Parkinson

Cientistas de Harvard criam dispositivo robótico vestível que melhora a caminhada de paciente

As pessoas que sofrem com a doença relatam que a sensação é de que os pés ficaram presos ao chão

O Parkinson é uma doença neurológica que afeta os movimentos da pessoa - Pixabay

Cientistas da Escola John A. Paulson de Engenharia e Ciências Aplicadas da Universidade de Harvard e da Faculdade Sargent de Ciências de Saúde e Reabilitação da Universidade de Boston, ambas nos Estados Unidos, desenvolveram uma vestimenta robótica que pode solucionar o congelamento da marcha, um dos sintomas mais debilitantes da doença de Parkinson, que afeta cerca de 9 milhões de pessoas no mundo.

O problema, um dos grandes responsáveis pela queda de pacientes com o diagnóstico, ocorre quando o indivíduo perde repentinamente a capacidade de mover os pés, por vezes no meio do passo, impossibilitando que ele ande.

As pessoas que sofrem com a doença relatam que a sensação é de que os pés ficaram presos ao chão.

Os cientistas americanos explicam que até há terapias disponíveis hoje para o sintoma, como medicamentos, porém nenhuma delas é particularmente eficaz.

Por isso, eles desenvolveram uma espécie de equipamento robótico vestível, usado ao redor dos quadris e coxas, que fornece um empurrão suave no paciente conforme a sua perna balança para auxiliá-lo a dar o passo e, consequentemente, caminhar.

O dispositivo foi testado com um paciente voluntário de 73 anos durante um período de 6 meses. Mesmo tendo passado por intervenções terapêuticas como tratamentos farmacológicos e cirurgias, ele ainda tinha cerca de 10 episódios de congelamento por dia, e caía recorrentemente por causa deles. Por isso, dependia de uma scooter, espécie de moto destinada a idosos e pessoas com deficiência motora, para se locomover.

Os resultados do estudo, publicado nesta sexta-feira na revista científica Nature Medicine, mostraram que a nova solução eliminou completamente o congelamento da marcha durante as caminhadas em ambientes fechados, além de permitir que o indivíduo andasse mais rápido e distâncias mais longas.

O efeito foi imediato – o participante não precisou passar por qualquer treinamento antes dos testes. Além disso, mesmo em locais abertos, os episódios de congelamento foram apenas ocasionais durante o uso da vestimenta. O paciente também conseguiu caminhar e falar ao mesmo tempo, algo que não fazia antes.

"Descobrimos que apenas uma pequena quantidade de assistência mecânica da nossa vestimenta robótica macia proporcionou efeitos instantâneos e melhorou consistentemente a caminhada em uma série de condições para o indivíduo em nosso estudo", celebrou Conor Walsh, professor de Engenharia e Ciências Aplicadas em Harvard e coautor do estudo, em comunicado.

Durante uma das cinco avaliações realizadas ao longo dos seis meses pelo estudo, o participante, que não teve o nome revelado, disse aos pesquisadores: — O traje me ajuda a dar passos mais longos e, quando não está ativo, percebo que arrasto muito mais os pés. Isso realmente me ajudou e sinto que é um passo positivo. Poderia me ajudar a caminhar mais e manter a qualidade da minha vida.

Walsh explica que o seu laboratório na instituição trabalha no desenvolvimento de uma tecnologia de reabilitação para mobilidade de pacientes que sofreram com acidentes vasculares cerebrais (AVC) e que vivem com esclerose lateral amiotrófica (ELA) há mais de uma década. Algumas dessas inovações já foram licenciadas e são comercializadas pela empresa ReWalk Robotics.

O dispositivo aumenta a flexão do quadril para ajudar a balançar a perna para frente, reduzindo a energia necessária para andar. Isso é possível por meio de atuadores – aparelhos que produzem movimento, como motores – localizados ao redor da cintura e das coxas.

Eles são conectados por cabo a sensores, que coletam dados de movimento e utilizam algoritmos para estimar a marcha do indivíduo. Com isso, ativam os atuadores para que gerem a força auxiliar necessária naquele momento.

Terry Ellis, presidente do departamento de Fisioterapia e diretor do Centro de Neurorreabilitação da Universidade de Boston, que participou do trabalho, explica que o congelamento da marcha ainda não é um problema totalmente compreendido pela ciência, então o novo aparelho também ajuda a elucidá-lo.

“Como não entendemos realmente o congelamento, não sabemos realmente por que esta abordagem funciona tão bem. Mas este trabalho sugere os benefícios potenciais de uma solução 'de baixo para cima' em vez de 'de cima para baixo' para tratar o congelamento da marcha. Vemos que a restauração da biomecânica quase normal altera a dinâmica periférica da marcha e pode influenciar o processamento central da marcha ao controle”, diz.

Os pesquisadores agora trabalham em novas gerações do dispositivo, que possam eventualmente chegar à prática clínica e se tornar uma nova alternativa para que pacientes com Parkinson recuperem sua independência ao caminhar.