GUERRA NO ORIENTE MÉDIO

Forças Armadas de Israel admitem ter realizado ataque que matou jornalistas, mas alegam outro alvo

Uma das vítimas era filho do editor-chefe da redação da Al Jazeera na Faixa de Gaza, que perdeu dois de seus outros filhos, a esposa e um neto em um ataque israelense nas primeiras semanas da guerra

Wael Al-Dahdouh (centro) abraça sua filha enquanto chora a morte de outro filho, Hamza, em Rafah, na Faixa de Gaza - AFP

As Forças Armadas de Israel (IDF, na sigla original) admitiram nesta segunda-feira que realizaram o ataque aéreo que matou dois jornalistas que trabalhavam para a Al Jazeera em Gaza no domingo. Os militares, no entanto, alegaram que o alvo era um terrorista.

"Uma aeronave da IDF identificou e atingiu um terrorista que operava uma aeronave que representava uma ameaça às tropas da IDF", disseram em nota. "Estamos cientes dos relatos de que, durante o ataque, dois outros suspeitos que estavam no mesmo veículo que o terrorista também foram atingidos."

Hamza Wael Dahdouh, repórter da rede Al Jazeera, e seu colega Mustafa Thuria, um cinegrafista freelancer que também trabalhava para outros meios de comunicação, morreram enquanto dirigiam um veículo no sul de Gaza para "fazer um trabalho", disse a Al Jazeera em um comunicado.

— Mustafa Thuria era um operador de drones usado pela Al Jazeera desde o início da guerra, um freelancer. Ele é conhecido como um jornalista operador de drones em Gaza — disse à CNN Waleed al-Omari, chefe do escritório da rede em Jerusalém e Ramallah.

Mustafa era um dos vários jornalistas que tinham ido ao norte de Rafah "para cobrir as consequências de um ataque israelense à casa da família Abu Al-Naja, que matou dezenas de pessoas", acrescentou.

Os jornalistas foram atacados quando voltavam para Khan Younis.

“Os ataques de drones atingiram dois carros, o primeiro veículo, com Hamza e Mustafa e um motorista, e o segundo carro, com o repórter do Palestine Today e um motorista", afirmou al-Omari.

Mustafa e Hamza morreram imediatamente e seu motorista ficou gravemente ferido. Os dois ocupantes do outro carro também morreram. Não há nenhuma indicação de que Mustafa estivesse operando um drone no momento do ataque.

Pressionada pela CNN para saber se eles sabiam que havia um jornalista operador de drone em um dos carros, as Forças Armadas de Israel disseram: "Por enquanto, não podemos entrar em detalhes. Nós lhe informaremos quando tivermos mais informações".

Quinta perda na família
Hamza era filho do editor-chefe da redação da Al Jazeera na Faixa de Gaza, Wael al-Dahdouh. Dois de seus outros filhos foram mortos em um ataque israelense, juntamente com a esposa e um neto, nas primeiras semanas da guerra, que começou em 7 de outubro.

— Espero que o sangue do meu filho Hamza seja o último derramado pelos jornalistas e pela população da Faixa de Gaza — disse Wael, que foi visto abraçando, aos prantos, o corpo do filho em um hospital, no domingo.

Em nota, a Al Jazeera acusou Israel de "atacar sistematicamente" Hamza e "condenou veementemente, os crimes contínuos cometidos pelas forças de ocupação israelenses contra jornalistas e profissionais da mídia em Gaza".

"Essa tendência alarmante exige atenção e ação imediatas da comunidade internacional. Pedimos que o Tribunal Penal Internacional, os governos, as organizações de direitos humanos e as Nações Unidas responsabilizem Israel por seus crimes hediondos e exijam o fim da perseguição e do assassinato de jornalistas, instou a rede de televisão do Catar.

Israel afirma categoricamente que não tem jornalistas como alvo, mas ao menos 79 jornalistas e profissionais de mídia foram mortos em decorrência dos conflitos entre as forças israelenses e o grupo armado palestino Hamas desde o início da guerra, segundo o Comitê para a Proteção dos Jornalistas (CPJ).

O Escritório do Alto Comissariado da ONU para os Direitos Humanos disse nesta segunda-feira que está "profundamente preocupado" com o "alto número" de jornalistas palestinos mortos na Faixa de Gaza.

"Os assassinatos de todos os jornalistas", incluindo Hamza Wael Dahduh e Mustafa Thuria, durante um ataque atribuído ao exército israelense, "devem ser investigados de forma completa e independente para garantir o estrito cumprimento do direito internacional e as violações devem ser processadas", enfatizou o Alto Comissário em uma mensagem na rede social X (antigo Twitter).