Irã

União Europeia condena "ato de terrorismo" após explosões que mataram centenas de pessoas no Irã

Duas bombas foram plantadas próximo ao túmulo do general Qassem Soleimani, assassinado num ataque dos EUA com drone em 2020

Qasem Soleimani - Reprodução

A União Europeia (UE) condenou, nesta quarta-feira, as duas explosões que mataram pelo menos 103 pessoas e deixaram 141 feridas, no sul do Irã, próximo ao túmulo do general Qasem Soleimani, assassinado num ataque dos EUA com drone em 2020, e exigiu que os culpados sejam levados à Justiça — nenhum grupo terrorista reivindicou a autoria dos ataques até o momento. As bombas gêmeas explodiram durante uma procissão por ocasião do quarto aniversário de morte do líder militar. O caso foi classificado pelo bloco como "ato de terrorismo" e ocorre em um momento de grande tensão no Oriente Médio, após a morte do número 2 do Hamas, o aliado iraniano Saleh al-Aruri.

"A União Europeia condena com a maior veemência o atentado de hoje na cidade de Kerman, no Irã. A UE manifesta a sua solidariedade para com o povo iraniano. Este ato de terrorismo causou um número chocante de mortos e feridos entre a população civil", afirmou um porta-voz dos Negócios Estrangeiros do bloco em comunicado, acrescentando que "os nossos pensamentos estão agora com as vítimas e as suas famílias."

O presidente iraniano, Ebrahim Raisi, condenou o atentado e disse que os autores "deste ato covarde em breve serão identificados e castigados por seu ato odioso pelas capazes forças de segurança e da ordem pública". Antes de ser identificado como um ataque terrorista pelo vice-governador para política e segurança de Kerman à Irna, as autoridades cogitaram ser um "incidente causado por uma explosão de gás". Um luto nacional foi decretado pelo governo para a quinta-feira.

"Os inimigos da nação devem saber que tais ações nunca poderão perturbar a sólida determinação da nação iraniana", afirmou Raisi em um comunicado.

O gabinete político dos Houthis, milícia iemenita apoiada pela Irã, também condenou os ataques, classificando-os como "bombardeios criminosos" no aniversário do "martírio" de Soleimani.

"Este crime hediondo representa uma extensão de todos os crimes que tentaram minar a República Islâmica, o seu papel no confronto com a arrogância global, a sua adoção da causa central da nação e o seu apoio às forças de resistência na Palestina e no Líbano", afirmou o grupo em uma declaração.

As bombas foram posicionadas próximo à mesquita Saheb al-Zaman, onde está localizado o túmulo de Soleimani, na cidade de Kerman, no sul do Irã. A primeira explosão ocorreu a 700 metros do túmulo do líder militar, e a segunda a um quilômetro de distância.

No momento, multidões de peregrinos visitavam o local, acrescentou a Irna, a televisão estatal iraniana. Eles celebravam o quarto aniversário da morte de Soleimani, morto aos 62 anos em um ataque por drone dos EUA na saída do Aeroporto Internacional de Bagdá, no Iraque, em 2020. Na época, o então presidente dos EUA, Donald Trump, afirmou que foi uma resposta aos ataques contra interesses americanos em solo iraquiano.

As explosões aconteceram com cerca de 10 minutos de diferença uma para a outra, segundo a agência de notícias semioficial do Irã associada à Guarda Revolucionária, Tasnim. A agência de notícias também negou as especulações de que um "oficial sênior da Guarda Revolucionária do Irã" estava entre os mortos na explosão.

Imagens na Internet mostraram multidões tentando fugir do local enquanto a equipe de segurança isolava a área. A televisão estatal mostrou ambulâncias e equipes de resgate no local.



Quem era Qasem Soleimani?
Um dos homens mais poderosos do Irã, Soleimani era conhecido como o "comandante-sombra" do país persa. Ele foi chefe da Força Quds da Guarda Revolucionária, uma unidade de elite do Exército ideológico da República Islâmica que cuida das operações do país persa no exterior e foi considerada uma organização terrorista pelos EUA.

O Pentágono afirma que Soleimani e suas tropas foram "responsáveis pela morte de centenas de americanos e membros do serviço de coalizão e pelo ferimento de milhares de outros". Em dezembro, um tribunal iraniano condenou o governo dos Estados Unidos a pagar US$ 50 bilhões por perdas e danos em decorrência do assassinato do general, considerado herói de guerra e peça-chave no aparato de segurança local.

O ataque que matou Soleimani ocorreu poucos dias após manifestantes invadirem a embaixada dos EUA em Bagdá. De acordo com o Pentágono, Soleimani teria aprovado os ataques. Naquela época, os manifestantes protestavam contra um bombardeio direcionado às bases do grupo Kataib Hezbollah no Iraque e na Síria, em que 25 pessoas morreram.

Os Estados Unidos afirmaram, por sua vez, que a ofensiva foi uma resposta a um ataque de míssil contra uma base militar no Iraque que matou um civil americano. Com a morte de Soleimani, as tensões entre Washington e Teerã aumentaram, e o líder supremo do Irã, aiatolá Ali Khamenei, afirmou que “uma vingança severa” aguardava os “criminosos” responsáveis.