Familiares de reféns expressam indignação após Israel matar três deles por engano
Exército israelense admitiu que os três reféns mortos por seus soldados em Gaza agitavam uma bandeira branca
Familiares de reféns mantidos na Faixa de Gaza exigiram neste sábado (16) que o governo de Israel atue o mais rapidamente possível para obter a sua libertação, após o Exército israelense matar por engano três deles.
O Exército israelense admitiu hoje que os três reféns mortos por seus soldados em Gaza agitavam uma bandeira branca e haviam pedido ajuda em hebraico, após divulgarem os primeiros elementos da investigação sobre o incidente, que gerou protestos em Tel Aviv.
"Nós só recuperamos corpos. Queremos que parem os combates e comecem a negociar", disse Noam Perry, filha de um israelense detido pelo Hamas e seus aliados, durante uma manifestação na cidade israelense na noite de sábado.
"Temos a impressão de que estão jogando roleta russa: Quem será o próximo a saber da morte de um ente querido? Queremos saber qual proposta está na mesa do governo", acrescentou Ruby Chen, pai de Itay Chen, uma refém de 19 anos.
As vítimas, Yotam Haim (28 anos), Alon Shamriz (26) e Samer El Talalqa (25) morreram durante operações em um bairro da Cidade de Gaza, segundo o Exército.
Os três estavam entre um total de cerca de 250 pessoas sequestradas pelo movimento islamista palestino Hamas durante seu ataque sem precedentes contra Israel em 7 de outubro. Essa ofensiva deixou 1.140 mortos, a maioria civis, segundo as autoridades israelenses.
O porta-voz do Exército israelense, Daniel Hagari, explicou que, durante os combates na Cidade de Gaza, as tropas identificaram "por engano três reféns israelenses como uma ameaça e, como resultado, os soldados atiraram neles e os mataram".
Segundo os primeiros elementos da investigação, o Exército de Israel informou que os reféns agitaram uma bandeira branca improvisada e pediram ajuda em hebraico, em uma região onde as tropas israelenses sofrem numerosas emboscadas.
"Um dos soldados viu quando apareceram. Eles não usavam camisa e traziam um bastão com um pano branco. O soldado se sentiu ameaçado e disparou, declarando que eram terroristas. Dois (reféns) morreram", disse um oficial militar à imprensa.
"Imediatamente outro foi ferido e correu em direção a um edifício", acrescentou, relatando que os soldados "ouviram um grito de socorro em hebraico".
Embora o comandante do batalhão tivesse ordenado que os disparos cessassem, o terceiro refém foi baleado e morreu, adicionou o oficial militar.
O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, classificou a morte dos reféns como "uma tragédia insuportável", que enlutou "todo o Estado de Israel".
Nos Estados Unidos, a Casa Branca descreveu a morte dos reféns como um "erro trágico".
Em resposta aos ataques do Hamas, Israel prometeu "aniquilar" o grupo islamista e iniciou uma ofensiva na Faixa de Gaza, que agora se estende a todo o território, incluindo o sul, onde há centenas de milhares de civis deslocados.
Segundo o Ministério da Saúde do Hamas, os bombardeios israelenses deixaram pelo menos 18.800 mortos, 70% dos quais eram mulheres, crianças e adolescentes.
Segunda trégua?
Um acordo de trégua, mediado por Catar, Egito e EUA, permitiu uma pausa de uma semana nos combates no final de novembro, a libertação de mais de 100 reféns em troca de 240 palestinos presos em Israel, bem como a entrega de ajuda humanitária de emergência. Neste momento, 129 pessoas permanecem como reféns em Gaza.
Após o anúncio da morte dos três reféns, o site de notícias Axios informou que o diretor da Mossad, a agência de Inteligência israelense, David Barnea, deve se reunir neste fim de semana na Europa com o primeiro-ministro do Catar, Mohamed bin Abdulrahman Al Thani, para contemplar uma segunda fase de trégua.
Além dos civis, os jornalistas também seguem pagando um preço alto na guerra. O jornalista da Al Jazeera Samer Abu Daqa morreu na sexta-feira (15) em um ataque israelense, e o chefe do escritório da emissora em Gaza, Wael Dahdouh, foi ferido no braço por estilhaços de mísseis.
De acordo com o Comitê para a Proteção dos Jornalistas (CPJ), mais de 60 jornalistas e funcionários de meios de comunicação morreram desde o começo da guerra.
'Combates ferozes'
A ONU e ONGs descrevem as condições de vida na superlotada Faixa de Gaza, sitiada por Israel desde 9 de outubro, como um pesadelo. Os civis palestinos estão amontoados em áreas cada vez menores. Cerca de 1,9 milhão de habitantes (85% da sua população) foram deslocados, segundo a ONU.
Neste sábado, o Hamas relatou "combates ferozes" na região de Jabaliya (norte), ataques aéreos e intenso fogo de artilharia em Khan Yunis, o novo epicentro dos combates no sul do Território Palestino.
Na Cisjordânia ocupada, onde a violência se intensificou desde o início da guerra em Gaza, oito palestinos foram presos em Nablus, local em que o Exército de Israel lançou uma operação, informou a agência de notícias palestina Wafa. Já Israel continua sendo alvo de foguetes lançados da Faixa de Gaza.
Além disso, a guerra continua aumentando a tensão regional. Dois drones foram interceptados ontem pelo Exército do Egito e por um navio de guerra britânico perto da fronteira com Israel, que é atacado quase diariamente com drones pelos rebeldes huthis do Iêmen, aliados do Irã.
O Exército de Israel anunciou neste sábado que um soldado morreu e outros dois ficaram feridos após terem sido atingidos por uma "aeronave hostil", em uma região do norte perto da fronteira com o Líbano.
Confrontado com uma pressão crescente, sobretudo dos Estados Unidos, Israel anunciou uma "medida temporária" para permitir a entrega de ajuda a Gaza através da passagem fronteiriça de Kerem Shalom.
A medida pretende liberar a passagem de Rafah, que faz fronteira com o Egito, única porta de entrada de alimentos e medicamentos. Desde o início da guerra, a ajuda entra neste ponto estratégico aos poucos e depende da autorização de Israel.