''Não pertenço a nenhuma ONG que utilize de convênio com o poder público'', diz Julio Lancellotti
Sacerdote se pronunciou nas redes sociais após articulação de CPI
O padre Julio Lancellotti se pronunciou nas redes sociais após vereadores do Movimento Brasil Livre (MBL) articularem a criação de uma CPI das ONGs para investigar a atuação do sacerdote em trabalhos sociais com pessoas em situação de rua e em vulnerabilidade na região da Cracolândia, em São Paulo.
Em seu perfil, o padre disse que não pertence a nenhuma Organização da Sociedade Civil ou Organização Não Governamental que seja conveniada à prefeitura capital paulista.
"Esclareço que não pertenço a nenhuma Organização da Sociedade Civil ou Organização Não Governamental que utilize de convênio com o Poder Público Municipal. A atividade da Pastoral de Rua é uma ação pastoral da Arquidiocese de São Paulo, que por sua vez, não se encontra vinculada de nenhuma forma, as atividades que constituem o objetivo do requerimento aprovado para criação da CPI em questão", afirmou Lancellotti, em nota.
De acordo com o padre, a CPI das ONGs teria o objetivo de investigar e fiscalizar as "Organizações Não Governamentais (ONGs) que fornecem alimentos, utensílios para uso de substâncias ilícitas e tratamento aos grupos de usuários que frequentam a Cracolândia", que seriam beneficiadas com convênios em parceria com a prefeitura.
Entenda o caso
O vereador de São Paulo Rubinho Nunes (União Brasil), um dos fundadores do Movimento Brasil Livre (MBL) que deixou a agremiação em outubro de 2022, conseguiu o aval de seus colegas para aprovar a criação da CPI das ONGs na Câmara paulistana. A iniciativa, que obteve 25 assinaturas, mira a atuação do padre Júlio Lancellotti, da Paróquia de São Miguel Arcanjo, que realiza trabalho filantrópico na Cracolândia.
A expectativa é de que a comissão seja instalada no retorno do recesso, que termina em primeiro de fevereiro.
O requerimento inicial mira, principalmente, duas entidades que realizam trabalho comunitário destinado à população de rua e aos dependentes químicos da região: o Centro Social Nossa Senhora do Bom Parto (Bompar) e no coletivo Craco Resiste. Nunes acusa o religioso de fazer parcerias com elas.
Ao Globo, o vereador disse receber "inúmeras denúncias" sobre a atuação de várias ONGs no Centro de São Paulo, que dão alimentos, mas não realizam o acolhimento dos vulneráveis:
— Existe uma chamada máfia da miséria para obter ganhos por meio da boa-fé da população e isso não é ético e nem moral. O padre Júlio é o verdadeiro cafetão de miséria em São Paulo. A atuação dele retroalimenta a situação das pessoas. Não é só comida e sabonete que vai resolver a situação.
À "Folha de S. Paulo", Padre Júlio Lancellotti negou qualquer relação com as entidades e afirmou não fazer mais parte da Bompar há 17 anos. No passado, o padre chegou a atuar enquanto conselheiro.
— Elas são autônomas, têm diretorias, técnicos, funcionários. A Câmara tem direito de fazer uma CPI, mas vai investigar e não vai me encontrar em nenhuma das duas.
Esta não é a primeira vez que o vereador critica o padre publicamente. Em dezembro, o convocou a prestar depoimento na Frente Parlamentar em Defesa do Centro, o que gerou críticas de políticos da esquerda como a presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann.
— As ONGs e demais cafetões da miséria vão ter que se explicar — afirmou Rubinho Nunes na ocasião.
Nas redes sociais, a criação da CPI recebeu críticas de parlamentares e membros da sociedade civil. Na manhã desta quarta-feira, o nome de padre Júlio chegou aos assuntos mais comentados do X (antigo Twitter). O deputado federal Nilto Tatto (PT) foi um dos que demonstrou insatisfação com a iniciativa e ainda alfinetou Rubinho Nunes: "Parece que a cidade de São Paulo não tem nenhum problema que mereça a atenção do vereador", escreveu em seu perfil no X (antigo Twitter).
Já Erika Hilton (PSOL-SP) disse ser um absurdo uma CPI para investigar ONGs que acolhem pessoas em situação vulnerável. "Tinha que ser obra dos mimados e criados a danoninho do MBL", afirmou.