CONFLITO NO ORIENTE MÉDIO

Israel intensifica bombardeios em Gaza em contexto de crescente tensão no Oriente Médio

Os bombardeios não dão trégua após quase três meses de conflito

Menino palestino coleta madeira perto de cemitério danificado por bombardeios em Rafah, no sul de Gaza - Mohammed Abed/AFP

Israel lançou, nesta quinta-feira (4), bombardeios particularmente intensos na Faixa de Gaza dois dias depois da morte, em um ataque no Líbano, do número dois do movimento islamista Hamas, que governa o estreito território palestino, em um contexto de crescente tensão na região.

Os bombardeios não dão trégua em Gaza após quase três meses de conflito. Durante a madrugada, os ataques aéreos atingiram Khan Yunis, no extremo sul do território, uma cidade que tem sido alvo do Exército israelense há vários dias, segundo um correspondente da AFP.

O ministério da Saúde do território, governado pelo Hamas desde 2007, relatou dezenas de mortos e mais de 100 feridos nos bombardeios da madrugada. O grupo islamista afirma que morreram 22.438 pessoas, em sua maioria mulheres e crianças, desde o início da guerra, em 7 de outubro.

O conflito começou após o ataque surpresa de combatentes do Hamas no sul de Israel, quando mataram cerca de 1.140 pessoas, em sua maioria civis, segundo uma contagem da AFP baseada em números oficiais israelenses.

Os combatentes também capturaram cerca de 250 pessoas, das quais 129 seguem retidas em Gaza, segundo as autoridades israelenses.

Em resposta, Israel prometeu "aniquilar" o Hamas e lançou uma ofensiva aérea e terrestre em Gaza.

A guerra multiplicou as tensões na região, onde grupos apoiados pelo Irã no Líbano, Iraque, Síria e Iêmen mostraram sua solidariedade com o grupo islamista palestino, considerado organização "terrorista" por Israel, Estados Unidos e União Europeia.

O secretário de Estado americano, Antony Blinken, viajará nesta quinta-feira para o Oriente Médio, em meio a temores de que o conflito se propague por toda a região.

Giro de Blinken 
Os temores recrudesceram após duas explosões mortais no Irã e o assassinato, na terça-feira no Líbano, de Saleh Al Aruri, o número dois do Hamas.

Tanto o grupo islamista palestino como seu aliado libanês, o Hezbollah, atribuíram o ataque de terça a Israel que, no entanto, não o reivindicou.

Contudo, em Washington, um alto funcionário americano afirmou à AFP que o assassinato de Aruri na periferia sul de Beirute, bastião do Hezbollah xiita, havia sido obra de Israel.

A fronteira israelense-libanesa é palco de trocas de tiros quase diárias desde o início da guerra em Gaza, mas os ataques nunca haviam atingido a capital libanesa.

Uma fonte do Hezbollah anunciou nesta quinta que quatro de seus combatentes morreram na localidade fronteiriça de Nagoura durante a noite. Já são 129 os milicianos mortos em confrontos com Israel nos últimos três meses.

No Irã, cujos líderes clericais apoiam o Hamas, pelo menos 84 pessoas morreram e 284 ficaram feridas, segundo as autoridades, em um atentado realizado na quarta-feira em Kerman.

Washington negou qualquer envolvimento de sua parte e de Israel nessas explosões.

As bombas explodiram em um intervalo de poucos minutos quando uma multidão celebrava o quarto aniversário do assassinato do general Qasem Soleimani por um drone americano em 2020 no Iraque.

Nesse mesmo país, ainda nesta quinta-feira, morreram dois membros da organização pró-Irã Hashd Al Shaabi, entre eles um militar de alta patente, segundo essa facção que reúne várias milícias iraquianas próximas a Teerã.

O governo iraquiano acusou a coalizão internacional antijihadista liderada por Washington e mobilizada no país desde 2014 pelo ataque.

A viagem de Blinken, a quarta na região desde o começo da guerra em Gaza, ocorre nesse contexto. O roteiro de seu giro ainda não é conhecido, além de uma parada que será realizada em Israel.

Em viagens anteriores, o secretário também visitou países árabes.

Morreram "enquanto dormiam" 
Antes do anúncio da visita de Blinken, o porta-voz do Departamento de Estado americano, Matthew Miller, levantou temores sobre a possível ampliação da guerra entre Israel e Hamas à região.

"Não é do interesse de ninguém, nem do interesse de nenhum país na região, ou do mundo, ver este conflito aumentar", disse Miller.

Em Khan Yunis, no sul de Gaza, o Exército israelense afirmou ter bombardeado "terroristas que queriam colocar um artefato explosivo perto de soldados" e um depósito de armas do Hamas.

No necrotério do hospital Nasser, os corpos das vítimas foram colocados juntos aos outros no chão, segundo a AFPTV.

Baha Abu Hatab, em prantos, observava agachado o corpo de seus sobrinhos.

"Foram evacuados para uma plantação agrícola, onde construíram uma tenda para se proteger do frio, mas os bombardeios israelenses os atingiram enquanto dormiam. Por quê? Porque são crianças? Porque ameaçam Israel e os Estados Unidos?", perguntava-se aflito.

Sirenes de alerta soaram em Ascalão, no sul de Israel. As brigadas al Quds da Jihad Islâmica, um grupo aliado do Hamas, anunciaram ter atacado a localidade.

O conflito desatou uma grave crise humanitária na assediada Gaza, onde 80% dos seus 2,4 milhões de habitantes vivem deslocados e amontoados em acampamentos.