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Ex-premier do Paquistão usa IA para clonar a própria voz e fazer campanha da prisão

Comício virtual foi transmitido nas redes sociais nesta segunda-feira (18)

Bandeira do Paquistão - Pixabay

A inteligência artificial permitiu que o ex-primeiro-ministro do Paquistão Imran Khan, de 71 anos, fizesse campanha atrás das grades nesta segunda-feira, com um clone de sua própria voz discursando apaixonadamente. O líder da oposição está preso desde agosto e está sendo julgado por vazamento de documentos confidenciais, alegações que ele diz terem sido forjadas para impedi-lo de concorrer às eleições gerais previstas para fevereiro.

O partido do ex-premier, o Pakistan Tehreek-e-Insaf (PTI), usou inteligência artificial para transmitir uma mensagem de quatro minutos de Imran Khan, encabeçando um "comício virtual" hospedado nas mídias sociais durante a noite de domingo para segunda-feira, apesar das interrupções na internet que o monitor NetBlocks disse serem consistentes com tentativas anteriores de censurar Khan.

O PTI disse que Khan enviou um roteiro abreviado por meio de advogados, que foi desenvolvido em sua linguagem retórica. O texto foi então dublado em áudio usando uma ferramenta da empresa de IA ElevenLabs, que se orgulha da capacidade de criar um "clone de voz" a partir de amostras de fala existentes.

"Meus compatriotas paquistaneses, primeiramente gostaria de elogiar a equipe de mídia social por essa tentativa histórica" disse a voz que imitava Khan. "Talvez todos vocês estejam se perguntando como estou indo na prisão. Hoje, minha determinação pela liberdade real é muito forte."

 



O áudio foi divulgado no final de uma transmissão ao vivo de cinco horas de discursos de apoiadores do PTI nas redes sociais, e foi intercalado com cenas históricas de Khan e algumas fotografias.

A transmissão foi acompanhada de videoclipes originais de discursos antigos do ex-astro do críquete, de acordo com o PTI, mas uma legenda aparecia nos intervalos indicando que se tratava da "voz de IA de Imran Khan com base em suas anotações".

" Isso foi uma decisão óbvia para nós, já que Imran Khan não está mais disponível para participar de um comício político" disse o chefe de mídia social do PTI nos EUA, Jibran Ilyas. Foi para superar a repressão.

O PTI foi o primeiro partido político do Paquistão a aproveitar amplamente o potencial das mídias sociais, usando aplicativos para atingir o público mais jovem que o levou ao poder há cinco anos.

"Queríamos entrar no modo eleitoral"  disse Ilyas à AFP. — Nenhum comício político do PTI está completo sem Imran Khan.

Contornando a censura
Os censores estaduais proibiram Khan de ir ao ar no início deste ano, depois que sua breve prisão em maio provocou tumultos. O monitor de liberdade de acesso à internet NetBlocks disse que a mídia social foi restringida por sete horas a partir do final do domingo, em um incidente "consistente com instâncias anteriores de censura à Internet" contra Khan.

No entanto, o comício virtual foi visto por mais de 4,5 milhões de pessoas nas redes sociais Facebook, X (antigo Twitter) e YouTube.

" Não foi muito convincente" disse o gerente de negócios Syed Muhammad Ashar, de 38 anos, na cidade de Lahore, no leste do país. "A gramática também estava estranha. Mas vou dar uma chance a eles por terem tentado. Francamente, nada pode substituir um comício e um discurso de verdade."

Mas o funcionário da mídia Hussain Javed Afroze elogiou o discurso transmitido digitalmente.

"Nenhum outro partido usa a tecnologia como o PTI" disse o homem de 42 anos. "Essas são novas ferramentas, então acho que é positivo usá-las"

Há muito tempo, os analistas alertam que agentes mal-intencionados podem usar a inteligência artificial para se passar por líderes e semear a desinformação, mas muito menos tem sido dito sobre como a tecnologia pode ser usada para contornar a repressão estatal.

Khan, extremamente popular, foi deposto no ano passado depois de se desentender com os líderes militares do Paquistão, que, segundo analistas, influenciaram sua ascensão ao poder em 2018.

Na sequência, ele liderou uma campanha de oposição sem precedentes, acusando os altos escalões de conspirar com os Estados Unidos para expulsá-lo e dizendo que oficiais superiores planejaram uma tentativa de assassinato que o feriu.

Depois que seus partidários se revoltaram com sua prisão em maio, o PTI foi alvo de uma grande repressão por parte da cúpula militar, que governou diretamente o Paquistão por mais da metade de sua história — e continua governando de maneira indireta até hoje.

A comissão eleitoral do Paquistão confirmou na sexta-feira que as eleições serão realizadas em 8 de fevereiro.

Enquanto estava atrás das grades, Khan foi substituído como líder do PTI, mas continua sendo a figura de proa do partido.