Quer comprar uma ilha na Baía de São Francisco, vizinha a Alcatraz? Custa só R$ 122 milhões
Mas é melhor avisar: investimento está muito longe das areias brancas, palmeiras, jardins e casas grandes imaginadas
As palavras “ilha privada” evocam visões de bebidas mai tai, palmeiras e tardes solitárias numa praia de areia branca. A Red Rock Island, contudo, não é esse tipo de ilha: é um terreno em forma de abóboda, de seis acres, que é difícil de alcançar e ainda mais difícil de explorar. Sua escassa vida vegetal consiste em arbustos e pinheiros desgrenhados, junto com matagais de carvalho venenoso. As suas praias são rochosas e as suas encostas, íngremes.
Esqueça os mai tais. Esta ilha não tem bar, muito menos trilhos, água potável, eletricidade ou estruturas de qualquer tipo. Você pode pegar um barco particular lá, mas não tem cais. Você pode pilotar um helicóptero até lá, mas não há pista de pouso. E por US$ 25 milhões (R$ 122 milhões), tudo pode ser seu.
— Acreditamos que isso é como possuir um Leonardo da Vinci ou um Rothko — disse Chris Lim, corretor imobiliário de São Francisco que representa o vendedor. — É algo que alguém gostaria de ter em seu portfólio, como uma arte ou uma escultura.
As ilhas próximas tornaram-se famosas — Alcatraz, a antiga penitenciária federal que abrigava criminosos cruéis, é conhecida como “The Rock”. Outras servem para fins recreativos, como a Angel Island, um antigo posto militar e centro de imigração que hoje funciona como um parque estadual. Mas a Red Rock Island, a única ilha privada na Baía de São Francisco, é mais uma curiosidade ociosa para os norte-californianos, que se perguntam sobre a mancha vermelha e ocasionalmente a visitam de caiaque ou canoa.
O sonho da propriedade de uma ilha há muito tempo atrai a imaginação dos ricos e famosos. Entre essas celebridades, estão Richard Branson, Johnny Depp e George Clooney. O site imobiliário Private Islands Inc. lista 607 que estão no mercado ou foram vendidas recentemente, 116 delas nos Estados Unidos.
Chris Krolow, CEO do site, disse que a maioria dos compradores são executivos americanos que já possuem inúmeras casas e desejam um projeto novo e invejável.
— Os americanos gostam de ter propriedades. Eles têm orgulhoso — afirmou Krolow, canadense que tem 13 ilhas no Canadá, Belize e Fiji. — A ideia de ter a sua própria ilha realmente se enquadra no espírito empreendedor americano.
Lim espera encontrar um bilionário que não tenha mais itens diferenciados para comprar. E só há uma ilha à venda na Baía de São Francisco, o centro de uma das regiões mais ricas do mundo. (O Censo Altrata Billionaire deste ano contou 84 bilionários vivendo em São Francisco, atrás apenas da cidade de Nova York e Hong Kong.)
Rara
Porém, ter uma ilha pode trazer suas próprias frustrações. Um patologista nova-iorquino, Albert Sutton, certa vez comprou duas ilhas em Long Island Sound, menos de uma hora ao norte de Manhattan. “Eu fui arrogante”, disse ele ao The Times em 2019, observando que os US$ 8 milhões de dólares que investiu em melhorias, incluindo painéis solares e uma unidade de dessalinização, diminuíram o custo das próprias ilhas. Desde então, Sutton morreu e sua família não conseguiu vender as ilhas, apesar de ter reduzido significativamente o preço pedido, de acordo com Krolow, que afirmou tê-los orientado.
Mesmo assim, Red Rock atraiu algum interesse. Dois corretores imobiliários vieram recentemente de Miami para procurar um cliente bilionário, chegando à ilha em um barco particular.
— Não há nada igual — disse Suzanne Santos, uma das agentes de Miami. — É perto de tudo, mas separado e isolado. Isso é raro.
Os visitantes foram aconselhados a usar galochas, porque o barco não tinha onde atracar e para chegar à ilha pode ser necessário caminhar ou saltar até à praia numa distância imprevisível que depende da maré. Assim que chegaram à costa, repleta de lixo e um sapato perdido, eles avistaram uma refinaria de petróleo da Chevron à direita, a prisão de San Quentin à esquerda e a ponte Richmond-San Rafael logo à frente.
Na curva, depois de tropeçar em troncos e pedras, eles puderam ver os guindastes no porto de Oakland, o horizonte de São Francisco, o sol brilhando na baía e as gaivotas voando no alto. O topo da ilha é mais um mistério. Não há trilhas para subir pelas laterais de cascalho e nem cordas para se segurar. As encostas são tão íngremes que aqueles que tentam subir tendem a deslizar de volta para baixo, com as mãos arranhadas e cobertas de pó carmesim como única lembrança.
Aqueles que chegam ao topo, no entanto, descobrem belas vistas panorâmicas da baía, disse James Martin, que tirou fotografias para o livro de mesa de 2006, “As Ilhas da Baía de São Francisco”, e subiu com sucesso ao topo três vezes. Não é difícil, disse ele, imaginar o isolamento pacífico da vida lá em cima — se ao menos tivesse US $25 milhões, mais riquezas adicionais poderiam ser acrescentadas para desenvolver a ilha.
Décadas antes de a corrida do ouro atrair os caçadores de fortuna para o Ocidente, a Red Rock era habitada por comerciantes de peles russos que saquearam a população de lontras marinhas no início do século XIX. Selim Woodworth, comandante da Marinha dos EUA e senador estadual, mais tarde construiu ali uma cabana que não existe mais. No final de 1800, a ilha foi usada para extrair manganês, a rocha vermelha de mesmo nome, para pigmentos de tintas. Dois túneis de mineração ainda podem ser avistados na região.
A cadeia de propriedade é complicada e pouco clara, mas alguns fatos são certos: David Glickman, um advogado, comprou a ilha por US$ 49,5 mil em 1964. Depois de se mudar para a Tailândia para trabalhar no negócio de pedras preciosas, ele concedeu a propriedade ao seu parceiro de negócios, Mac Durning. Quando Durning morreu, em 2012, seu filho, Brock Durning, que agora mora no Alasca, a herdou.
O jovem Durning passou um tempo acampando e fazendo caminhadas na ilha quando criança, crescendo em East Bay, mas há anos não põe os pés em sua ilha particular. Agora, ele quer vendê-lo para pagar os cuidados de sua mãe doente, segundo Lim.
Ele e os proprietários anteriores tentaram vender a Red Rock antes, mas sem sucesso. O potencial comprador mais famoso foi Bhagwan Shree Rajneesh, o guru cujos seguidores de uma comunidade de Oregon contaminaram deliberadamente saladas com salmonela na esperança de influenciar as eleições municipais na década de 1980.
Rajneesh deixou os EUA em 1985 como parte de um acordo judicial sobre acusações de fraude de imigração, antes da compra da ilha ser concretizada.
Desta vez, disse Lim, três potenciais compradores mostraram interesse até agora — o bilionário baseado em Miami e dois residentes locais.
'Ilhas decorativas'
E o que o próximo proprietário poderá fazer com a Red Rock? Lim forneceu planos que Brock Durning manteve todos esses anos, mostrando um porto para barcos e um heliporto, além de jardins botânicos, uma casa de chá e um restaurante. No topo? Uma capela para casamentos. Outras ideias incluíram um hotel, moradia e até um clube Playboy.
Krolow disse que viu a ilha entrar e sair do mercado por cerca de 20 anos, com seu preço flutuando entre o mínimo de US$ 5 milhões e o máximo atual de US$ 25 milhões. Por isso, não está otimista. Ele não acredita que o empreendimento seja possível, considerando a forte oposição que os residentes da Bay Area têm a praticamente qualquer proposta de urbanização. A Red Rock tem a complicação adicional de estar localizada em três condados diferentes que se cruzam na baía.
— Nós as chamamos de nossas ilhas decorativas — disse Krolow. — Elas são muito bonitas e chamam muita atenção, mas não vendem.
Sejal Choksi-Chugh, diretora executiva da organização ambiental sem fins lucrativos San Francisco Baykeeper, afirmou esperar que nenhuma das ideias de desenvolvimento se concretize. Ela acredita que a ilha deveria ficar para os pássaros — literalmente — e se tornar um santuário para gaivotas, garças e biguás.
— Me oponho [à ideia de] que alguns bilionários comprem apenas porque querem ter o direito de se gabar — disse ela. — Parece um exercício inútil.