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Milei abre caminho para privatização da Aerolíneas Argentinas; entenda

Medida autoriza a entrega das ações da companhia aos trabalhadores. Ainda não se sabe como os funcionários, caso aceitem ser proprietários, devem lidar com déficits acumulados

O novo presidente da Argentina, Javier Milei, fala à multidão de uma varanda do palácio do governo Casa Rosada durante sua posse em Buenos Aires, em 10 de dezembro de 2023 - Emiliano Lasalvia/AFP

Empossado recentemente como presidente da Argentina, Javier Milei anunciou um novo “megadecreto”, com medidas para a desregulação de vários setores da economia. Por meio delas, o governo abriu caminho para entregar aos trabalhadores a Aerolíneas Argentinas e suas controladas, tornando possível que outras empresas operem esse mercado. Assim, qualquer companhia pode oferecer voos domésticos e internacionais, sem a necessidade de tratados bilaterais.

"É autorizada a transferência, parcial ou total, do pacote de ações da Aerolíneas Argentinas e Austral Líneas Aéreas, e suas controladas, aos funcionários das respectivas empresas de acordo com o Programa de Propriedade Compartilhada" diz um dos artigos.

O decreto muda a redação da lei que reestatizou a Aerolíneas em 2008. O texto dizia justamente que a empresa não poderia ser privatizada novamente.

Segundo o jornal local La Nación, o governo tomou cuidado para não falar da privatização da companhia aérea diretamente. O que fizeram foi manter o quadro regulamentar em vigor para que a propriedade passasse para as mãos dos trabalhadores.

O decreto não aborda como os funcionários, caso aceitem ser proprietários das companhias, devem financiar os déficits que elas vêm acumulando em anos recentes.

De acordo com o atual presidente da Aerolíneas, Luis Pablo Ceriani, a Aerolíneas terá um resultado positivo pela primeira vez em quinze anos, com faturamento de US$ 2,4 bilhões e superávit de US$ 30 milhões.

Desde 2008, o Tesouro argentino transfere fundos para cobrir perdas de companhias aéreas. Já foram aportados US$ 8 bilhões nesses quinze anos. Ainda assim, os sindicatos já se articulam e dizem que não querem que o Estado deixe de ser dono da empresa.

Outras medidas também devem ter impacto relevante no mercado de aviação comercial, como a consagração da política de “céus abertos”. Companhias aéreas de todas as origens passam a ser autorizadas a operar voos domésticos e internacionais, desde que demonstrem a solvência técnica e financeira.

Segundo o novo texto, a decolagem, circulação e pouso de aeronaves acontecem de forma gratuita no espaço aéreo argentino, desde que não sejam limitadas pela legislação vigente.