Quem é Ju-ae, filha de Kim Jong-un apontada como provável sucessora da Coreia do Norte
Relatório de inteligência de Seul indica a menina, que teria cerca de 10 anos, como herdeira do ditador; jovem é conhecida como 'respeitada' no pais
A jovem filha do ditador norte-coreano, Kim Jong-un, que frequentemente acompanha seu pai em eventos públicos e testes de mísseis de longo alcance, é a sucessora mais provável de Kim caso ele morra, afirmou a agência de inteligência da Coreia do Sul aos parlamentares do país nesta quinta-feira. Esta é, segundo a BBC, a primeira vez que o órgão reconhece a menina como herdeira do líder.
Embora a Coreia do Norte não revele nenhum detalhe pessoal sobre a filha do ditador, incluindo seu nome, autoridades sul-coreanas a identificaram como Kim Ju-ae, de 10 anos. Descrita pela Agência Central de Notícias do país (KCNA) como a filha “mais amada” do líder, ela é a única dos três filhos de Kim que já teve sua imagem revelada. Estima-se que o filho mais velho tenha nascido em 2010, e a mais nova, em 2017.
A mídia estatal de Pyongyang mostrou imagens de generais militares e outros altos funcionários ajoelhados diante dela, cenas que foram suficientes para gerar especulações entre analistas externos de que ela tem sido preparada como herdeira. Até agora, porém, o governo sul-coreano tem sido cauteloso ao especular sobre o status da menina no regime. Autoridades de Seul diziam não ter certeza de qual criança sucederia Kim após sua morte.
“Até o momento, Kim Ju-ae é vista como a sucessora mais provável”, disse a Agência de Inteligência Nacional, o principal órgão de espionagem do governo sul-coreano, em avaliação divulgada nesta quinta-feira por meio de um integrante da Assembleia Nacional. O órgão alertou, porém, que também considerava “todas as possibilidades” no plano de sucessão do Norte, dadas as “muitas variáveis”.
Além disso, observou que Kim ainda é jovem: ele completa 40 anos na próxima segunda-feira, e não é conhecido por ter problemas de saúde.
Aparição pública é estratégica
Em janeiro de 2023, Hong Min, diretor da Divisão de Pesquisa da Coreia do Norte no Instituto de Unificação Nacional da Coreia, afirmou ao jornal sul-coreano Korea JoongAng Daily que a decisão de expor a filha representa uma medida estratégica de Kim Jong-un. Ele explicou que, a partir desse momento, a identificação da menina passa a não ser apenas uma questão de segurança dentro do país, como também no exterior.
A aparição pública da jovem marca uma ruptura de tradição. Os filhos da família Kim, conhecida como sendo da linhagem do Monte Paektu, eram mantidos distantes do público até atingir a maioridade. A dinastia Kim começou em 1948 com Kim Il-sung, morto em 1994. Depois, a liderança do país foi para seu filho, Kim Jong-il. Este morreu em 2011, e o governo ficou sob responsabilidade de Kim Jong-un.
Enquanto Jong-il foi oficialmente designado sucessor de seu pai em 1980, Jong-un foi anunciado como seu herdeiro em 2008. Sua primeira aparição midiática, porém, ocorreu apenas dois anos depois. Agora, apesar dos riscos, Hong avaliou que a divulgação da menina possa ter sido feita visando causar um “efeito considerável de criação de imagem” capaz de aproximar o líder da população norte-coreana.
— Isso mostra que eles têm uma arma que pode garantir o futuro do país, e apresenta uma imagem do chefe de família e de um líder que garante a segurança de todos os norte-coreanos e seus filhos — acrescentou Hong.
"Intenções de sucessão"
O ministro da unificação da Coreia do Sul, Kim Yung-ho, fez uma avaliação semelhante sobre a filha de Kim em uma coletiva de imprensa em dezembro de 2023. Para ele, o “contínuo destaque” para a jovem “pode ser visto como evidência de que a Coreia do Norte está se apressando para mostrar suas intenções de sucessão em meio a circunstâncias internas difíceis”.
Observadores da Coreia do Norte notaram, ainda, que após ter sido chamada e filha “amada” durante sua primeira aparição pública, em novembro de 2022, ela agora tem sido referida como a “filha respeitada”. O adjetivo é importante porque é reservado para os mais reverenciados do país. No caso de Kim, ele foi chamado de “respeitado” apenas depois de seu status como futuro líder ter sido consolidado.
A Coreia do Norte não é uma monarquia, mas tem tido liderança dinástica desde o fim da Segunda Guerra Mundial, em 1945. Seu principal líder é supostamente eleito por meio de um congresso do Partido dos Trabalhadores governante. Na realidade, porém, os Kims têm governado o país como uma empresa familiar privada desde sua fundação. O avô quanto o pai de Jong-un governaram até a morte.
A questão de quem herdaria o regime — e o arsenal nuclear em rápido crescimento do país — tem fascinado autoridades e analistas. Se Ju-ae substituir o pai como líder, ela seria a primeira governante feminina de um país profundamente patriarcal e dominado por homens. No entanto, especialistas dizem que, dada sua pouca idade, ainda é cedo para dizer se ela irá desenvolver o tipo de qualidades de liderança que seu pai demonstrou ao estabelecer sua autoridade.