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Imigrantes contam como é viver em controversa "prisão flutuante" no Reino Unido

Uso de barcaças para receber estrangeiros foi alvo de críticas

Bibby Stockholm, o navio em que o governo britânico pretende abrigar migrantes irregulares, manobra na ilha de Portland - Divulgação

Um grupo de homens desce de um ônibus azul perto do centro do balneário inglês de Weymouth. Eles parecem aliviados por terem saído da sua “prisão” por algumas horas, enquanto escalam a barcaça — chamada de "prisão flutuante" por críticos — onde o governo britânico aloja os requerentes de asilo.

— Temos liberdade de movimento limitada — disse Hasan James, de 38 anos, um refugiado nigeriano.

Ele pegou o ônibus azul que circula de hora em hora entre o centro de Weymouth e o barco “Bibby Stockholm”, localizado em uma área do porto de Portland onde o acesso é muito limitado.

Cada vez que saem e retornam ao polêmico navio, seus moradores devem se identificar, passar por um scanner de segurança e também são revistados.

Antes de ser colocado naquele barco, há um mês, James morava em um hotel em Londres.

“É difícil” conviver com a sensação de estar preso, reconhece o nigeriano, que chegou ao Reino Unido com um visto já caducado.

O governo britânico, liderado pelo conservador Rishi Sunak, decidiu alojar 500 migrantes na “Bibby Estocolmo” para desencorajar a chegada de migrantes, além de reduzir o custo dos hotéis para a administração pública britânica.

Os primeiros chegaram em agosto, mas tiveram que ser transportados devido à contaminação nas tubulações da barcaça. Eles retornaram em outubro e eram cerca de 200 em novembro.

— É como uma prisão, é muito deprimente — lamenta o iraniano Lodman, de 50 anos, que não se queixa da comida nem do seu quarto, mas sim do fato de estar trancado.

 

“Estamos no mar, tratam-nos como se fôssemos peixes”, acrescenta um indignado jovem iraquiano, de 22 anos, que prefere não revelar o seu nome por medo de que isso afete o seu pedido de asilo.

Segundo ele, “somos muitos” no barco e isso faz com que possíveis atividades no interior, como praticar esporte num ginásio, percam o interesse.

"Respirar"
No dia 12 de dezembro, um dos migrantes alojados no "Bibby Stockholm" morreu. Foi encontrado enforcado no seu quarto.

Seu nome era Leonard Farruku, ele tinha 27 anos e nacionalidade albanesa. Ainda é possível ver buquês de flores em sua memória por trás das barreiras que impedem o acesso à academia.

“Vamos lutar até o fim para acabar com essa falta de humanidade”, alerta uma das mensagens ao lado das flores.

James, que não conhecia o morador que supostamente cometeu suicídio, afirma que “alguns estão começando a sofrer problemas psicológicos”.

Muitos vão a Weymouth várias vezes por semana. “Só para passear e tomar ar”, diz o jovem iraquiano, que garante que também vão lá para comprar Coca-Cola e assim gastar a indenização de 9,58 libras (R$ 59). que o governo britânico lhes dá todas as semanas.

Os refugiados não passam despercebidos entre os habitantes desta cidade do sul da Inglaterra.

Quando foi anunciada a realocação dos requerentes de asilo no navio, alguns residentes manifestaram hostilidade contra aquele projeto e a presença de refugiados na área. Apesar disso, os refugiados ainda não sabem quando poderão deixar de viver naquela “prisão”.

— Rezamos para que seja o mais rápido possível — afirma James, que também espera que o seu pedido de asilo seja aceito.

Solicitante de asilo morreu
Um solicitante de asilo morreu em 12 de dezembro a bordo de uma barcaça usada, apesar das fortes críticas, para abrigar imigrantes em um cais no sudoeste da Inglaterra, informou a polícia. A polícia de Dorset disse que foi comunicada às 6h22 (3h22 no horário de Brasília) sobre a "morte súbita de um residente" da barcaça "Bibby Stockholm", descrita como uma "prisão flutuante", atracada no porto inglês de Portland.

No canal Sky News, Heather Haddow, coordenadora da associação local Portland Global Friendship, falou sobre seus receios de que uma morte como essa ocorresse.

— É uma preocupação real. É algo sobre o qual todos falamos no grupo, como apoiar as pessoas para prevenir um suicídio, mas sabíamos que ia acontecer — disse.

Segundo ela, o imigrante falecido havia chegado recentemente e era de um país africano.

— Ele nunca deveria ter sido colocado naquela embarcação — disse Heather Haddox. — Ontem ele pediu ajuda.