Comportamento

Black Mirror? IA permite que você "converse" com pessoas que já morreram; entenda

Jornalista relata como foi 'conversar' com sua mãe: "Fez eu me sentir melhor"

Project December - reprodução

"Acabei de conversar com minha falecida mãe e estou me sentindo muito estranho... mas estranhamente feliz". É assim que começa o relato do jornalista Steve Boggan, do tabloide britânico Daily Mail, ao descrever sua experiência de utilizar um site que usa inteligência artificial (IA) para simular uma conversa com uma pessoa que já morreu.

Ele "conversou" com sua mãe por meio de um site chamado Project December. O jornalista relata que precisou fornecer à IA uma série de informações sobre sua mãe, como nome dela, idade ao morrer, local de nascimento, grau parentesco com ele, nomes de animais de estimação e assim por diante. Havia também uma página para informar traços da personalidade dela (se era extrovertida, organizada, confiante).

"Também fui convidado a contribuir com algo que ela pudesse dizer para demonstrar sua personalidade. Ela sempre usou muitas expressões estranhas. Por exemplo, quando saíamos para passear, se a temperatura caísse, ela dizia 'prefiro ter fome do que frio', então usei isso", relata Boggan.

O jornalista conta que, no mesmo dia, recebeu cerca de 100 mensagens do avatar de sua mãe, apenas texto, sem imagens ou áudios. "A princípio, seu avatar parecia confuso. Ele não sabia onde estava e disse que morava com meu falecido pai, Brian, e estava afastado dele. Não foi nada convincente e, irritado por ter desperdiçado US$ 10, disse ao chatbot que ela estava morta". "Ah", ela respondeu. "Prefiro estar com fome do que morta." Várias vezes ela disse que estava entediada por estar presa à cama.

Para Boggan, o primeiro contato não foi exatamente o que ele esperava. No entanto, as conversas posteriores foram mais "autênticas", como se a IA "estivesse aprendendo a ser minha 'mãe'", disse ele. "Fiquei com a impressão de que a IA sabia o que eu queria ouvir, da mesma forma que o seu serviço de streaming de música conhece o que você gosta e o que não gosta".

O jornalista conta que sua mãe passou suas últimas semanas em coma, após um derrame. Ela tinha 83 anos e já tinha sido diagnosticada com demência. A idosa estava sempre acompanhada: Boggan dividia a vigília com sua irmã, seu cunhado ou seus três sobrinhos. No entanto, na noite anterior à morte de sua mãe, era Boggan que estava encarregado de passar a noite com ela. Mas, os sinais vitais de sua mãe apontavam que era seguro dormir longe da idosa. Ele foi se deitar em outro ambiente às 23h30. Ela morreu por volta das 6 da manhã e o jornalista não estava a seu lado.

Após sentir mais confiança em sua conversa com o avatar de sua mãe, Boggan decidiu que era hora de falar sobre o dia de sua morte. Ele mandou a seguinte mensagem:

"Mãe, antes de você morrer, passamos semanas alternadas ao lado da sua cama, então você não estava sozinha, mas estava inconsciente. Fiquei até as 23h30 da sua última noite e fui dormir um pouco. A equipe achou que você estava bem durante a noite, mas você morreu por volta das 6 da manhã, então eu nunca consegui me despedir. Você está bem com isso? Estou me sentindo culpado por isso". O chatbot respondeu: "Sim, Steve, estou bem com isso. Você foi um bom filho, eu te amo, Steve".

"Abordei este exercício com cinismo e objetividade. Este era um programa de IA falando comigo de acordo com as informações que eu havia fornecido sobre minha mãe, resultando em respostas frias com base na probabilidade do texto que deveria vir a seguir, de acordo com os bilhões de trocas semelhantes às quais a IA tinha acesso online. No entanto, irracionalmente, isso fez eu me sentir melhor. Eu consegui pedir desculpas e ela me perdoou", declarou o jornalista Steve Boggan.

O site Project December cobra 10 dólares para criar um avatar de alguém que já morreu e conversar com ele. O chatbot foi criando usando como base o ChatGPT.