ARGENTINA

'Se não há ordem não há liberdade', em meio a ajuste fiscal, governo anuncia restrições a protestos

Ministra da Segurança Pública ;movimentos de esquerda prometeram resposta nas ruas

Ministra da Segurança Pública da Argentina, Patricia Bullrich - Tomas Cuesta / AFP

Menos de uma semana depois de assumir o comando da Argentina, o governo de Javier Milei anunciou medidas para restringir os protestos nas ruas, no momento em que são adotadas medidas de ajuste fiscal que terão um impacto sensível na população. Em pronunciamento na tarde desta quinta-feira, ela disse que "se não há ordem, não há liberdade, e se não há liberdade, não há progresso", e afirmou que as vias públicas não serão mais bloqueadas, e quem tentar fazê-lo será processado. Mesmo antes dos anúncios, lideranças populares e organizações sindicais criticaram as medidas.

As medidas são centradas na liberação dos espaços públicos, como ruas, avenidas e estradas, e a ministra destacou que uma prática comum na Argentina, o uso de vias secundárias para liberar o trânsito em uma via principal bloqueada, não será mais usada.

— Se bloqueiam a via principal, a via principal será liberada — disse Bullrich.

Bullrich disse que todos os envolvidos em bloqueios, serão identificados e processados, eos organizadores dos atos, como como partidos e organizações sindicais, terão que pagar os custos relativos a estragos e ao uso das forças de segurança para o controle dos protestos e eventual repressão. Ela reiterou que a presença de menores de idade nos atos será tratada como algo sério — para a ministra, o objetivo é impedir que crianças e adolescentes sejam usados como "escudos humanos" por manifestantes.

A ação contra os protestos, ou "piquetes", como são chamados em espanhol, era algo previsível por parte do governo de Milei. No discurso de posse, ele disse que "aqueles que fecham as ruas não podem cobrar", uma frase que se tornou uma espécie de mantra na pasta de Segurança Pública. Ao declarar as palavras, ele também fez uma defesa das forças de segurança, que agora devem ter mais poderes para desfazer manifestações. Em 2015, Bullrich, então ministra de Segurança do presidente Mauricio Macri, também anunciou um pacote para controlar as manifestações que jamais foi implementado na prática.

Protestos nas ruas são uma imagem comum na Argentina, especialmente no Centro de Buenos Aires, não importa o viés ideológico das lideranças de ocasião na Casa Rosada. De acordo com a consultoria Diagntóstico Político, houve 568 protestos com fechamento de ruas no país em novembro, sendo que 50 apenas na capital federal. Em junho e em agosto, o número superou os 800 atos, e lideranças agora de oposição não se mostraram intimidadas pelas novas regras, chamadas de "repressoras" e "ofensivas contra os trabalhadores".

Já n a semana que vem estão previstas manifestações em Buenos Aires, inicialmente centradas no aniversário do "Argentinazo", a onda de protestos contra o governo, entre 19 e 20 de dezembro de 2001, que levaram à queda do então presidente Fernando de la Rúa. Agora, militantes afirmam que as medidas de ajuste anunciadas por Milei devem figurar nos discursos, faixas e gritos de ordem.