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Boeing 737: avião que voou de 'porta aberta' nos EUA tem histórico de problemas

Questões que afetam os modelos mais modernos estão relacionados ao posicionamento do motor e a altura da aeronave

O modelo Boeing 737 Max não voa mais desde 2019 - Divulgação/Boeing

Uma aeronave Boeing 737 Max 9 da companhia Alaska Airlines perdeu parte de sua fuselagem (estrutura que abriga a cabine de passageiros) no meio do voo nesta sexta-feira, e o piloto precisou fazer um pouso de emergência no Aeroporto Internacional de Portland, no estado de Oregon, nos Estados Unidos. Cerca de 55 anos após sua decolagem inaugural, o modelo 737 permanece como um dos aviões de passageiros de maior sucesso já fabricado, ao mesmo passo que se tornou problemático.

Lançado em 17 de janeiro de 1967, as primeiras versões do 737 chamaram atenção por abrigar os motores sob as asas, como os outros jatos da Boeing. O posicionamento da peça reduziu o ruído e a vibração, além de facilitar a manutenção.

O 737 não tinha seus motores montados em pylons (suportes que prendem a turbina à asa) na frente das asas, como os outros modelos da marca, mas diretamente abaixo delas. Essa escolha dos engenheiros permitiu que a aeronave ficasse bem baixa em relação ao solo, o que facilitava o carregamento da bagagem.

Apesar da resistência de sindicatos por ser a primeira aeronave da Boeing com dois tripulantes, o 737 era o avião mais encomendado da história comercial em 1987. O sucesso foi oriundo da primeira grande reformulação da aeronave: o modelo 737-300, de 1984.

Mais comprido e largo, o avião tinha capacidade para 150 passageiros e foi projetado para enfrentar seu novo rival, o Airbus A320 europeu, lançado no mesmo ano. O fato do 737-300 ter um motor novo e moderno, que não cabia embaixo da asa, representou o primeiro grande desafio para os engenheiros da Boeing.

O problema foi resolvido com a redução do diâmetro da turbina e realocação dos componentes do motor da parte inferior da carcaça para as laterais. A atualização foi bem sucedida e, com isso, os planos iniciais de projetar uma aeronave totalmente nova e mais moderna para substituir o 737 foram colocados de lado.

Alta concorrência e novas atualizações
Com o passar do tempo, novas atualizações parciais foram lançadas pela empresa. Em 2011 foi anunciado o Boeing 737 Max, a quarta geração da aeronave. Ela foi criada para combater o modelo A320neo, da Airbus, que tinha um novo motor mais eficiente em termos de combustível.

A principal dificuldade se deu pelo fato dos motores que a Boeing desejava para o 737 Max não caberem sob as baixas asas do avião. Esse era um problema que a Airbus não tinha, porque o A320 já era muito mais alto do que o 737.

A Boeing optou por adicionar algum comprimento ao trem de pouso dianteiro e montar os motores mais à frente e mais alto nas asas. Mas, a empresa descobriu posteriormente, em simuladores, que o novo design alterou a aerodinâmica do avião, de maneira que o fazia inclinar perigosamente em certas situações.

Numa tentativa de solucionar a questão, a Boeing desenvolveu um sistema de segurança chamado MCAS (Maneuvering Characteristics Augmentation System, ou Sistema de Aumento de Características de Manobra) que empurraria imediatamente o nariz do 737 para baixo caso ele inclinasse muito.

A empresa projetou o MCAS para fazer o 737 Max voar exatamente como os 737 anteriores. Por acreditar que ele entraria em ação apenas em circunstâncias extremas de voo, a Boeing optou por manter o sistema quase em segredo. A breve aula que os pilotos já certificados para os 737 anteriores precisavam assistir para voar no 737 Max não incluiu a explicação do novo sistema.

O 737 Max ganhou a simpatia das companhias aéreas por ser mais econômico de se operar e não exigir treinamento caro de simulação para seus pilotos. Até que dois acidentes fatais ameaçaram a credibilidade da segurança do modelo.

'Porta aberta' e histórico de acidentes
Em 2018, o Voo 610 da Lion Air, um 737 Max 8, caiu no oceano ao largo da costa da Indonésia, matando todos os 189 passageiros e tripulantes. Menos de cinco meses depois, em 2019, o Voo 302 da Ethiopian Airlines caiu pouco depois de deixar a capital da Etiópia, Adis Abeba, matando todas as 157 pessoas a bordo.

Os aviões Max foram suspensos após o segundo acidente. A Boeing fez então alterações no avião, incluindo no sistema de controle de voo por trás dos acidentes, e a FAA o liberou para voar novamente no final de 2020. Em 2021, a empresa concordou em pagar US$ 2,5 bilhões em acordo com o Departamento de Justiça dos EUA, para pôr fim a uma acusação criminal de que a Boeing conspirara para fraudar a agência.

Em dezembro, a Boeing pediu às companhias aéreas clientes que inspecionassem todos os 737 Max em busca de um possível parafuso solto no sistema de controle de direção, após caso descoberto em manutenção de rotina. A Alaska Airlines disse na época que esperava concluir as inspeções de sua frota na primeira metade de janeiro.

Já neste sábado, a Alaska Airlines suspendeu sua frota de aeronaves Boeing 737 Max 9 após um avião perder parte de sua fuselagem no ar. O voo 1282 transportava 171 passageiros e seis membros da tripulação, e seguia de Portland para Ontario, no estado da Califórnia, também nos EUA.

Vídeos que circulam pelas redes sociais mostram o vento forte que passou pelo buraco durante os cerca de 15 minutos que o avião levou para retornar ao aeroporto. Por ele, era possível ver o céu noturno e as luzes da cidade abaixo.

Keith Tonkin, diretor administrativo da Aviation Projects, uma empresa de consultoria de aviação em Brisbane, Austrália, disse que uma diferença excessiva na pressão do ar dentro e fora da cabine poderia ter causado a quebra da parede. Os passageiros provavelmente puderam respirar normalmente, afirmou.

A Boeing informou em comunicado estar “ciente do incidente envolvendo o voo 1282 da Alaska Airlines”, e que “estamos trabalhando para obter mais informações”.

Após o incidente, a Agência Federal de Aviação dos Estados Unidos (FAA) afirmou que vai determinar a suspensão temporária dos voos e inspeções de alguns aviões 737 Max 9 da Boeing operados por companhias aéreas americanas.