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Saiba quem é Zinho, "inimigo número 1 do RJ" que se entregou na véspera de Natal

Luis Antonio da Silva Braga é líder da maior milícia do Rio

Luís Antonio da Silva Braga, o Zinho - Reprodução

Com 12 mandados de prisão contra si e procurado desde 2018, Luis Antonio da Silva Braga, o Zinho, líder da maior milícia do Rio, se entregou neste domingo à Polícia Federal, após negociação com a corporação e a Secretaria de Segurança Pública. Em vez das ruas da Zona Oeste, dominada pelo seu bando, no entanto, agora Zinho está preso no presídio José Frederico Marques, em Benfica, na Zona Norte do Rio. Com investigação sobre ligação com deputada ou por mandar matar Jerônimo Guimarães Filho, o Jerominho, fundador da milícia, saiba quem é o criminoso.

O release divulgado pelo governo do Estado informando a sua prisão definiu Zinho como o "inimigo número 1 do Rio", ação comemorada pelo governador Cláudio Castro.

"Essa é mais uma vitória das polícias e do plano de segurança, mas da sociedade. A desarticulação desses grupos criminosos com prisões, apreensões e bloqueio financeiro e a detenção desse mafioso provam que estamos no caminho certo", afirmou o governador.

O que o Ministério Público apontou recentemente é que Zinho, por medo de ser rastreado e pego pela polícia, evitava o uso de aplicativos de conversa e, quando precisava fazê-lo, tinha o comparsa Andrei Santos de Melo, conhecido como Cansado ou Fechamento, como seu "garoto de recados".

Mas a liderança à frente do grupo também teve outros nomes apontados como "zero dois". Um deles era o sobrinho Matheus da Silva Rezende, conhecido como Faustão ou Teteus, que foi morto em ação da Polícia Civil em outubro deste ano no bairro de Santa Cruz, na Zona Oeste.

Em represália à baixa no grupo, 35 ônibus, caminhões, carros e até um trem foram incendiados, em um ataque em massa que se concentrou em bairros da Zona Oeste e dificultou a volta para casa na ocasião. Para o lugar de Faustão, o escolhido teria sido Rui Paulo Gonçalves Estevão, o Pipito, considerado um homem de guerra.

O grupo paramilitar, antes de ter Zinho à sua frente, foi comandado por seus irmãos, ambos mortos: Carlos Alexandre da Silva Braga, o Carlinhos Três Pontes, morto em uma troca de tiros com policiais da Delegacia de Homicídios da Capital em 2017; e Wellington da Silva Braga, o Ecko, que morreu em 2021, num tiroteio com policiais civis.

A atuação de Zinho envolveria ainda a deputada estadual Lucinha, chamada de "madrinha", que seria responsável por lutar pelo interesse das vans, fonte de renda para o bando; assim como pela intervenção por operações contra Danilo Dias Lima, seu rival, conhecido como Tandera; e até mudança no comando de batalhão da área.

Chefe da maior milícia do Rio com ficha criminal extensa
Com doze mandados de prisão expedidos em seu nome, segundo o governo do estado, Luís Antônio da Silva Braga, o Zinho, é o miliciano mais procurado do Rio de Janeiro. Sentenças e despachos de magistrados, referentes a decretações de prisões preventivas do bandido, a última delas publicada no último dia 15, apontam-no como chefe do maior grupo paramilitar da Zona Oeste.

Dados de processos revelam ainda que Zinho responde, entre outras acusações, por ordenar o uso de carros clonados para localizar e executar rivais, por ser mandante da morte do ex-vereador Jerônimo Guimarães Filho, o Jerominho, apontado pela polícia como um dos fundadores da milícia, e por determinar o pagamento de propina a policiais para ser informado de operações.

A lista de crimes inclui ainda um esquema milionário de lavagem de dinheiro em que Zinho teria usado o nome da mãe de um comparsa para movimentar mais de R$ 4 milhões em uma conta bancária. O dinheiro seria uma pequena parte das extorsões praticadas pelo grupo criminoso. As informações constam de um processo que apura crime de organização criminosa, em trâmite na 1ª Vara Criminal Especializada da Capital.

A mesma investigação menciona a ordem de Zinho para oferecimento de propina a policiais civis e militares para ser informado sobre operações para sua captura. Zinho também determinava o uso de carros clonados pelo bando. "Na condição de líder do grupo criminoso, concorreu eficazmente para a prática de diversos delitos de receptação, à medida que, por deter o domínio final dos atos criminosos da malta, determinou que seus subordinados recebessem, ocultassem e conduzissem veículos 'clonados', que sabia serem produtos de crime. Tais veículos eram utilizados pela horda para a condução das atividades ilícitas inerentes à existência e à estabilidade do grupo, em especial para a realização de "levantamentos" de informações de rivais que seriam por eles eliminados e para a prática de homicídios", escreveu o magistrado em um dos trechos da decisão.

Assassinato de Jerominho
Já o assassinato de Jerônimo Guimarães Filho, o Jerominho, vereador no município do Rio entre os anos 2000 e 2008, é citado em outro processo, da 1ª Vara Criminal da Capital, que trata de crime de homicídio. No despacho em que decretada mais uma prisão contra Luís Antônio da Silva Braga, em setembro de 2023, há a informação de que Zinho e seu sobrinho Matheus da Silva Rezende, o Tetheus, seriam os responsáveis pela ordem para executar Jerominho. O crime teria acontecido, segundo informação que consta na investigação, por uma suposta disputa de território. Como Jerominho teria sido um dos fundadores da milícia na região, Zinho temia que o ex-parlamentar, que ficou preso por 11 anos e ganhou a liberdade em 2018, após ser absolvido no último processo que respondia, tentasse retomar o controle do grupo paramilitar.

O crime aconteceu próximo a um supermercado, em 4 de agosto de 2022. Na ocasião, um amigo de Jerominho que o acompanhava também foi baleado. Ele foi socorrido, mas um mês depois não resistiu aos ferimentos e morreu em um hospital da Zona Oeste. De acordo com o processo, as investigações apontaram que o miliciano Alan Ribeiro Soares, o Nanã e outros dois homens seriam os executores do crime.

Dois dos acusados de envolvimento no duplo homicídio já estão mortos. Matheus da Silva Rezende, o Faustão, sobrinho de Zinho e segundo na hierarquia da quadrilha de Zinho, foi morto numa troca de tiros com policiais civis, em 23 de outubro deste ano. Em represália, o bando incendiou 35 ônibus na Zona Oeste. Já Nanan foi morto em um tiroteio com milicianos rivais no dia 3 de novembro, em Santa Cruz, também na Zona Oeste. Ele havia rompido com Zinho e formado sua própria milícia. Segundo a polícia, Nanan estava envolvido numa disputa de território com o bando comandado por seu ex-chefe.

Entre as dez prisões decretadas, há ainda processos sobre crimes contra o sistema nacional de armas (posse ou comercialização de armas e munição), organização criminosa, lavagem de dinheiro e homicídios.

Entre os assassinatos, estão as mortes de André Luiz Rosa de Sousa e Leandro de Oliveira Moreno, ocorridas no dia 5 de abril de 2022, em Seropédica, na Baixada Fluminense. Apontados em investigações como ex-integrantes da quadrilha de Danilo Dias Lima, o Danilo Tandera, rival de Zinho, os dois teriam sido mortos após passarem a trabalhar para Zinho. A ordem para eliminar a dupla, responsável por instalar TV a cabo clandestina na comunidade dos Jesuítas, em Santa Cruz, teria sido uma espécie de demonstração de força do chefe da milícia da Zona Oeste. Segundo a investigação, os dois estavam executando esses serviços fora da área determinada pelo comando da milícia.

"Os crimes de homicídio foram praticados por motivo torpe, qual seja afirmação de poder da organização criminosa liderada pelo terceiro denunciado (Zinho), de modo que servisse de lição para que os seus integrantes não descumprissem suas ordens. A primeira e a segunda vítimas eram ex-integrantes da milícia liderada por Danilo Tandera', sendo certo que estavam, há cerca de dois meses, atuando na milícia comandada por 'Zinho', mas estavam executando serviços de instalação de 'gatonet'' fora da área determinada pela milícia chefiada pelo terceiro denunciado (Zinho), pois as vítimas seriam os 'técnicos' responsáveis apenas pela área da Comunidade Jesuítas", escreveu o juízo da Vara de Criminal de Seropédica no despacho em que decreta, no dia 1º de novembro, a prisão preventiva de Zinho e de outros dois suspeitos de serem os autores do duplo assassinato.