SAÚDE

A solidão chegou com o Natal? Você não é o único; saiba como lidar com esse sentimento

Segundo especialistas, o importante é admitir a necessidade de conexão social e buscar relacionamentos significativos

Festas de fim de ano trazem uma certa melancolia para muitos - Pexels

Neste Natal, Renate Bello, 56 anos, passará as festas cuidando dos cachorros de sua vizinha em Easthampton, Massachusetts. Foi assim que ela também passou o Dia de Ação de Graças. Para ela, as festas podem ser um momento especialmente solitário, já que não tem família ou amigos próximos. Embora cuidar de animais de estimação seja uma alegria e uma maneira de lidar com a solidão, ela anseia por construir conexões mais profundas com humanos.

— Conheço várias pessoas, mas não são necessariamente alguém que eu chamaria para dizer: 'Vamos sair' — diz.

Renate tem um negócio de faturamento médico que muitas vezes requer longas horas em casa, o que contribui para seu isolamento. Ela admite que, às vezes, sente-se "inadequada", como uma estranha.

— Eu não tenho vida, e preciso encontrar esse equilíbrio. No entanto, levar amizades para o próximo nível pode ser difícil — acrescenta.

A solidão pode carregar um estigma em nossa sociedade. As pessoas que experimentam a solidão indesejada podem supor que são antipáticas ou indesejáveis, que são culpadas por não terem mais amigos, conexões comunitárias ou um parceiro romântico.

— Isso pode causar uma vergonha profunda, que pode corroer a autoestima, além de piorar os sentimentos de solidão, já que frequentemente nos leva a nos distanciarmos dos outros no momento em que mais precisamos de apoio — afirma Vivek H. Murthy, cirurgião-geral e autor de "O poder curativo das relações humanas: A importância dos relacionamentos em um mundo cada vez mais solitário".

Segundo Murthy, a verdade é que a solidão é uma experiência humana universal e tão comum como fome ou sede. Não há motivo para se envergonhar de ser humano.

Aqui estão algumas maneiras de superar o estigma e encontrar ou restabelecer conexões.

Outras pessoas também se sentem solitárias
Conexões estão relacionadas à saúde do coração, à saúde cerebral e à imunidade. Além disso, podemos sentir dor física quando, quando sofremos em relacionamentos. Então, é preocupante que mais da metade dos americanos afirme se sentir solitário, de acordo com uma pesquisa de 2021. Mesmo aqueles que têm muitos amigos podem sentir solidão.

Val Walker, 69 anos, autora de "400 Amigos e Ninguém para Chamar", trabalhou muito para criar uma rede social sólida. Mas, recentemente, ela experimentou "um nível totalmente diferente de solidão": nenhum de seus amigos estava disponível quando ela mais precisava deles.

Ao longo de quatro meses, ela pediu a mais de 60 pessoas se poderiam servi-la como acompanhante médico após um procedimento, mas ninguém estava disponível.

— Fiquei tão desamparada. Senti que não importava para as pessoas — confessa.

Finalmente, ela encontrou duas pessoas em seu prédio que se ofereceram. Para Val, relacionamentos locais e pessoais são algumas de nossas conexões mais importantes.

Cultive seus relacionamentos
Segundo Vivek Murhty, pessoas podem estar cercadas e ainda se sentirem solitárias, se o que querem ou esperam de seus relacionamentos for diferente do que percebem.

— Esforço e honestidade são cruciais para fortalecer essas conexões. Poucos minutos de conexão humana honesta e autêntica podem transformar como nos sentimos — revela.

Uma estudante universitária de Oregon, Izzy Boring, 21 anos, observou que o que sua geração considera conexão — uma tela pequena em nossas mãos — "não tem nada a ver com conexão de verdade". Ela tem enfrentado a solidão desde a morte de seu namorado há dois anos.

— A conexão genuína é encontrada em seres humanos e dar espaço para os outros serem humanos ao seu lado — opina.

Vivek Murthy aconselha que, se você está acostumado a enviar mensagens de texto para amigos ou parentes, tente uma ligação telefônica ou videochamada.

— Não precisa durar muito, mas pode abrir a porta para reacender uma amizade e elevar seu humor — conta Murthy.

Procure por semelhanças
Cada um de nós tem maneiras únicas de fazer amigos, iniciar a comunicação e manter nossos relacionamentos.

— Se você é um rato de biblioteca, não espere encontrar seu próximo melhor amigo no bar. Você tem que procurar lugares e pessoas onde pode esperar compartilhar alguns interesses comuns, alguns valores comuns — diz Louise Hawkley, cientista que pesquisa a solidão no NORC, uma organização de pesquisa social da Universidade de Chicago.

Construir relacionamentos leva tempo. Tente não esperar muito inicialmente.

— Muitas vezes, são necessários vários encontros. O relacionamento pode eventualmente se tornar mais íntimo, mas ter amigos casuais também é importante — alerta Charles T. Hill, professor de psicologia social na Whittier College.

Segundo Louise Hawkley, se situações sociais geram nervosismo, ter uma ideia de como a pessoa vai abordá-las antecipadamente pode ajudar. Se decidir participar de um clube do livro, por exemplo, planeje se apresentar ao líder e perguntar como ela se envolveu no grupo. Esteja preparado, com algumas perguntas abertas que estimularão uma resposta pensativa. Compartilhe sua interpretação do livro durante uma discussão; responda ao que outras pessoas pensam.

Ofereça apoio aos outros
Ser voluntário é uma maneira de ampliar nossas redes sociais que pode causar menos ansiedade do que, por exemplo, aparecer em uma festa.

Em um estudo com 10 mil voluntários na Grã-Bretanha, cerca de dois terços concordaram que o voluntariado os ajudou a se sentir menos isolados. Sites de organizações como Volunteer Match, AmeriCorps, United Way e AARP podem ajudá-lo a encontrar oportunidades em sua área. Dar até mesmo um pequeno passo para construir conexões sociais pode ajudar sua confiança.

Se você achar difícil iniciar o contato com alguém ou estiver se sentindo socialmente isolado, não hesite em dizer a alguém que está tentando. Pode ser um parente, um amigo, um terapeuta ou um profissional de saúde.

— As pessoas solitárias têm mais controle sobre a situação do que pensam que têm — conclui Hawkley.