"Absolvição por excesso de provas é anomalia do Direito"

Na avaliação de Dirceu, o Brasil não pode perder a chance de mudar a composição desses tribunais

Francisco Dirceu Barros é o procurado-geral de Justiça - Reprodução/TV Globo

Antes mesmo que acabasse o julgamento do TSE, ainda no início da noite de ontem, o procurador-geral de Justiça do MPPE, Francisco Dirceu Barros, à coluna, registrara: "Parei de assistir ao julgamento, porque estou muito triste. Já sei o placar antecipado e vai ser 4x3 pela absolvição". Ele não era o único que já tinha o resultado antes que a "partida" tivesse fim. Mas Dirceu prosseguiu, lembrando que o TSE é um tribunal, no qual o Ministério Público não atua na composição, a não ser pela presença do procurador-geral eleitoral, que não participa do julgamento. Se há dois advogados na composição - e um deles, Admar Gonzaga, foi advogado da campanha de Dilma - na análise de Dirceu, o TSE deveria ter nove membros, incluindo dois representantes do MP.

Dirceu crava: "Pela primeira vez, vai haver uma absolvição por excesso de provas. É uma anomalia do nosso Direito". O procurador pondera que "a mera deficiência de provas leva à absolvição, mas o que Herman Benjamin relatou é excesso de provas". Dirceu, que já foi promotor eleitoral e assina mais de 60 livros, realça que a quantia declarada como gasto pela chapa foi inverídica e traduz: "Essa declaração falsa é o que se chama de caixa 2. Falsidade ideológica eleitoral é crime, mas não está se apurando crime, nem propina, nem de caixa 2. Mas esse caixa 2 gerou abuso de poder econômico". Sobre o quarto dia de julgamento no TSE, Dirceu define: "É um dia que deve ser esquecido na literatura do Direito Eleitoral. Ninguém vai conseguir explicar esse julgamento na sala de aula. Ninguém!".

Abrindo e fechando os olhos
Nas palavras de Luiz Fux, "não dá para fechar os olhos para as provas dos autos", como se "a vontade do eleitor fosse eleger pessoas financiadas ilicitamente". Já na visão de Napoleão Maia, “trampulinagens e safadezas” praticadas na campanha "serão apuradas na via própria". Leia-se: pelas mãos de Sérgio Moro.

Avestruz > A despeito do abuso de poder econômico e político desequilibrar o pleito, Napoleão observou que não seria "democrático" cassar a chapa. Democrático, disse ele, é "respeitar o mandato de quem ganhou". Para isso, como descreveu Fux, o TSE agiu como um avestruz, “que enfia a cabeça no chão”.

Fraude > A conselheira Teresa Duere, ante indícios de empresas usadas para lesar cofres públicos em Carpina, determinou o imediato envio de documentos e provas à Polícia Civil e ao MPPE. As provas recolhidas pelos auditores do TCE colaboraram na Operação "Fraus" (fraude em latim), que prendeu dois ex-prefeitos ontem.

Entrelinhas 1 > O ministro Mendonça Filho anunciou R$ 30 milhões para recuperação de escolas atingidas pelas enchentes. O volume não foi dirigido direto aos municípios.

Entrelinhas 2 > No Palácio das Princesas, comparou-se com situação de 2010, quando o Estado se responsabilizou. Socialistas lembram que muitas cidades não tem engenheiro. "Quer fazer política, faça", alfinetou um socialista.

Diogo é... > O deputado Diogo Moraes foi eleito, ontem, secretário-geral da Unale, na 21ª conferência, em Foz do Iguaçu.

...eleito > A indicação de Diogo "quebrou" a tradição de o presidente que sai do cargo se tornar secretário-geral, caso da deputada do Pará, Ana Cunha. Como ela se tornou secretária de Estado, o nome de Diogo - até então tesoureiro - foi escolhido.