CAPRINOCULTURA

Empresa de Serra Talhada, no Sertão, ganha destaque no fornecimento de carne de bode em Pernambuco

Melhoramento genético por parte dos produtores, que resulta em mais carne por carcaça e sabor mais suave, tem feito com que distribuidores como a Bode & Cia. ganhem mais mercados

Robério e Zé Luiz, da Bode & Cia., que distribui aproximadamente seis toneladas de carne por mês - Divulgação

A caprinocultura pernambucana vem se destacando a olhos vistos nos últimos anos no cenário nacional. O Estado tem o segundo maior rebanho de caprinos do País, com 3.225.034 cabeças, de acordo com a Pesquisa da Pecuária Municipal (PPM) de 2022, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE). Fica atrás apenas da Bahia, que, ainda de acordo com a mesma PPM somava 3.716.229 cabeças.

Pernambuco não se destaca, no entanto, apenas pela quantidade. O bode produzido aqui já ganhou status de carne nobre, graças aos investimentos que vêm sendo realizados pelo setor, por exemplo, em melhoramento genético e alimentação, que resulta em mais carne por carcaça e sabor mais suave.

Os investimentos na melhoria do rebanho por parte dos produtores têm refletido, de forma positiva, também nos negócios dos distribuidores, que crescem, ganhando, inclusive, novos mercados fora e dentro do Estado. Neste último caso, um bom exemplo é a Bode & Cia., empresa de Serra Talhada, no Sertão, que tem 25 anos de atividades, começou com apenas 20 clientes e hoje é um dos maiores vendedores de cortes especiais de caprinos e ovinos do Estado.

“A gente não imaginava que chegaria aonde chegou. Crescemos numa proporção muito grande. No começou, não éramos, de fato, uma empresa formal. Meu pai fazia tudo no fundo do quintal, botava na mala do carro e distribuía o animal retalhado, mas foi aprimorando o serviço e conquistando cada vez mais clientes”, lembra o gerente da Bode & Cia., Robério Nogueira de Lima.

Segundo o executivo, os produtos fornecidos por eles aonde chegam são bem aceitos. “Todo mundo que experimenta, volta a comprar”, garante. O segredo para isso, ainda de acordo com Robério, é o cuidado que a Bode & Cia. mantém com os produtos, que são embalados a vácuo, já salgados e retalhados. “São muito práticos: retirou da embalagem, já estão prontos para ser preparados”, acrescenta.

A empresa não tem abatedouro próprio, mas faz algumas exigências aos fornecedores. “Uma delas é que o animal seja novo e tenha entre 17 quilos e 20 quilos”, lembra o fundador e dono da empresa, José Luiz Nogueira, pai de Robério. No caso do bode, o portfólio da Bode & Cia. é diversificado. Inclui, segundo José Luiz, filé (carne de primeira), costelas com e sem osso, carne para guisado, linguiça, buchada, pernil, paleta e sarapatel.

Para ter ideia da capilaridade empresarial – termo utilizado para definir a abrangência de uma empresa no seu mercado de atuação – que a Bode & Cia. conquistou, ela é a principal fornecedora do Bodódromo, complexo gastronômico de restaurantes, lanchonetes e bares, no município de Petrolina, no Sertão, que tem como prato principal a carne de bode e carneiro, servidas em várias versões.

Segundo Robério Nogueira, apenas um dos nove restaurantes e 23 quiosques do Bodódromo não está na lista de clientes deles, porque tem abatedouro próprio. Grandes restaurantes do Recife, como o Entre Amigos e o Mangai, também são compradores fixos da empresa serra-talhadense.

A carne fornecida pela Bode & Cia. já é distribuída para capital pernambucana há anos, graças a um tio de Robério, que mora na cidade e compra mensalmente por volta de três toneladas de bode do total vendido pela empresa, que chega a seis toneladas mensais. A parceria com tio, inclusive, dificulta Robério precisar quantos clientes a empresa tem hoje, já que a Bode & Cia. não possui a relação completa de todos os compradores da capital pernambucana.

Para dar conta da demanda, que vem crescendo cada vez mais, a Bode & Cia. conta hoje com 20 colaboradores, entre retalhadores, serradores, salgadores, embaladores e os profissionais responsáveis pela produção de linguiça.

O último incremento nos negócios se deu em junho de 2018, quando o Assaí Atacadista inaugurou uma loja em Serra Talhada. A Bode & Cia., pela qualidade dos produtos que oferecia, segundo Robério, foi imediatamente convidada a fornecedor à rede de atacadistas para abastecer não só Serra Talhada, mas todas as sete lojas, que o Assaí possuía no Estado naquela época – hoje, são 14 unidades, todas disponibilizando os produtos da empresa a seus clientes.

Com o convite do Assaí, a Bode & Cia. foi obrigada a ampliar suas instalações, o que demandou investimentos da ordem de R$ 200 mil na aquisição de prédios vizinhos e compra de novas câmaras frigoríficas mais modernas e maiores. Eles  ainda não distribuem para mercados fora de Pernambuco, porque possui apenas o selo SIE (Serviço de Inspeção Estadual), que, como o próprio nome diz, só permite que as agroindústrias que manipulam produtos de origem animal comercializem seus produtos exclusivamente dentro da esfera estadual.

Para ganhar outros mercados fora de Pernambuco, a empresa teria que ter o selo Serviço de Inspeção Federal (SIF), fornecido pelo Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), que autoriza não só comercializar em todo o território nacional, mas também para o exterior.

De acordo com Robério, alguns pré-requisitos do Mapa para obtenção do selo SIF ainda são inviáveis à empresa, o que faz com que não haja interesse em expandir para além das fronteiras de Pernambuco. “Eles (o Mapa) exigem, por exemplo, que a gente tenha abatedouro próprio e que as instalações da empresa sejam fora da cidade. É muita burocracia”, justifica Robério.