Ciência

Cientistas italianos criam "interruptor molecular" para melhorar a memória; entenda

Em estudo com ratos idosos, pesquisadores modificaram geneticamente uma proteína que, ativada por um medicamento, apresentou resultados eficazes

A memória é um processo complexo, que inclui mudanças nas sinapses, conexões entre os neurônios - Pixabay

Cientistas italianos criaram uma proteína geneticamente modificada que melhora a memória, segundo estudo publicado na última quarta-feira na revista Science Advances.

A equipe de pesquisadores modificou a proteína LIMK1, normalmente ativa no cérebro, para adicionar um “interruptor molecular” ativado pela administração de rapamicina, medicamento conhecido por efeitos anti-envelhecimento no cérebro.

Em animais com declínio cognitivo relacionado com a idade, o uso desta terapia produziu “uma melhoria significativa na memória”.

É o que afirmou o principal autor do estudo, Cristian Ripoli, da Universidade Católica do Sacro Cuore (Itália), à agência Efe. A investigação, afirmou, tem “grandes aplicações potenciais, melhorando a nossa compreensão da função da memória e facilitando a identificação de soluções inovadoras”.

— [A investigação] pode facilitar a identificação de soluções inovadoras para doenças neuropsiquiátricas como a demência — disse.

Líder da equipe, Cláudio Grassi, da Universidade Agostino Gemelli, explicou que a memória é um processo complexo que inclui mudanças nas conexões entre os neurônios, chamadas sinapses, em áreas específicas do cérebro, como o hipocampo, que desempenha um papel essencial na formação da memória.

Este fenômeno, conhecido como plasticidade sináptica, envolve mudanças na estrutura e função das sinapses que ocorrem quando um circuito neural é ativado, por exemplo, por experiências sensoriais. Estas experiências promovem a ativação de vias de sinalização complexas nas quais numerosas proteínas estão envolvidas.

Proteína LIMK1 e rapamicina
Algumas dessas proteínas são particularmente importantes para a memória, e uma delas é a LIMK1. Ela tem um papel relevante nos processos de aprendizagem, por exemplo.

Nesse sentido, o objetivo do estudo foi regular a atividade dessa proteína e controlá-la com um medicamento, o que significa “poder promover a plasticidade sináptica e, portanto, os processos fisiológicos que dela dependem”, destacou Grassi.

A chave desta estratégia que combina genética e química está ligada ao uso da rapamicina. A modificação da proteína LIMK1 através da inserção de um interruptor molecular permite que esta seja ativada pela administração de rapamicina.

Esta abordagem permite a manipulação da plasticidade sináptica e dos processos de memória em condições fisiológicas e patológicas, além de “abrir caminho para o desenvolvimento de novas proteínas 'projetadas' que poderiam revolucionar a investigação e a terapia no campo da neurologia”, frisou Ripoli.

O próximo passo será verificar a eficácia deste tratamento em modelos experimentais de doenças neurodegenerativas que apresentam 'déficits' de memória, como o Alzheimer. Além disso, serão necessários mais estudos para validar o uso desta tecnologia em humanos.