUA no Brasil disse apoiar uma "solução pacífica" para a crise, ontem, "inclusive por meio da Corte Internacional de Justiça", que analisa o caso a pedido da Guiana.

Um posicionamento pró-Caracas por parte da Rússia com relação ao Essequibo colocaria os interesses dos rivais na Guerra Fria em rota de colisão. Empresas petroleiras americanas são as principais exploradoras das largas reservas de petróleo encontradas no mar territorial da Guiana, contestado pela Venezuela.

A Rússia é a principal fornecedora de equipamento militar da Venezuela, cedendo de armamento básico para as tropas de infantaria a aviões caça supersônicos. Um confronto militar na fronteira certamente incluiria o uso de armamento e munição russa.