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China limita uso de games, levando Tencent e suas rivais a perderem US$ 80 bi na Bolsa

Pelas novas regras, usuários não poderão receber recompensas se jogarem todos os dias e se gastarem dinheiro várias vezes seguidas

Sede da Tencent em Shenzhen - Reprodução/ Wikipedia

A China anunciou novas regras para restringir práticas que incentivam jogadores a gastarem mais dinheiro e tempo em videogames. As medidas vetam que jogos on-line recompensem aqueles que se conectam todos os dias para jogar. O veto também se aplica aos usuários que gastarem dinheiro em plataformas de games pela primeira vez e aos jogadores que gastarem dinheiro várias vezes seguidas.

As mudanças provocaram pânico entre os investidores. As ações da Tencent, maior empresa desse segmento no mundo, caíram 16% depois do anúncio, nesta sexta-feira. As da NetEase despencaram 28% e as da Bilibili recuaram 14%. Combinadas, essas empresas perderam quase US$ 80 bilhões em valor de mercado.

Segundo a Bloomberg, as regulamentações surgiram sem aviso. Os investidores não conseguiram entender as possíveis consequências, sobretudo porque as autoridades chinesas incentivaram os esportes eletrônicos como um motor para a economia nos últimos meses.

O próprio presidente chinês, Xi Jinping, participou da cerimônia de abertura dos 19º Jogos Asiáticos em Hangzhou, que incluiu o videogame profissional entre as modalidades que disputam medalhas.

Os jogos chineses são conhecidos por seus designs inteligentes e promoções que incentivam os jogadores a gastar em decorar e aprimorar seus avatares, a principal fonte de receita para as empresas de games.

Em um feed separado no WeChat, investidores e funcionários da Tencent criticaram as regras como irracionais e desconectadas.

"As medidas do governo para conter os jogos vão prejudicar os ganhos das empresas. Mas a preocupação mais importante é que as pessoas estão temendo que mais medidas direcionadas ao setor venham" disse Yang Junxuan, gestor de fundos na Shanghai Junniu Private Fund Management, em entrevista à Bloomberg.

Desde 2020, o Partido Comunista trava uma campanha contra o segmento de videogames porque considera que essas empresas estão acumulando poder demais e crescendo de modo imprudente.

O governo de Xi Jinping procura combater a dependência dos jogos há tempos, culpando o entretenimento on-line pelo aumento da miopia entre os jovens. Os chineses passam mais tempo on-line em média do que consumidores de muitos outros mercados.

Mesmo que o foco de Pequim permaneça nos jogos, as regulamentações podem sinalizar uma mudança no modelo tradicional “freemium”, em que os usuários baixam games gratuitamente, mas gastam grandes quantias dentro deles para obter vantagens ou criar identidades virtuais.

Essa abordagem tem sido alvo de escrutínio em países como o Japão por conta da sua natureza viciante e propensão a incitar os jogadores mais jovens a gastar.

O vice-presidente de jogos da Tencent Zhang Wei afirmou em comunicado que as medidas regulatórias não mudarão fundamentalmente seu modelo de negócios ou operações.