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Quem é o artista por trás das inserções do ursinho Paddington em cenas de filmes e séries

Imagens cômicas criadas por Jason Chou ganharam a internet

Paddington em cena de "Pânico" - Reprodução

Enquanto os fãs aguardam mais um ano pela terceira parte de sua franquia cinematográfica, Paddington encontrou tempo para encarar papéis ao lado de Harrison Ford, Drew Barrymore e Robert De Niro; comemorou um gol com Ted Lasso; vestiu um traje espacial para “Interestelar”; apareceu no palco com David Byrne; e participou recentemente de festas de Ação de Graças com personagens de “Snoopy”, “Família Soprano” e “Os Simpsons”.

O urso tem uma agenda desafiadora, possibilitada pelo trabalho árduo e pela criatividade de Jason Chou, autodeclarado entusiasta de Paddington, que passou quase três anos usando a magia do Photoshop para teletransportar o urso fã de marmelada, ávido por aventuras e de olhar penetrante para cenas de filmes e programas de televisão.

— Neste momento, acho que algumas pessoas aguardam todo dia por isso, e é difícil decepcioná-las — disse Chou, de 27 anos, estudante da Gnomon, escola de efeitos visuais em Los Angeles.

Ele cria uma publicação relacionada a Paddington diariamente na rede X, onde seu perfil @jaythechou tem 340 mil seguidores, desde março de 2021. Em 3 de dezembro, atingiu um marco: o milésimo post. Em entrevista por telefone, Chou descreveu seu processo criativo:

— Basicamente, encaixo Paddington em uma cena.

Começo de tudo
Personagem querido de livros infantis, de animações de televisão e agora de uma franquia cinematográfica — “Paddington no Peru”, o terceiro filme da série, será lançado nos Estados Unidos em janeiro de 2025 —, o urso é conhecido por sua curiosidade singular, que muitas vezes o coloca em apuros.

— Ele atravessa todas essas cenas diferentes com o mesmo deslumbramento. Por isso, parece natural que esteja de repente em “O poderoso chefão”. Acho que é a atmosfera de fantasia que faz com que as pessoas gostem tanto — afirma Geoffrey Palmer, outro artista da internet que, seguindo os passos de Chou, se dedica a colocar Paddington em cenas do jogo “Magic: the gathering”.
 

Chou busca ser fiel aos princípios do personagem:

— Mesmo em algumas das cenas de ação, me pego dizendo: “Ah, Paddington! Não faça isso!” Tenho medo de, um dia desses, transformá-lo por acidente em um vilão ou algo assim.

O caminho tortuoso de Chou até Paddington remonta ao seu amor de infância pela trilogia original de “Star Wars”. Em pouco tempo, estava fazendo as próprias animações com argila, e continuou perseguindo seus interesses artísticos no ensino médio e na Universidade da Califórnia, em Irvine, onde estudou produção de cinema e vídeo. Foi ali que a semente da obra-prima de Paddington foi plantada.

Ele se lembrou de uma tarde de inverno de 2018 em que ficou preso num congestionamento em uma rodovia no sul da Califórnia, ansioso com a universidade, a busca de emprego e o trânsito — que estava terrível:

— Pensei: “Quer saber? Vou assistir a um filme.”

Saiu da estrada e encontrou um cinema, que estava exibindo “As aventuras de Paddington 2”. A moça da bilheteria disse que ele ia adorar, mas Chou não tinha ideia de que o filme o afetaria tão profundamente.

A consistência do personagem o comoveu. Ao longo do filme, ele permanece bondoso e propenso a acidentes, mesmo quando os que estão ao seu redor mudam — e mudam para melhor, muitas vezes por causa da interação com o urso.

— Mesmo quando vai para a prisão, ele continua na dele. E, não importa quantos obstáculos existam em seu caminho, a educação e a gentileza o ajudam a superar tudo. Me senti muito feliz no fim — recorda Chou.

Alguns anos depois, com tempo livre durante a pandemia, Chou visitava regularmente o Reddit. Os desafios nas redes sociais estavam na moda e ele percebeu que “precisava fazer alguma coisa”. Assim, usou o Photoshop para inserir um Paddington gigante em uma cena de “Godzilla x Kong” e postou em uma comunidade da rede relacionada a filmes, prometendo fazer algo semelhante todo dia.

Desde o início, Chou priorizou a consistência.

— Faço uma montagem por dia e não me importo se não receber muitas visualizações, porque isso pode afetar a maneira como faço as coisas — comenta ele, que espera trabalhar na indústria cinematográfica.

E, embora tenha experimentado o Patreon, serviço de monetização para artistas, abandonou-o logo, porque não entrou no negócio do Photoshop de Paddington pelo dinheiro ou pela fama. Mas ficou desapontado porque o urso não o seguiu no X: “Deve haver um motivo.” Nem Paddington nem seus representantes na StudioCanal, produtora francesa que supervisiona a franquia, responderam aos pedidos de comentário.

Nesta fase da série, Chou vem enfrentando desafios. Exemplo: a princípio, queria evitar usar o mesmo programa de TV ou filme mais de uma vez, mas essa possibilidade é cada vez menor:

— Eu mesmo me encurralei.

Por isso, abriu exceções e expandiu sua obra para incluir videogames e, ocasionalmente, capas de álbuns. Por exemplo, houve uma homenagem recente a Taylor Swift: “1989 (versão de Paddington).”

— Não existe objetivo final — diz Chou. — Mas eu me sentiria mal se parasse.