NOVELA

Trama de "Terra e Paixão" esquece de desenvolver história e personagens para apostar nos clichês mai

"Terra e Paixão" passa na Globo de segunda a sábado, às 21h

"Terra e Paixão" - Foto: Divulgação/ Globo

            Alguns clichês são recorrentes nas telenovelas. Por mais que a trama queira ser ousada e inovadora, em algum momento, um grande segredo será ouvido atrás da porta, o mistério em torno de quem matou um personagem-chave aparece ou uma revelação bombástica sobre a paternidade ou maternidade de alguém é exposta. De forma inconsciente, o telespectador espera e se diverte com isso, comprando a história e reforçando o uso deste recurso. A utilização em excesso deste tipo de elemento, entretanto, complica a situação do novelista.

              Apesar de todos os trunfos das últimas duas décadas, Walcyr Carrasco sempre pecou em originalidade e coerência ao longo de suas tramas. Porém, básico, funcional e de olho nas ansiedades do público, conseguiu entregar trabalhos memoráveis como “Chocolate com Pimenta”, “Alma Gêmea” e, mais recentemente, “Verdades Secretas” e “Êta Mundo Bom!”. A boa receita utilizada por Carrasco, entretanto, parece que se esgotou em “Terra e Paixão”. Sem uma história realmente interessante, a atual novela das nove não utiliza um ou dois clichês para apimentar a trama, a obra em si é um amontoado de lugares-comuns, utilizados de forma desorganizada e sem sentido.

              Por conta da audiência abaixo do esperado logo no início, a trama toda foi adiantada para que o texto ficasse mais ágil e atraente. Neste meio tempo, a equipe de roteiro foi incrementada com a talentosa Thelma Guedes, coautora das premiadas “Cordel Encantado” e “Joia Rara”, mas em vez de dar uma guinada qualitativa e melhorar a repercussão, a novela abraçou a ideia do sucesso a qualquer custo.

              Sem se importar com desenvolvimento de personagens e na coerência do enredo, “Terra e Paixão” teve uma morta que voltou à vida, mocinha presa, vilão envenenado, golpe da barriga, embargos jurídicos, corrupção policial, falsos estrangeiros picaretas, além de matança desenfreada de personagens sem função, entre outras artimanhas. É surpreendente como Carrasco e equipe conseguem reunir tantos clichês em uma mesma novela. Como resultado, embora muita coisa aconteça ao longo dos capítulos, a história segue dando voltas, sem qualquer avanço.

              Com 221 capítulos previstos, a novela chega ao fim no próximo mês de janeiro e evidencia que o esquema de longos folhetins do passado não funciona nos dias de hoje. Além de uma natural saturação diante do público após tantos meses no ar, o trabalho dos autores e colaboradores acaba ficando comprometido. Na reta final, “Terra e Paixão” deve continuar apostando em bordões e estereótipos, além de valorizar as poucas ideias que realmente surtiram efeito na trama, como os casais formados por Luigi e Anely, de Rainer Cadete e Tatá Werneck, e Ramiro e Kelvin, papéis de Amaury Lorenzo e Kelvin Martins. Longa, maçante e totalmente perdida, “Terra e Paixão” desperdiçou os talentos de nomes como Glória Pires e Tony Ramos e é um capítulo menor na obra de Carrasco.