ECONOMIA

O que as mudanças climáticas têm a ver com o aumento do preço de azeite? Entenda

Europa enfrentou verão quente, seco e longo, que prejudicou a safra de olivas e aumentou o preço do azeite

Pixabay

Quem faz questão de comprar azeite no mercado deve ter percebido que os preços aumentaram, e muito. Uma garrafa de azeite de oliva virgem foi de R$ 24,96 no ano passado para R$ 31,66 este ano, enquanto o extra-virgem foi de R$ 28,40 para R$ 35,97 no mesmo período.

Uma das maiores causas desse salto são as mudanças climáticas, que contribuíram para uma seca devastadora em países europeus produtores de oliveiras, como a Espanha.

O verão no Mediterrâneo foi quente, seco e longo. Entre abril de 2022 e maio de 2023, as temperaturas superaram a média em até 2,5°C, e por vezes até 4°C. O cenário foi agravado pela falta de chuvas, que reduziu os reservatórios de Andaluzia, no sul da Espanha, a 25% de sua capacidade.

Esses fatores diminuiram a umidade do solo e prejudicaram o desenvolvimento das oliveiras em sua estação crucial de crescimento.

As oliveiras são naturalmente resistentes a mudanças de temperaturas, mas estão sendo forçadas a se adaptar ao clima extremo. Segundo o site Olive Oil Times, algumas espécies da árvore atrasam o desenvolvimento dos frutos no calor até serem submetidas a temperaturas mais amenas, reduzindo o peso das azeitonas e diminuindo a safra.

— O preço do azeite no mercado nacional tem seguido a tendência contrária ao restante da alimentação pelo mesmo motivo: o clima. A Europa vem sofrendo com uma grande seca e o Brasil, que importa boa parte desse produto, passou a sofrer também as consequências disso — explica Matheus Peçanha, economista da Fundação Getúlio Vargas (FGV Ibre).
 

Procissão para pedir chuva
Hoje, a maior parte da produção de azeite do mundo vem da Espanha, que é responsável pela oferta global de 45% do produto. Mas a Europa vem sofrendo com uma onda de calor desde o primeiro semestre de 2023. De acordo com a Bloomberg, essa produção pode ser reduzida à metade caso a seca continue.

Os espanhóis já sentem reflexos da seca. Moradores de uma cidade do país chegaram a participar de uma procissão pedindo chuvas. Preocupado com o impacto do calor, o governo espanhol anunciou um pacote de € 2,2 milhões para que os agricultores melhorem as estruturas hídricas.

Impacto global
O impacto das altas temperaturas na safra de azeitonas espanholas e em outros produtores de azeites europeus afeta não só o preço do item no Brasil, mas em todo mundo. É o que explica Rita Bassi, presidente da Associação Brasileira de Produtores, Importadores e Comerciantes de Azeite de Oliveira (Oliva).

— A colheita 2022/2023 foi impactada por longo período de seca. Com isso muitas oliveiras deixaram de dar frutos (azeitona) ou produziram frutos em número inferior. O azeite de oliva é extraído das azeitonas e portanto, a produção de azeite de oliva foi altamente impactada. Com a diminuição da oferta e o aumento da procura há impacto no preço do azeite de oliva — diz.

Produção interna de azeite
O Brasil é um dos maiores importadores de azeite do mundo, junto com Japão, Estados Unidos e Canadá. De acordo com o Instituto Brasileiro de Olivicultura (Ibraoliva), a produção brasileira de azeites extra virgens em 2023 — até o momento — foi de aproximadamente 700 mil litros. Isso representa cerca de 1% do mercado nacional de azeite.

Para o diretor da importadora de alimentos e bebidas Casa Flora, Adilson Carvalhal Junior, em função da pouca quantidade, a curto prazo a produção interna não é capaz de abastecer o país.

— A curto prazo não teríamos condições de produzir azeite suficiente para todo o mercado brasileiro. Não são todos os lugares em que é possível produzir o azeite por conta da necessidade de um clima específico para isso — explica.

Preços podem continuar a subir
Apesar de não ser um produto essencial, o uso do azeite na culinária tornou-se um hábito. O diretor aponta que uma opção para o brasileiro seria o uso do óleo composto ou óleo de milho.

Um alívio nos preços do azeite depende de como será a próxima colheita que tem início em outubro/23, segundo Bassi. Para quem quer economizar, a redução do item ou a troca por esses produtos podem ser opções, já que, para os próximos meses, há especialistas que projetam continuação de alta.

— O preço do azeite não deve parar de subir, a gente sabe que existem fatores climáticos dos nossos principais produtores, que estão com problemas na safra da azeitona. Então, não há uma expectativa de freada — avalia Anna Carolina Fercher, gerente de percepção de consumo da Horus.