EUA

Biden acusa Trump de usar linguagem da "Alemanha nazista" no aniversário da invasão do Capitólio

O democrata deve enfrentar o seu antecessor, principal nome para a indicação republicana, nas eleições de novembro

Joe Biden, presidente dos Estados Unidos - Mandel NGAN / AFP

 

EUA, Joe Biden, discursa em Blue Bell, Pensilvânia, em 5 de janeiro de 2024 Foto: MANDEL NGAN / AFP

 

Na véspera do terceiro aniversário do ataque ao Capitólio, o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, acusou seu antecessor, Donald Trump, de usar linguagem "nazista" e de estar "disposto a sacrificar a democracia" americana. As falas do democrata ocorreram durante o primeiro discurso do ano eleitoral nos EUA, no qual Biden buscará a reeleição na corrida pela Casa Branca, tendo o republicano como seu mais provável adversário.

"Ele fala sobre o envenenamento do sangue dos americanos, ecoando exatamente a mesma linguagem usada na Alemanha nazista" afirmou o democrata sobre as declarações de Trump a respeito dos migrantes que atravessam a fronteira com o México.

O evento na cidade de Blue Bell, na Pensilvânia — estado onde o presidente nasceu — estava inicialmente programado para ocorrer neste sábado, 6 de janeiro, para coincidir com o dia em que uma multidão de simpatizantes de Trump invadiu a sede do Legislativo americano para tentar impedir a certificação da vitória de Biden nas eleições de 2020. Contudo, uma iminente tempestade de inverno o obrigou a antecipar o evento em um dia.

Biden também disse que os partidários do magnata "não só abraçam a violência política, como também riem dela", referindo-se à invasão.

"A campanha de Donald Trump está obcecada com o passado, não com o futuro. Ele está disposto a sacrificar nossa democracia e colocar-se no poder"  disse o presidente durante o discurso perto de Valley Forge, um local histórico da Guerra da Independência dos Estados Unidos.

Capitólio em foco
A campanha de Biden considera os eventos de 6 de janeiro como fundamentais para entender como se desenrolará a corrida de 2024. O foco de sua equipe é mostrar que Trump e os republicanos tentaram reescrever a História americana naquele dia, apontando que as imagens do tumulto no Capitólio permanecem gravadas na memória dos eleitores.

"Tentando reescrever os fatos de 6 de janeiro, Trump está tentando roubar a História da mesma maneira que tentou roubar a eleição. Mas conhecíamos a verdade porque vimos com nossos próprios olhos" disse o democrata no discurso.

Para Biden, aqueles que invadiram o Capitólio "eram insurgentes, não patriotas", e que o tumulto foi um "ataque violento", não um protesto pacífico.

Trump, por sua vez, busca usar os eventos de 6 de janeiro a seu favor. Ele continua com a narrativa de que a eleição de 2020 foi roubada dele, numa repetição do grito de guerra que ele deu aos apoiadores naquele dia, quando disse a eles para "lutar como nunca antes", caso contrário, "vocês não terão mais um país".

Quase três anos após o ataque, cerca de 1.240 pessoas já foram presas, enfrentando acusações que variam desde invasão de propriedade até conspiração sediciosa. Até dezembro, aproximadamente 170 pessoas foram condenadas em julgamento, duas foram totalmente absolvidas, cerca de 710 se declararam culpadas (sendo cerca de 210 por crimes graves) e mais de 450 receberam sentenças de prisão, variando de alguns dias a até mais de 20 anos. Mais de 350 casos ainda estão pendentes.

Ainda segundo o Departamento de Justiça dos EUA, a maior parte dos casos foi resolvida sem julgamento, por confissões de culpa.

A pena mais longa até agora, de 22 anos, foi imposta a Enrique Tarrio, ex-líder dos Proud Boys, milícia de extrema direita. Tarrio foi condenado em maio passado por sedição, obstrução da Justiça, conspiração, desordem civil e destruição de propriedade do governo.

As sentenças contra membros do Proud Boys estão entre as mais longas dadas aos extremistas que invadiram o Capitólio, que incluem outra milícia, a Oath Keepers. Trump, que também é investigado pelo seu envolvimento na tentativa de reverter o resultado do pleito, já afirmou em mais de uma ocasião que concederia perdão aos acusados pelo ataque, caso seja eleito presidente em 2024.

Biden x Trump
Alguns democratas criticaram Biden por demorar a iniciar a campanha presidencial. O presidente não conseguiu convencer os eleitores de que a economia está melhorando sob sua gestão. Apesar do crescimento inesperado do emprego em dezembro, ele reconheceu nesta sexta-feira em comunicado que "alguns preços ainda estão muito altos para muitos americanos".

Ele também enfrenta outros obstáculos, como a migração pela fronteira com o México, a divisão em seu partido por seu apoio à guerra de Israel contra o grupo fundamentalista islâmico palestino Hamas ou o bloqueio no Congresso à sua solicitação de mais fundos para a Ucrânia em sua guerra com a Rússia.

A recusa de Biden em mencionar as acusações criminais contra Trump, para evitar parecer que está influenciando o Judiciário, também o privou de uma de suas armas mais poderosas contra o republicano milionário de 77 anos.

Porém, aos 81 anos, talvez a maior vulnerabilidade de Biden seja sua idade, especialmente após uma série de quedas e gafes.

Trump lidera Biden em várias pesquisas, e a aprovação do democrata entre o público é catastrófica. Sondagens da Gallup têm mostrado uma taxa de aprovação abaixo de 40% para o presidente desde outubro. Uma pesquisa do New York Times/Siena College de novembro indicou que Biden perderia para Trump em cinco dos seis estados-chave disputados.