Aliados de Trump envolvidos na invasão do Capitólio lideram esforços por impeachment de Biden
Documento aponta que processo contra democrata, aprovado pela Câmara em dezembro, seria uma 'extensão' do ataque golpista
Prestes a completar três anos neste sábado (6), o plano para a invasão do Capitólio segue vivo e à espreita na política americana. É o que sugere um relatório divulgado nesta sexta-feira. O documento denuncia que os mesmos republicanos por trás da tentativa de anular as eleições de 2020, aliados do ex-presidente Donald Trump, lideram agora o processo de impeachment do presidente Joe Biden, aberto em dezembro do ano passado.
O relatório, feito pelo Projeto de Integridade do Congresso e divulgado pelo The Guardian, apontou que esses republicanos, inseridos nos principais cargos políticos do país, continuam insistindo nas mentiras de Trump sobre o processo eleitoral e preparam o terreno para que o bilionário retorne à Casa Branca, no fim do ano. O ex-presidente foi acusado, em agosto do ano passado, de conspirar contra os Estados Unidos por tentar reverter o resultado da eleição presidencial de 2020 e, como parte de um esforço maior, de interferir na contagem de votos do estado da Geórgia.
“Não se enganem: a destituição do presidente Biden não passa de uma manobra política partidária destinada a prejudicar o presidente e ajudar Donald Trump a regressar à Casa Branca em 2024 e é uma extensão, [isto é] não separada, dos acontecimentos de 6 de janeiro de 2021”, destaca o documento.
No processo de impeachment, os republicanos acusam o democrata de usar sua influência quando era vice-presidente de Barack Obama (2009-2017) para permitir que seu filho, Hunter Biden, fizesse negócios suspeitos na China e na Ucrânia. A abertura ocorre ao fim de uma longa investigação movida pelo Partido Republicano, que analistas dizem não ter conseguido reunir provas de nada que se aproximasse de crimes graves ou contravenções.
Apesar das chances para destituição serem praticamente nulas, a investigação pode se tornar uma dor de cabeça para a Casa Branca antes da eleição presidencial, em novembro deste ano, na qual o democrata será candidato à reeleição.
Entre os nomes citados pelo documento estão: o presidente da Câmara Mike Johnson, eleito em outubro para substituir o também republicano Kevin McCarthy, o deputado Jim Jordan, que teve o nome endossado por Trump para concorrer à Presidência da Câmara, e James Comer, líder do Comitê de Supervisão da Câmara, responsável por examinar as negociações comerciais nacionais e internacionais da família Biden, e a deputada Marjorie Taylor Greene, que chegou a ser adepta à teoria conspiracionista QAnon, que alega a tomada da política americana por um complô de satanistas.
"Mike Johnson, Jim Jordan, Marjorie Taylor Greene e James Comer, junto com o próprio Donald Trump, continuam promovendo as mesmas teorias da conspiração desmascaradas pelo Comitê de 6 de janeiro e agora estão liderando a cruzada para impeachment do presidente Biden sem um pingo de evidência de irregularidade", apontou o diretor executivo do projeto, Kyle Herrig.
'Negacionistas eleitorais'
Destacando o papel do agora presidente da Câmara, o relatório aponta que Johnson, porta-voz do MAGA [sigla do slogan "Make America Great Again", de Trump], seria um dos principais arquitetos da negação do resultado das eleições, liderando o movimento na Câmara para anulá-la.
O presidente da Câmara teria afirmado que a votação foi “fraudada” e propagou teorias da conspiração sobre as urnas de Dominion Voting Systems, empresa que fabrica e comercializa urnas eletrônicas nos EUA. O documento aponta ainda que Johnson, sendo do círculo íntimo do ex-presidente, teria encorajando-o publicamente a “manter-se forte e continuar a lutar”.
O republicano teria também pressionado colegas do Texas a apoiarem a ação judicial que buscava anular o pleito com base na premissa inconstitucional de que “a expansão do voto por correspondência durante a pandemia era ilegal”.
No dia 6 de janeiro de 2021, data que marca a tentativa de invasão pelos extremistas ao Capitólio, o relatório destaca o seguinte post feito pelo parlamentar no X (antigo Twitter): “DEVEMOS lutar pela integridade das eleições, pela Constituição e pela preservação da nossa república!” Mais tarde, o deputado votou para anular a eleição, recusando-se a reconhecer os resultados no Arizona e na Pensilvânia.
O documento destaca ainda que o presidente rejeitou a responsabilização pelo ataque, descrevendo os esforços de investigação como “terceiro impeachment” e “puro teatro político”. Ele também teria votado contra a legislação partidária que criaria uma comissão semelhante à do 11 de setembro para investigar a tentativa de golpe.
Meses depois, Johnson teria alegado que o diretor do FBI, Chris Wray, estaria “escondendo alguma coisa” em relação à presença da agência no Capitólio no dia do ataque. O parlamentar endossava uma das teorias da conspiração que circulava entre os extremistas, na qual os agentes do FBI estariam entre aqueles que orquestraram o golpe.
O documento destaca, por fim, que Johnson continua, mesmo após quase quatro anos, espalhando a falsa narrativa de interferência nas eleições americanas, alegando que teriam sido roubadas. Quando questionado em outubro do ano passado se acreditava na alegação de fraude, o republicano apenas respondeu, citado pelo documento, “minha posição é muito clara”.
Jim Jordan, um dos fundadores da bancada ultraconservadora House Freedom e considerado por Johnson como um mentor, é apontado pelo documento como outro político do círculo íntimo de Trump e “peça-chave na conspiração criminosa” para reverter os resultados da eleição de 2020.
Assim como o presidente da Câmara, Jordan teria ajudado a propagar as fake news sobre o pleito. Ele também pressionou o então governo Trump a “rejeitar unilateralmente os eleitores de certos estados” um dia antes do 6 de janeiro. Também se opôs à criação de um comitê para investigar os atos golpistas e a cooperar com qualquer esforço de investigação.
Em dezembro, quando o processo de impeachment contra Biden foi aprovado pela Câmara, o relatório destaca que Jordan chegou a gabar-se de que o movimento estava “impulsionando Trump”, impactando os números das pesquisas de intenção de votos paranovembro de 2024: “Acho que tudo isso junto é o motivo pelo qual você vê os números [das pesquisas] onde eles estão”.
Outros parlamentares, chamados de “negacionistas eleitorais e apologistas da insurreição” pelo documento, são citados, como Scott Perry da Pensilvânia, Paul Gosar do Arizona, Virginia Foxx da Carolina do Norte, Pete Sessions do Texas, Byron Donalds da Flórida, Lauren Boebert do Colorado, Matt Gaetz da Flórida, Troy Nehls do Texas, Andy Biggs do Arizona, Dan Bishop da Carolina do Norte, Greg Steube da Flórida, Tom Tiffany de Wisconsin, Scott Fitzgerald de Wisconsin, e Cliff Bentz de Oregon.
"A ameaça que Donald Trump e seus aliados republicanos do Maga representaram para a nossa democracia há três anos permanece", conclui o relatório, acrescentando: "Os principais atores que pressionam pela destituição agora são praticamente todos iguais aos de 2021, mais uma vez buscando o poder a todo custo — incluindo o destruição da nossa democracia, se necessário."