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Quanto custa morar sozinho nas cidades da América Latina? Confira qual é a mais cara e a mais barata

Levantamento de preços de aluguel, serviços, transporte e alimentos em 11 países mostra que gasto mensal mínimo pode chegar a quase R$ 4 mil

Montevidéu, capital do Uruguai - Fabiano Antunes/Rota 1976

Filhos deixam a casa dos pais cada vez mais tarde e não só por mudança de comportamento. Há um fator financeiro. Tornar-se independente implica assumir uma série de gastos mensais de que possivelmente um jovem nem se dava conta, como aluguel e contas de serviços básicos.

A quantia mínima mensal exigida para essa etapa da vida varia muito, dependendo de fatores como a cidade escolhida para viver e a realidade econômica do país em que está inserida.

Na América Latina, viver de forma independente nas principais cidades não é barato. É o que mostra um levantamento feito por jornalistas do Grupo de Diários América (GDA), do qual O GLOBO faz parte, sobre o custo médio dos gastos básicos que uma pessoa terá para viver sozinha em uma das cidades de 11 países que foram analisadas:

São Paulo (Brasil);

Montevidéu (Uruguai);

San José e sua área metropolitana (Costa Rica);

Cidade do México (México);

Santiago (Chile);

Lima (Peru);

Santo Domingo (República Dominicana);

Caracas (Venezuela);

Buenos Aires (Argentina);

Bogotá (Colômbia);

San Salvador;

Santa Tecla (El Salvador).

O custo mensal da vida solo na região vai de US$ 310,45 (R$ 1.525) a US$ 804,40 (R$ 3.951). Os dois extremos são de cidades muito próximas: Buenos Aires e Montevidéu são a mais barata e a mais cara cidade entre as analisadas.

Uruguai: custo mais alto
A comparação considerou os preços na principal cidade de cada país convertidos em dólar em quatro componentes básicos: aluguel de um apartamento de 40 metros quadrados com ao menos um quarto; serviços (eletricidade, água, internet); alimentação e transporte.

A conta sobe se a pessoa escolher imóvel maior, frequentar restaurantes ou adicionar itens à cesta básica. Foram escolhidos alguns bairros ou áreas das regiões metropolitanas para a coleta dos dados, compilados pela equipe do El Financiero, da Costa Rica.

Uruguai, Costa Rica, México e El Salvador são os países onde tornar-se independente é mais custoso na América Latina. Mas há diferenças marcantes. No México, serviços como água e luz são muito mais baratos que nas outras três nações.

O aluguel nas áreas selecionadas da Cidade do México é o que faz disparar o custo mensal total. Em Montevidéu e San José são os serviços e o transporte. Em San Salvador, além do aluguel, é a comida que puxa a média para cima.

Na outra ponta, é mais barato viver sozinho na Venezuela e na Argentina, que têm particularidades conjunturais que os outros não conhecem. Enfrentam longos processos inflacionários e de desvalorização de suas moedas, afetando os cálculos.

Dessa forma, na comparação, Buenos Aires aparece com o menor custo de alimentação entre as cidades analisadas: US$ 47,60 (cerca de R$ 234). O valor médio do aluguel dos portenhos e também dos moradores de Caracas são igualmente muito inferiores aos dos outros países.

Na Venezuela é preciso destacar que, mesmo baixos, os preços são proibitivos para a maioria dos trabalhadores. O salário mínimo no país é de 130 bolívares (US$ 3,70 ou R$ R$ 18,20). E viver sozinho em Caracas demanda ao menos US$ 424,96 (R$ 2.087) por mês.

SP na metade mais cara
São Paulo deixa o Brasil no grupo dos países medianamente caros quando se fala em vida independente, juntamente com a Colômbia. O preço médio da independência nos dois países é praticamente igual: US$ 639,77 (R$ 3.142) e US$ 637,60 (R$ 3,132), respectivamente.

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As semelhanças também se repetem nos quatro componentes analisados. No Brasil, a comida pesa bastante no bolso, só perde para El Salvador entre os 11 países, mas a Colômbia tem custo muito próximo.

Bogotá, no entanto, tem transporte bem mais caro que o de São Paulo: US$ 38,60 (R$ 189,60) mensais na capital colombiana contra US$ 21,68 (R$ 106,50) na paulista. Uma forma bastante comum para universitários se estabelecerem em São Paulo é viver em pensões e repúblicas.

José Filipe Câmara, de 23 anos, começou a estudar Geografia na USP em 2019, mas até agora não conseguiu renda suficiente para viver totalmente sozinho na cidade.

Ele aluga uma suíte num pensionato, que tem outros 16 quartos, no Butantã, Zona Oeste da cidade. Paga R$ 1.200 (US$ 245) por mês, com todas as contas incluídas.

Leonardo Valois, de 25 anos, chegou a alcançar o sonho de montar uma casa em São Paulo, quando cursava o quarto ano de Medicina na Unifesp. Dividia um apartamento de um quarto com a namorada na Vila Mariana, perto da faculdade, mas o aluguel superava R$ 2.500 (US$ 509 mensais).

Após se separar, ele não conseguiu pagar sozinho. Mudou-se para um pequeno estúdio em uma espécie de pensão cujo dono é seu amigo, no mesmo bairro. Agora gasta R$ 1.200 mensais (US$ 244) com habitação.

— Sempre vivi perto da universidade para economizar com transporte, mas o bairro em si é caro — diz. (Colaborou Juliana Causin)

*O Grupo de Diários América (GDA), do qual O GLOBO faz parte, reúne 11 dos principais jornais da América Latina.