COP28

COP28 registra alguns avanços e divisões persistentes sobre combustíveis fósseis

Conferência de Dubai tem que decidir os próximos passos depois de fazer o primeiro balanço da ação climática desde o Acordo de Paris de 2015

COP28 - Jewel Samad/AFP

A COP28 apresenta avanços, embora persistam divisões sobre o combate ao aquecimento global, indicaram, neste sábado (9), participantes do encontro em Dubai, que enfrentaram a pressão da Opep para evitar soluções que proponham o abandono dos combustíveis fósseis.

"A janela [de oportunidades] está se fechando. Realizamos progressos, mas não o suficientemente rápidos, nem esmagadores", admitiu o próprio presidente da conferência, Sultan Al Jaber.

“É hora de deixar de lado os seus próprios interesses em nome do interesse geral”, acrescentou, fazendo um chamado às cerca de 200 delegações nacionais presentes em Dubai para “trabalhar”.

“É hora de decidir. Por favor, não hesitem”, acrescentou.

A China tentou manter as portas abertas nos debates acalorados.

“Todos queremos trabalhar juntos para encontrar uma linguagem que aponte na direção certa, que seja ao máximo inclusiva e aceitável para todo o mundo”, disse aos jornalistas o enviado da potência asiática, Xie Zhenhua.

“Acredito que já vimos progresso nesta questão e acho que teremos mais progresso nos próximos dias”, acrescentou.

A carta que acendeu a polêmica
Os debates esquentaram depois que, na sexta-feira, vieram à tona uma carta na qual o secretário-geral da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep), o kuwaitiano Al Ghais, instava os 13 membros do cartel e os dez países associados a rechaçarão qualquer menção aos combustíveis fósseis na declaração final da COP28.

“Na minha opinião, acho que é muito repugnante o que os países da Opep estão fazendo”, disse a ministra espanhola da Transição Ecológica, Teresa Ribera, que representa a União Europeia (UE) em Dubai, junto com a Comissão Europeia.

"Não estamos falando em eliminar amanhã os combustíveis fósseis, mas se não criarmos as condições para reduzi-los para que consigamos sua eliminação, a transição energética não acontecerá", insistiu a ministra.

O diretor de pesquisa da Opep, Ayed Al Qahtani, falou em nome de Al Ghais ao plenário da COP28 neste sábado, e tentou amenizar suas posições a respeito de uma fonte energética que é responsável por grande parte das emissões de gases efeito de estufa, mas também motor do crescimento global desde o início do século XX.

“Não existe uma solução única ou um caminho único para alcançar uma energia sustentável suficiente no futuro”, declarou.

A conferência de Dubai tem que decidir os próximos passos depois de fazer o primeiro balanço da ação climática desde o Acordo de Paris de 2015.

O acordo para enfrentar a mudança climática “concentra-se na redução das emissões, em vez de escolher fontes de energia”, lembrou o representante da Opep.

As fórmulas em debate
A controvérsia gira em torno de como definir o futuro das energias consideradas responsáveis pela grande maioria dos gases de efeito estufa.

O projeto em discussão na COP28 tem várias opções, que vão basicamente de "abandonar" ('phase out') esses combustíveis fósseis até "reduzir" ('phase down') seu uso.

Também é mencionado "uma saída das energias fósseis baseada no melhor conhecimento científico possível".

E duas outras fórmulas de "abandono" o vinculam a mecanismos de captura de CO2 na atmosfera para compensar as emissões, uma proposta científica que gera polêmica.

Por fim, existe a opção de não mencionar o papel destas energias no futuro da luta climática, o que seria a posição preferida por países como a Arábia Saudita, que tem grande peso na Opep.

"Cada uma [dessas opções] isoladamente não é suficiente. Temos que combiná-las", explicou Teresa Ribera.

“Nada põe mais em perigo as ameaças e o futuro dos habitantes da Terra, incluindo o futuro dos cidadãos dos países da Opep, do que os combustíveis fósseis”, denunciou Tina Stege, emissária climática das Ilhas Marshall, um arquipélago no Pacífico ameaçado pela elevação do nível do mar.

“Nem todos participam de forma construtiva e isso me preocupa”, disse, por sua vez, enviado especialmente da Alemanha para o clima, Jennifer Morgan.