Miliciano Zinho: o histórico de crimes do bandido mais procurado do Rio
Zinho tinha 12 mandados de prisão em aberto e estava foragido desde 2018, já foi preso duas vezes
Preso no último domingo (24), véspera de Natal, pela Polícia Federal, Luis Antônio da Silva Braga, o Zinho, foi apontado pelo governo do Rio como seu inimigo número um. Isso porque, além de dominar a Zona Oeste da capital fluminense, seu grupo é responsável por inúmeros crimes no estado. Ao todo, contra o paramilitar haviam 12 mandados de prisão em aberto, e ele estava foragido desde 2018. Zinho foi detido após uma tratativa entre seus advogados e autoridades. Sua prisão se deu seis dias após uma operação ser deflagrada contra a deputada estadual Lucinha (PSD) — a qual é suspeita de ter ligações com o grupo.
À frente da maior milícia do estado, Luís Antônio da Silva Braga ascendeu ao posto de chefe do bando há pouco mais de dois anos, com a morte do irmão Wellington da Silva Braga, o Ecko. Assim como o parente, ele não teve passagem pelas forças policiais, ao contrário de muitos dos comandantes da quadrilha que os antecederam. Antes de assumir o controle do grupo e espalhar pânico pela Zona Oeste, Zinho ficava encarregado da contabilidade e da lavagem do dinheiro oriundo das atividades ilegais.
Nesse período, já capturado pela polícia em duas ocasiões. Ele, no entanto, acabou solto em ambas. Na primeira vez, em 2015, foi beneficiado por uma decisão judicial e saiu da cadeia pela porta da frente. Na segunda, em 2017, uma investigação apontou que ele pagou R$ 20 mil aos policiais civis responsáveis por sua prisão e deixou a delegacia sem ser incomodado. As informações foram divulgadas na série especial sobre as milícias, dentro do projeto exclusivo para assinantes Tem Que Ler, do jornal O Globo. Em seu quinto e último episódio, é mostrado como a impunidade e a corrupção policial são entraves para o combate aos grupos paramilitares do Rio.
Zinho passou quatro dias na cadeia na primeira vez em que foi preso. Ainda não era o chefe, mas já o apontavam como “gerente de finanças” do bando. Ele foi preso em flagrante com dois seguranças — entre eles, um PM —, dinheiro, armas e cadernos de contabilidade. No plantão judiciário de 1º de novembro de 2015, um domingo, o desembargador Siro Darlan aceitou o argumento da defesa de que a audiência de custódia ainda não havia sido realizada e determinou o relaxamento da prisão. Zinho acabaria condenado, nesse processo, a seis anos de prisão.
Em janeiro de 2017, ele já acumulava mais de 16 anos de prisão em penas e estava foragido quando foi flagrado por policiais civis da 36ª DP (Santa Cruz) cometendo crime ambiental. Segundo a investigação que culminou na Operação Quarto Elemento, deflagrada pelo Ministério Público do Rio em 2018, o miliciano foi detido em seu Porsche Cayenne, avaliado em mais de R$ 400 mil, em frente a um terreno que estava sendo grilado pelos paramilitares, com máquinas revirando o solo.
Zinho foi levado para a delegacia e negociou sua liberdade por cerca de três horas com os agentes. De acordo com depoimento que faz parte da investigação, ele afirmou que seu irmão, Carlos Alexandre da Silva Braga, o Carlinhos Três Pontes, já tinha um acerto financeiro com a delegacia “para não mexer com o pessoal da milícia”. No final das contas, aceitou pagar R$ 20 mil e foi liberado. Para eliminar rastros da prisão, policiais alteraram o registro de ocorrência e apagaram do sistema da Polícia Civil o depoimento de Zinho. Em 2022, o grupo responsável por sua libertação foi condenado a penas de até 119 anos de prisão.
Zinho jamais foi capturado novamente e, em 2021, após a morte de seu irmão Wellington da Silva Braga, o Ecko, assumiu a chefia da milícia.
Ligação entre Zinho e a deputada estadual Lucinha
Investigação da PF e do Ministério Público detectou que ao menos 15 encontros foram realizados pessoalmente em 2021 entre Lucinha, sua assessora e integrantes da milícia Zinho, inclusive com a do próprio em alguns deles.
A relação foi identificada a partir da quebra de sigilo do miliciano Domício Barbosa de Souza, conhecido como Dom ou Professor. A suposta ligação da parlamentar com Zinho fez com que o desembargador Benedicto Abicair decidisse pela imposição de medidas cautelares contra Lucinha e sua assessora. Na decisão, ele elenca cinco momentos em que, a partir das conversas, demonstrou-se sua “interferência (…) ora para favorecer os interesses da malta, ora para protegê-los das iniciativas das autoridades policiais de combate ao grupo”.
Entre os assuntos defendidos por ela, que seriam de interesse do bando, estaria a manutenção de uma “brecha”, que permitia que vans — fonte de renda à milícia — circulassem fora de seu itinerário original. Além disso, pedido de operação contra o rival Danilo Dias Lima, o Tandera, ou intervenções para livrar presos pela polícia teriam ocorrido a pedido do grupo paramilitar.
"Currículo" cruel
Com doze mandados de prisão expedidos em seu nome, segundo o governo do estado, Luís Antônio da Silva Braga, o Zinho, era o miliciano mais procurado do Rio de Janeiro. Sentenças e despachos de magistrados, referentes a decretações de prisões preventivas do bandido, a última delas publicada no último dia 15, apontam-no como chefe do maior grupo paramilitar da Zona Oeste.
Entre os crimes cometidos pelo grupo está a morte do ex-vereador Jerônimo Guimarães Filho, o Jerominho, apontado pelas autoridades como o fundador da milícia Liga da Justiça, criada no início dos anos 2000 por agentes de segurança que moravam em Campo Grande, na Zona Oeste da cidade. O nome referir-se a um famoso grupo de super-heróis. De acordo com o Ministério Público do Rio, Jerominho foi morto por traçar um plano para reassumir a milícia que ajudou a fundar.
Em setembro deste ano, Zinho e outras cinco pessoas foram denunciadas pelo MPRJ após a investigação ser concluída pela Delegacia de Homicídios da Capital. O relatório da polícia aponta que os indiciados faziam parte do grupo do miliciano, mas não aponta sua responsabilidade direta no crime.
Dentre outras acusações, Zinho é apontado em processos como responsável por ordenar o uso de carros clonados para localizar e executar rivais, além de determinar o pagamento de propina a policiais para ser informado de operações. A lista de crimes inclui ainda um esquema milionário de lavagem de dinheiro, no qual Zinho teria usado o nome da mãe de um comparsa para movimentar mais de R$ 4 milhões em uma conta bancária. O dinheiro seria uma pequena parte das extorsões praticadas pelo grupo criminoso. As informações constam de um processo que apura crime de organização criminosa, em trâmite na 1ª Vara Criminal Especializada da Capital.
Caos na Zona Oeste e "nimigo número um" do RJ
Em outubro deste ano, o grupo de Zinho protagonizou uma série de ataques a ônibus pela Zona Oeste do Rio, em represália à morte do segundo nome mais importante do Bando de Zinho, o seu sobrinho Matheus da Silva Rezende, o Faustão. Na ocasião, 35 coletivos foram queimados pelo grupo. A situação gerou um caos na capital fluminense, que teve o trânsito e o transporte público interrompido por horas.
O período foi marcado pela entrada do trabalho da Força Nacional no estado, e o governador Claudio Castro aproveitou a ocasião para afirmar que as forças de segurança não descansariam até que predessem o paramilitar — além de dois outros nomes, o Tandera, e Wilton Carlos Rabelo Quintanilha, o Abelha.