pimenta

"Faz vomitar até o estômago rasgar": os graves riscos do desafio de comer molho picante

Tendência das redes sociais pode, inclusive, aumentar o risco de câncer no esôfago

Vídeos de desafios com pimentas extremamente picantes viralizam nas redes sociais - Reprodução/@Ramizeinn

Uma onda de vídeos de desafios de experimentar pimentas e molhos picantes cresce cada vez mais nas redes sociais. Para quem pensa em tentar, os especialistas alertam: a "brincadeira" pode resultar em vômitos tão intensos a ponto de rasgar seu esôfago, além de cólicas estomacais.

Vídeos virais de pessoas ingerindo pimentas ficaram famosos com programas como o Hot Ones, em que celebridades consomem molhos picantes, enquanto são entrevistadas. A tendência se espalhou pelo TikTok, com desafios com a Pimenta Fantasma, que é 200 vezes mais ardente do que uma jalapeño e reconhecida pelo Guinness World Records, em 2007, como a mais picante do mundo.

Os vídeos em que influenciadores experimentam as pimentas, enquanto choram e ficam com o rosto vermelho, acumulam milhões de visualizações. Em um deles, o usuário que participa dos desafios Rami (@Ramizeinn) prova algumas pimentas fantasmas e acaba com dor. Ele precisa tomar um galão de leite para melhorar.

Com quase 17 milhões de seguidores, o tiktoker também publicou um vídeo em que experimenta as nozes mais picantes do mundo, que são divididas em cinco níveis de intensidade. Ao colocar todos de uma vez na boca, ele começa a chorar e babar.

Veja vídeo

@ramizeinn

Worlds hottest nut #fyp

original sound - Rami


Pode aumentar o risco de câncer
Após ingerir algo picante, muitas pessoas percebem que seus lábios começam a formigar, desenvolvem uma sensação de queimação na língua e começam a suar devido ao calor avassalador. Além dessa sensação temporária de queimação, o consumo de grandes quantidades de molhos picantes e pimentas extremamente ardentes também pode afetar internamente.

O nutricionista da Universidade Aston em Birmingham, Duane Mellor, conta ao Daily Mail que a tendência das redes pode desencadear problemas digestivos e, em casos extremos, até aumentar o risco de câncer.

"Um efeito colateral é o refluxo, quando o ácido do estômago se desloca em direção à garganta. Se isso continuar por muito tempo, pode resultar em alterações em nosso esôfago e aumentar o risco de câncer" explica.

Segundo o nutricionista, o refluxo ácido recorrente pode se transformar na doença do refluxo gastroesofágico, que aumenta o risco de câncer de esôfago. Mellor observa que a combinação de quão picante é o molho e se é consumido como parte de uma refeição ou sozinho determina quão graves são os sintomas de refluxo.

Rasgo no esôfago e diarreia
O consumo de alimentos extremamente picantes também pode causar náuseas, vômitos, movimentos intestinais dolorosos e diarreia. Pessoas com condições intestinais estão mais propensas a esses efeitos colaterais devido à sua sensibilidade aumentada no intestino. Embora geralmente não sejam graves, um relatório de caso de 2016 no Journal of Emergency Medicine detalhou que isso poderia levar a um rasgo no esôfago.

A publicação relata sobre um homem não identificado de 47 anos da Califórnia, EUA, que apareceu no departamento de emergência de um hospital. Ele vomitou e desenvolveu dores abdominais e no peito graves após um concurso de ingestão de pimenta fantasma. Os exames revelaram que ele tinha um rasgo de 2,5 cm no esôfago, devido aos vômitos violentos, e, por isso, ele precisou se alimentar e beber através de um tubo por semanas.

Comer mais pimenta do que se pode suportar também pode desencadear sintomas em pessoas com síndrome do intestino irritável. Um estudo iraniano de 2013 descobriu que pessoas que consomem alimentos picantes cerca de dez vezes por semana tinham 92% mais chances de ter a síndrome, em comparação àquelas que nunca os ingeriam.

Comer sem exagero
As pimentas são uma planta, que contém substâncias químicas vegetais saudáveis que ajudam a apoiar o microbioma intestinal. Um estudo chinês de 2015 descobriu que comer pimentas regularmente pode até mesmo prolongar a vida: aqueles que consumiam alimentos picantes tinham 14% menos risco de morrer precocemente.

Os pesquisadores analisaram dados de quase 500 mil pessoas no país, com idades entre 30 e 79 anos no início do estudo, que foram monitoradas por cerca de sete anos. Na análise de acompanhamento, os cientistas descobriram que o consumo de alimentos picantes estava relacionado a um risco reduzido de morrer por câncer, bem como doenças cardíacas e respiratórias.

"Como praticamente todo alimento, comer muito molho picante pode ter efeitos negativos. Para a maioria das pessoas, consumir uma quantidade moderada não causará problemas. Mas, como regra geral, se um alimento causar desconforto abdominal intenso, você deve parar de comê-lo ou pelo menos reduzir a quantidade" reforça Tim Spector, especialista em epidemiologia e saúde intestinal do Kings College London e co-fundador da ZOE, ao Daily Mail.

Spector acrescenta que consumir comida picante pode ser benéfico, mas o ideal é fazer molhos picantes em casa de forma artesanal e evitar os ultraprocessados.

"Se você está procurando um molho picante, é melhor ler o rótulo e escolher um com uma lista mais curta de ingredientes e menos nomes químicos impronunciáveis — conclui.