Com prisão de Zinho, Tandera e Abelha são os criminosos mais procurados do Rio; veja perfis
O nome dos três bandidos foi dito pelo governador do Estado, Cláudio Castro, que afirmou que só descansaria após eles serem presos
Com Luis Antonio da Silva Braga, o Zinho, atrás das grades, fica pendente a prisão de outros dois bandidos do estado: Danilo Dias Lima, o Tandera, e Wilton Carlos Rabelo Quintanilha, o Abelha.
O anúncio de que os três estavam na mira da polícia partiu do governador Cláudio Castro, em outubro, após a série de ataques a ônibus pela Zona Oeste do Rio, em represália à morte do segundo nome mais importante do Bando de Zinho, o seu sobrinho Matheus da Silva Rezende, o Faustão.
Na ocasião, Castro disse que não descansaria enquanto os três não fossem presos.
Luis Antonio da Silva Braga, o Zinho, chefe da maior milícia fluminense, entregou-se à Polícia Federal neste domingo, véspera de Natal. Foragido desde 2018, a investida mais recente contra ele foi na última semana, quando ele e outros 11 nomes de seu bando foram alvos de mandados de prisão, em operação realizada pela Polícia Federal e pelo Ministério Público do Rio.
Na mesma semana, a deputada estadual Lucinha foi alvo de buscas e apreensões, além de ter um pedido de afastamento da Assembleia Legislativa do Rio. O documento precisou ser encaminhado à Procuradoria Legislativa, já que essa foi uma "matéria jurídica inédita" para a Alerj. Ela é apontada como braço político da milícia de Zinho.
Entre os assuntos defendidos por ela, que seriam de interesse do bando, estaria a manutenção de uma "brecha", que permitia que vans — fonte de renda à milícia — circulassem fora de seu itinerário original. Além disso, pedido de operação contra o rival Tandera, ou intervenções para livrar presos pela polícia teriam ocorrido a pedido do grupo paramilitar.
Já Danilo Dias Lima, o Tandera, é ex-integrante do bando que, no passado, foi comandado pelo irmão de Zinho, Wellington da Silva Braga, o Ecko.
No entanto, após sucessivos rachas, os antigos aliados passaram a guerrear pelo controle de vários territórios, sobretudo na Zona Oeste da capital — palco dos ataques nesta segunda-feira — e na Baixada Fluminense. Por fim, Wilton Carlos Rabelo Quintanilha, o Abelha, é membro da cúpula da principal facção do tráfico de drogas do estado.
Abaixo, saiba mais sobre cada um dos três bandidos:
Luis Antônio da Silva Braga, o Zinho
À frente da maior milícia do estado, Luís Antônio da Silva Braga ascendeu ao posto de chefe do bando há pouco mais de dois anos, com a morte do irmão Wellington da Silva Braga, o Ecko. Assim como o parente, ele não teve passagem pelas forças policiais, ao contrário de muitos dos comandantes da quadrilha que os antecederam.
Antes de assumir o controle do grupo, Zinho ficava encarregado da contabilidade e da lavagem do dinheiro oriundo das atividades ilegais.
O primeiro dos irmãos Braga a entrar para a milícia foi Carlos da Silva Braga, o Carlinhos Três Pontes. A adesão foi durante a expansão dos domínios dos paramilitares pela região que lhe rendeu o apelido, quando traficantes começaram a trocar de lado, passando de rivais a aliados. Três Pontes virou uma espécie de braço direito do então chefe da quadrilha, o ex-PM Toni Ângelo. Pouco depois, Ecko e Zinho também entraram para o bando.
Atualmente, segundo estimativas da polícia, Zinho arrecada apenas na área que engloba a maior parte dos bairros de Santa Cruz, Campo Grande e Paciência uma quantia que varia de R$ 5 milhões a R$ 10 milhões mensais. O maior volume das cifras milionárias movimentadas vem do transporte alternativo.
Só com cobrança de taxas de motoristas de vans, a milícia recebe de R$ 1 milhão a R$ 2 milhões por mês, de acordo com investigações. Entre negócios explorados pelos grupos paramilitares estão ainda a venda clandestina de sinal de TV a cabo e a cobrança de taxas de segurança.
Desde a véspera do Natal, após se entregar à polícia, Zinho está no presídio José Frederico Marques, em Benfica, na Zona Norte do Rio.
Danilo Dias Lima, o Tandera
Danilo Dias Lima traz tatuado no peito o Olho de Tandera, símbolo dos Thundercats, seriado de animação que fez sucesso no Brasil em meados dos anos 80. Além dele, de acordo com informações obtidas pela polícia, seus principais aliados fizeram o mesmo desenho na pele.
Antigo parceiro no crime de Ecko e Zinho, Tandera rompeu com o grupo e, ao lado dos próprios comparsas, passou a invadir territórios sob domínio dos ex-chefes, passando a controlar regiões de cidades como Seropédica, Queimados e Nova Iguaçu, todas na Baixada Fluminense. O paramilitar é conhecido pelo estilo bélico e pela brutalidade com que busca perpetuar suas atividades criminosas.
Em denúncia do Ministério Público do Rio (MP-RJ) contra a milícia comandada por ele, foram incluídos vídeos, imagens e relatos da extrema violência. Entre os registros, há cenas de decapitação, assassinatos a tiros, amputação, humilhação e zombaria diversas das vítimas.
Uma outra apuração do MP-RJ revelou que a quadrilha de Tandera lava dinheiro por meio de operações financeiras com criptomoedas. Um pente-fino nos negócios de Marcelo Morais dos Santos, o Grande, acusado de ser uma espécie de braço direito de Tandera, detectou uma série de transferências para uma empresa especializada em transações com criptoativos.
Wilton Carlos Rabello Quintanilha, o Abelha
Único traficante entre os três bandidos citados por Castro, Wilton Carlos Rabello Quintanilha é um dos membros mais importantes, fora da cadeia, da cúpula da maior facção fluminense.
Não foi sempre assim, porém: ele saiu pela porta da frente do Presídio Vicente Piragibe, no Complexo do Gericinó, em julho de 2021, mesmo tendo um mandado de prisão pendente expedido em seu nome. O episódio deflagrou uma crise em diferentes órgãos da segurança pública do estado.
Três dias antes de deixar a cadeia, a unidade em que Abelha se encontrava recebeu três tortas de uma famosa panificadora, seis embalagens de cortes de frango fresco, salgadinhos em “quantidade razoável”, uma caixa grande de cigarros e oito bolos pequenos.
A data — 24 de julho, um sábado — coincidia com o aniversário de 50 anos de Wilton, que teria dado uma festa dentro do Vicente Piragibe, o que motivou uma investigação da Vara de Execuções Penais (VEP) do Rio e o Ministério Público do Rio (MPRJ).
O traficante é considerado foragido desde então. Ele teve a prisão decretada em processo no qual é réu pelo homicídio de Ana Cristina Silva, de 25 anos, baleada durante a invasão do bando dele ao Morro de São Carlos, no Estácio, no dia 26 de agosto de 2021. O caso ganhou repercussão à época porque a jovem, que acabou atingida na cabeça por um tiro de fuzil, se curvou para proteger o filho de 3 anos.
O bando de Abelha esteve envolvido em diferentes frentes de confronto no passado recente, em especial em bairros da Zona Oeste. Só a favela da Gardênia Azul, por exemplo, foi palco de dez tentativas de invasão em um período de pouco mais de um mês, entre o fim do ano passado e o início de 2023.
Neste contexto, Wilton chegou a firmar acordos com grupos milicianos rivais aos paramilitares que ele combate, ampliando ainda mais a disputa entre quadrilhas na região.
Um capítulo recente, no entanto, mostra que Abelha perdeu o protagonismo em seu bando. Ele teria sido destituído do alto posto da cúpula. A Polícia Civil investiga a informação, recebida pelo setor de inteligência da corporação, dando conta de que Márcio Nepomuceno dos Santos, o Marcinho VP, apontado como chefe da facção, teria ordenado a destituição de Abelha, já substituído por Luciano Martiniano da Silva, o Pezão.