Inflação

Milei inicia seu governo na Argentina com inflação de 160,9% interanual

Só em novembro, os preços ao consumidor subiram 12,8%, segundo o Instituto Nacional de Estatística do país

Inflação elevada tem sido um problema específico na Argentina, que já havia encerrado 2022 com uma alta no Índice de Preços ao Consumidor - Luis Robayo/AFP

A inflação em 12 meses na Argentina atingiu 160,9% em novembro, um patamar desconfortável para o recém-iniciado governo do ultraliberal Javier Milei, que anunciou um plano de choque para organizar as finanças públicas e conter o constante aumento de preços.

A inflação acumulada em 2023 chegou a 148,2%, um dos índices inflacionários mais elevados do mundo.

Só em novembro, os preços ao consumidor subiram 12,8%, segundo o Instituto Nacional de Estatística do país. Os setores com maiores altas foram saúde (15,9%), alimentos e bebidas não seletivas (15,7%) e comunicação (15,2%).

A inflação elevada tem sido um problema específico na Argentina, que já havia encerrado 2022 com uma alta no Índice de Preços ao Consumidor (IPC) de 94,8%.

Para conter a inflação e, principalmente, o déficit nas finanças públicas, Milei anunciou um programa de austeridade que inclui a redução dos subsídios às tarifas de energia e transporte, bem como a suspensão de obras de infraestrutura financiadas pelo Estado que ainda não afeta.

Além disso, decretou uma desvalorização da moeda argentina de mais de 50% - a 800 pesos por dólar na taxa de câmbio oficial -, dentro de um regime de controle que contempla uma dezena de taxas de câmbio diferentes.

“A chave da desvalorização é que podemos baixar significativamente a diferença” entre a taxa de câmbio oficial e a paralela, que fechou inalterada nesta quarta-feira em 1.070 pesos por dólar, opinou Gabriel Rubinstein, ex-vice-ministro da Economia.

Meses difíceis e uma aposta
Milei avisou que os próximos meses serão "duros" e que as coisas vão piorar antes de melhorar. Ele garantiu, porém, que está tentando evitar uma “catástrofe” como a hiperinflação que a Argentina viveu em 1989 e 1990.

“Espera-se um dezembro com uma inflação em alta, onde estes 12,8% nos parecerão pequenos”, disse à AFP a economista Candelaria Botto.

“Como o governo já anunciou, virão meses com uma inflação crescente”, indicou Botto, que determinadas que, com base nas primeiras medidas anunciadas, “o único plano para reduzir a inflação que se avizinha é a aposta em uma recessão”.

Milei propôs um corte no tamanho do Estado e um ajuste fiscal equivalente a 5% do Produto Interno Bruto (PIB).

Suas primeiras decisões foram elogiadas pelo Fundo Monetário Internacional (FMI), com o qual a Argentina mantém um programa de crédito de 44 bilhões de dólares (216,4 bilhões de reais, na cotação atual). O organismo afirmou em um comunicado que apoia as medidas.

No entanto, os aumentos nos preços dos combustíveis e tarifas, assim como a depreciação acelerada, "são o coquetel perfeito para ver uma alta inflação. A política, que busca ser de choque, vai gerar um golpe inflacionário de alta tensão", estimou o economista independente Joel Lupieri.